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Dia: 3 de Junho, 2016

3 de Junho, 2016 José Moreira

O Padre e a Beata

  1. O padre lamenta-se de ser perseguido por uma beata.
  2. No lugar do padre, também me lamentaria, se fosse perseguido por uma mulher de 66 anos e, ainda para mais, beata.
  3. O padre não quer nada com a beata.
  4. Logo, e pela lógica, o padre rezou a Deus para que o livrasse da beata perseguidora.
  5. Pelos vistos, Deus não ligou ao padre, porque a beata continua a perseguição.
  6. No entanto, outras ilações de podem tirar, a saber:
  7. Rezar não serve rigorosamente para nada, já que não se vislumbram resultados das rezas.
  8. Rezar dá resultado, sim senhores, mas Deus escreve direito por linhas tortas. Ou seja, Deus quer mesmo que o padre salte para a cueca da beata.
  9. No lugar do padre, eu desobedeceria a Deus, pois foi para isso que ele me atribuiu o “livre-arbítrio”.
  10. Além de desobedecer, recorreria à Justiça terrena, já que, ao que se vê, e apesar de tudo, ainda funciona melhor que a divina.
3 de Junho, 2016 Carlos Esperança

A laicidade é um tema incómodo

O uso do niqab e da burqa estão proibidos, em França, desde 2010, lei que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem considerou que não é contrária à Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

Cameron anunciou, já este ano, que pretende apoiar a decisão de abolir tais adereços no Reino Unido.

Há dias, como referi em “A Europa, o véu islâmico e a liberdade”, a advogada-geral do Tribunal Europeu de Justiça, Julianne Kokott, considerou que as empresas podem não aceitar símbolos religiosos no interior das suas unidades e, proibir o véu islâmico, que vulnerabiliza a neutralidade religiosa, aceitando o despedimento da rececionista belga, de uma empresa de segurança, que recusou prescindir dele.

Não falta quem argumente que a medida aprofunda a exclusão e será contraproducente, mas a experiência demonstra que a exibição é cada vez mais a provocação comunitarista que deseja preservar a identidade no desafio à civilização, que abomina.

Dado que as leis se definem pelo carácter geral, é evidente que as empresas e os estados não podem, em nome da neutralidade religiosa, permitir um judeu de kipá a atender um cidadão numa repartição pública ou uma freira com hábito, a exercer enfermagem num hospital.

A cruz romana, a estrela de David e o crescente islâmico que pendem de um fio de ouro, tantas vezes mero objeto de decoração, podem cair sob a alçada legal. Será desagradável e injusto, mas as sociedades que obrigaram à laicidade, condição sine qua non para criar democracias, não podem estar sujeitas às provocações pias e ao proselitismo religioso.

Basta ver o número de imagens da Senhora de Fátima que colonizam as enfermarias dos hospitais, prejudicando a indispensável assepsia, para se ter a noção do proselitismo que usa os doentes para deixarem um testemunho da fé que professam, perante a negligência dos responsáveis hospitalares.

Contrariamente às afirmações hipócritas, com artifícios semânticos, não há moderação ou agressividade na laicidade, porque esta, sendo neutra, não pode ser uma coisa nem outra. E a laicidade é decisiva para opor um dique às guerras religiosas que germinam.