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Dia: 15 de Maio, 2015

15 de Maio, 2015 Carlos Esperança

A ICAR atualizou o Índex no tempo de Ratzinger

O Vaticano há muito que deixara de atualizar a lista dos livros proibidos. Condena, para não perder a vocação censória, desaconselha, para fingir autoridade, e vocifera, para impressionar os espíritos mais timoratos. Agora, com o papa Francisco, usa mais a pele de cordeiro sem recusar a indústria dos milagres que embrutece e suporta a superstição.

A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, submetida ao pulso férreo do cardeal Joseph Ratzinger, piedoso inquisidor que se esforçou para que o progresso e a liberdade não fizessem perigar o destino das almas, foi uma pálida amostra do Santo Ofício, que a precedeu, mas deu-lhe para embirrar com o «Código Da Vinci» do escritor Dan Brown, e incluiu o interessante romance policial, que pisca o olho aos eruditos, na lista de obras a «não ler, nem comprar». O apelo foi do cardeal Tarcísio Bertone, aos microfones do Radio Vaticano, a emissora do bairro com potência para ser ouvida através do planeta, mas cujas vozes não chegam ao Céu.

O que incomodava o santo cardeal, além das manipulações da ICAR que o romance desmascarou, era a possibilidade de Jesus ter sido pai de uma filha de Maria Madalena, o que pressupôs o pecado da fornicação cometido pelo impoluto e casto fundador da ICAR.

Assim, ainda que a execração do livro e a proibição da compra contribuíssem para a sua difusão, a Cúria não pôde deixar de atualizar o Índex dos livros interditos sob pena de conferir ao ato sexual uma dignidade que a prática divina lhe outorgava. Deste modo, o «Index librorum prohibitorum» da Igreja Católica ficou enriquecido com um novo título e a sexualidade de novo anatematizada.