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Dia: 10 de Outubro, 2014

10 de Outubro, 2014 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” (4/5)

Crónica Ateísta de Onofre Varela 

O meu Ateísmo

Na intenção de me apresentar aos leitores, vou falar das razões que me levaram a ser ateu.

Todos nós nascemos analfabetos e aprendemos a ler e a escrever com o evoluir do entendimento. Do mesmo modo sentimos a religiosidade presente na família e transmitida pela sociedade que nos produz, formata e educa. Tal como a maioria dos portugueses, também eu frequentei a catequese. Mas por pouco tempo. O meu pai, republicano, deixou por minha conta seguir, ou não, uma religião. Não segui, porque me interrogava sobre a divindade, e a catequista não me dava respostas satisfatórias. A interrogação é a causa primeira que nos leva a sermos, ou não, militantes religiosos.

No cumprimento do serviço militar em Angola, senti a morte rondar por perto e percebi o sentimento de religiosidade dos meus camaradas que rezavam na esperança de que Deus desviasse as balas que viessem nas suas direcções. Percebi que Deus estava nas suas cabeças, mas não fora delas… por isso nunca receberiam nada daquela procedência. Só se chega a esta conclusão quando não se tem o cérebro tomado pela crença… e eu não tinha.

A partir daí interessei-me pela Antropologia Religiosa e interroguei os meus camaradas sobre as suas crenças. No regresso à vida civil, li filósofos, pensadores, cientistas, a Bíblia e o Corão, assisti a missas, falei com crentes de base e sacerdotes, e comecei a construir o meu entendimento do fenómeno religioso. São muitos os porquês que me inquietam. O que levou o Ser Humano a criar deuses? Sem Mitologia não temos identidade? Porque há tanta gente a arrastar-se em lugares que dizem sagrados? Sendo Deus um conceito criado pelo Homem, o que é que faz com que uma pessoa culta e licenciada (médico, por exemplo), tenha, pelo conceito do divino, a mesma devoção de um analfabeto?!… Será que o licenciado não aprendeu nada, ou o analfabeto sabe muito?! Todas estas questões me inquietam, e aos 40 anos reconheci que, realmente, sou ateu.

Aos 70 continuo interrogativo e gostaria de saber o porquê de eu me interrogar sobre o tema, e de a maioria dos meus semelhantes devotar-lhe um tal “respeito sagrado” impedindo o questionamento da religião e da própria fé!…

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)