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Dia: 28 de Dezembro, 2014

28 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Correio dos leitores

De

Frei Bento

Caríssimo irmão em Cristo: com pedido de publicação no Diário de uns Ateus, remeto, em anexo, um resumo de um extenso relatório por mim elaborado. Esse relatório é fruto de intensos estudos, não só da Bíblia mas também, e principalmente, de documentos existentes nas catacumbas da nossa Abadia e pretende, de uma vez por todas, desmontar a desonesta falácia ateísta de que o Nascimento de Nosso Senhor é uma cópia de outros pretensos nascimentos. Deus só há um, é Aquele e mais nenhum.

Faço notar que este relatório teve a bênção do nosso venerável Abade Faria, também auto-intitulado Abade de Priscos, tendo merecido o “Enviatur”, que veio, graças às novas tecnologias, substituir o arcaico “Imprimatur”.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

***

Natal, e tal…

Caríssimos irmãos em Cristo, eu vos abençoo em nome do Pai, natural e compreensivelmente babado e ainda a distribuir charutos por tudo quanto é santos, anjos, arcanjos, serafins e querubins, e que até deixou Satanás tirar umas passas de ganza, do Filho, que berra como um desalmado quando não está a chupar nas tetas da Maria, e mama como se fosse morrer já a seguir, o que todos sabemos não ser verdade, ainda demorou mais de trinta anos mas Ele ainda não sabe, e tem dado uma trabalheira do caraças, porque fica com cólicas provocadas pelos gazes e a desgraçada da Maria é que tem de andar de noite com o puto de cu para o ar para ver se ele se peida e alivia a tripa, e do Espírito Santo, que tem andado escondido, não se sabendo se por razões celestes ou terrenas.

Amém.

Por esta época, alguns ateus ignorantes ou malformados, ou ambas as coisas, que essa gentalha é perita em malformações e ignorância, aparecem aí a comparar o nascimento de Jesus Nosso Senhor com toda essa catrefada de deuses – Mitra, Apollo, Soyuz, Hórus, eu sei lá! Esquecem-se, ou não querem saber, que Satanás encenou tudo para que o Nascimento, assim com letra maiúscula, fosse tido como uma cópia dos “nascimentos” dos tais deuses. Foi ao contrário, e só um filho da puta daqueles é que era capaz de engendrar o “mimetismo diabólico”. Mas não nos alonguemos. Porque podem os ateus correr e saltar: esses pretensos “nascimentos” nunca existiram!

Os evangelhos não mentem, e nós, frades neo-Goliardos em busca do transcendente, não andamos aqui para enganar ninguém. Basta ler Lucas e Mateus e analisar, por exemplo a árvore genealógica de Jesus para concluir, sem o menor vislumbre de dificuldade, que ela só poderia ter sido elaborada após rigorosos estudos científicos e infindáveis pesquisas pelos registos civis lá do sítio. Ali não falha nada, pelo contrário: até há antepassados a mais, para o que der e vier.
Adiante.

Pois os ditos evangelhos mencionam, com o mesmo rigor com que descrevem as também ditas árvores genealógicas, a presença de uma entidade incontornável, mas ainda não é por aí que eu quero ir.

Jesus Nosso Senhor nasceu à meia-noite do dia 24/25 de Dezembro, ponto final. Há registos em iluminuras, gravuras, e até um primoroso fresco pintado a óleo sobre tela, de autor desconhecido, que mostram São José que, na altura era José “tout-court” uma vez que o São só apareceu após a devida defunção, como vem sendo rigorosamente tradicional na Igreja, dizia eu que há registos pictóricos de José contemplando, alternadamente, as estrelas para ver as horas, e a genitália de Maria, para ver se o puto nascia à hora consagrada nas Escrituras Sagradas. Pois bem, e era aqui que eu queria chegar, os Evangelhos, com o rigor que lhes conhecemos, atestam sem margem para dúvidas que os primeiros a chegar junto ao Menino, estava Maria a mudar a fralda da primeira cagada, foram os pastores. Os pastores, senhores! Como sabeis, ou deveríeis saber, naquele tempo era normal os pastores andarem de noite, não só porque a erva era mais tenra entre as vinte e três horas e as duas da manhã, mas também porque os pastores aproveitavam para ir tomar vez para tirar senha para a consulta na Caixa, pois o Serviço Nacional de Saúde local ainda não tinha sido inventado e, muito menos, destruído. Naturalmente, não se pode destruir uma coisa que nem sequer está inventada. E agora digam-me, senhores: em que “nascimento” dessa catrefada de deuses aparecem os pastores? Vá, respondam! Eu digo: em nenhum. Pois se não houve pastores, também não houve nascimentos.
Acho que ficam devidamente elucidados.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

Abadia, aos 25 de Dezembro de 2014

28 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Os monoteísmos e a violência

As religiões provaram ao longo dos séculos a sua nocividade e falsidade, sobrevivendo através dos interesses instalados e de constrangimentos provocados. Os sistemas criados mantêm os povos na sujeição do clero e a intoxicação começa à nascença.

Os monoteísmos distinguiram-se pela sua intolerância e inquinaram as sociedades onde se consolidaram. Nem a modernidade os conseguiu implodir. De um livro da Idade do Bronze, o Antigo Testamento, de matriz hebraica, surgiu o judaísmo cujos seguidores residuais (cerca de 18 milhões) ainda creem na Conservatória do Registo Celeste, onde estará guardada a escritura que lhes garante direitos imprescritíveis sobre a Palestina.

Paulo de Tarso fez a única cisão bem conseguida do judaísmo, criando a primeira seita de vocação global, que o Imperador Constantino imporia com inaudita violência como a religião do Império Romano, a que serviu de cimento.

O catolicismo romano só viria a reconhecer a liberdade religiosa na década de sessenta do século XX, durante o Concílio Vaticano II. Nem o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa o conseguiram vergar.

No entanto, o mais implacável dos monoteísmos, o Islamismo, fez da cópia grosseira do cristianismo com laivos de judaísmo, um inflexível é totalitário código de conduta que se agrava com a decadência da civilização árabe mas mantém, no seu primarismo dos 5 pilares, um poder de sedução a que não são alheios radicalismos em certas idades e em várias fases da adolescência de indivíduos que vivem à margem dos valores humanistas que a Europa herdou do Iluminismo e da Revolução Francesa.

Se as democracias continuarem a abdicar da laicidade, única forma de conter o carácter prosélito dos dois últimos monoteísmos, em especial o Islão, ficam desarmadas contra os surtos terroristas de superstições à escala global, que se reclamam da vontade divina para imporem aos outros o que só têm direito de usar como crença doméstica.

O proselitismo é a mais nefasta nódoa das crenças e a laicidade o único antídoto para o conter.

28 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Hoje há Igrejas piores.

Anselmo Borges, padre, doutorado em Filosofia e professor da Universidade de Coimbra fala da miséria moral em que a Igreja Católica esteve mergulhada, das mudanças operadas e expectáveis de Francisco e defende o fim do celibato obrigatório dos padres e da condenação de divorciados e homossexuais.

O pretexto foi o livro “Deus ainda tem futuro?”.

Diário de uns Ateus – A humanização e modernização das Igrejas não as torna verdadeiras mas podem contribuir para um menor sofrimento imposto à Humanidade.