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Dia: 28 de Maio, 2015

28 de Maio, 2015 Carlos Esperança

A laicidade traída

http://nossaradio.blogspot.com/2015/05/e-deus-criou-o-mundo-proselitismo.html.

26 Maio 2015

“E Deus Criou o Mundo”: proselitismo abraâmico na rádio pública

Nas actuais grelhas das Antenas 1 e 2, há um programa falado chamado “E Deus Criou o Mundo“, no qual um moderador (Henrique Mota, ex-director de informação da Rádio Renascença e fundador da editora livreira Principia) vai dando a palavra, ora a um judeu (Isaac Assor, oficiante da sinagoga de Lisboa), ora a um católico (Pedro Gil, director do Gabinete de Imprensa da Opus Dei em Portugal), ora a um muçulmano (Abdul Madgi Vakil, ex-presidente do Banco Efisa e do BPN), que alegadamente não falam em nome das religiões que professam mas a título pessoal. Ainda assim, são as respectivas ideias religiosas (e não outras) as que expõem quando lhes é pedido que se pronunciem acerca de determinado assunto. A primeira questão que um ouvinte que não professa qualquer daquelas religiões (professando outra ou nenhuma) tem de formular é esta: com que critério se cria na rádio do Estado, que estatutariamente é laica e se deve reger por rigorosos critérios de pluralismo, um programa circunscrito a três confissões religiosas, ignorando todas as outras com fiéis residentes em Portugal e – não menos importante – o livre-pensamento? É por se considerar que as três religiões abraâmicas são as que realmente contam e tudo o resto não interessa?
Um programa pondo à mesma mesa o judaísmo, o catolicismo e o islamismo poderia fazer sentido na Idade Média, como forma de estabelecer pontes de entendimento entre fés que embora tendo um tronco comum divergiram para posições dogmáticas praticamente inconciliáveis, mas no século XXI peca por manifesto e indisfarçável anacronismo. Não porque essas religiões deixassem de ter praticantes (se bem que, no caso do catolicismo, a prática ritualista tenha registado um acentuado decréscimo nas últimas décadas), mas por não ser admissível que se ignore todo o pensamento que a Humanidade produziu depois da Reforma Luterana e, sobretudo, a partir do Iluminismo. Por conseguinte, a ausência no programa de um protestante e, ainda mais, de um livre-pensador (agnóstico ou ateu), constitui uma lacuna gravíssima, que urge colmatar. Não é proselitismo religioso (no caso, de matriz abraâmica) que queremos no serviço público de rádio mas que os assuntos levados à antena sejam objecto de uma análise suficientemente ampla e plural, devendo obrigatoriamente de estar representado o livre-pensamento. Só assim os ouvintes ficam em condições de, livremente e sem antolhos, formaram ou alicerçarem a sua opinião sobre determinado tema, em face das ideias e dos argumentos expostos. Coisa bem diferente, portanto, do condicionamento a que vêm sendo sujeitos. E para provar como o livre-pensamento (ou o pensamento não confessional, se se preferir) é de capital importância na análise de qualquer assunto que seja do domínio do humano – e toda a religião existe para dar (ou tentar dar) resposta a inquietações humanas –, aqui se deixa dois textos ensaísticos que Agostinho da Silva publicou em 1942 e 1943, respectivamente, “O Cristianismo” e “Doutrina Cristã”.

O CRISTIANISMO

Por: Agostinho da Silva

28 de Maio, 2015 Carlos Esperança

A Irlanda e o casamento gay

A Irlanda foi, até há duas décadas, feudo do Vaticano. A IVG era interdita, mesmo em casos de violação, malformação do feto ou risco de vida da mãe. Em 1986, a proposta de eliminar a proibição constitucional do divórcio foi submetida a referendo e rejeitada. Só em 1995, uma emenda removeu a proibição, mas com restrições.

Só quando duvidou da virtude dos seus padres descreu do martírio do seu Deus.

A violência dos conventos, cárceres privados para a defesa da integridade de heranças e punição de mães solteiras cujos filhos eram retirados para adoção, associada à hipocrisia do clero, aceleraram o processo de secularização do País que a religião mantivera unido.

A pedofilia eclesiástica alastrou como nódoa imparável, sob a ocultação das dioceses e o silêncio receoso dos pais. Vários bispos defendiam os padres pedófilos e um, apoiante do celibato do clero, protegeu, com dinheiros da diocese, a filha que ocultava.

No dia 22 de maio de 2015, 22 anos depois da despenalização da homossexualidade, o casamento gay foi referendado por mais de 60% de eleitores num país onde a influência da Igreja católica, embora em declínio, parecia forte. Foi aprovado em força (62%). O direito à diferença impôs-se à discriminação e ao preconceito. Venceu a modernidade e a Irlanda foi o primeiro país a abrir as portas aos casamentos gay pela via referendária.

Segundo os exegetas, o Cânone 1331 do Direito Canónico – o Código Penal das Almas –, determina que «não podem casar, batizar-se e nem poderão ter um funeral religioso», os que votaram SIM, mas L’Osservatore Romano – o Correio da Manha do Vaticano –, disse que “Não há anátemas, mas antes um desafio a superar por parte de toda a Igreja”, e o Vaticano e o papa não reagiram oficialmente ao resultado do referendo irlandês.

Desta vez não houve imagens de virgens a chorar lágrimas de sangue, como sucedeu em Oleiros, no primeiro referendo sobre o aborto, em Portugal. O próprio bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco disse que as lágrimas não eram humanas. E não eram, um bispo não mente. Frei Edmundo pôs a imagem da Virgem a chorar lágrimas de sangue… de pomba. Foi apanhado em flagrante. Tomou raticida mas não morreu. O raticida não mata ratos de sacristia.

Acabaram as romarias e oferendas. Frei Edmundo, reincidente em milagres, acabou no Hospital de Sobral Cid, em Coimbra.