A galáxia terrorista que dá pelo nome de Al-Qaeda não é a mera associação criminosa com gosto mórbido pela morte, é uma nebulosa de fanáticos que creem no Paraíso e nas virgens que julgam aguardá-los no estado miserável em que chegam.
Não têm uma ideologia, uma lógica ou um objetivo claro, pretendem apenas agradar a um Deus de virtude duvidosa e ao profeta em defunção, desde o ano 632 da era vulgar.
A demência ganhou ímpeto em 11 de Setembro de 2001, nos ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque e ao Pentágono, em 11 de Março de 2004, na estação ferroviária de Atocha, em Madrid, nas explosões em estâncias de veraneio, nas embaixadas dos EUA e no Metro de Londres, em 7 de Julho de 2005.
Por toda a Europa, seja a pretexto das caricaturas de Maomé ou de um livro considerado blasfemo, surge a violência enquanto a rua islâmica ulula e ameaça.
Não vale a pena iludirmo-nos com a bondade do Islão quando os clérigos pregam o ódio e apelam ao martírio. Os países democráticos não se libertam do complexo da culpa das cruzadas e da evangelização e tratam o terrorismo religioso com excessiva brandura.
Um templo onde se prega o ódio é um campo de treino terrorista. Um clérigo que apela à violência é um criminoso que deve ser julgado.
Os japoneses que viam Deus no Imperador, imolavam-se em seu nome mas, perdidas as fontes de financiamento e desarticuladas as redes de propaganda, abdicaram do suicídio e da imolação com aviões e torpedos que dirigiam contra alvos inimigos.
É tempo de conter a ameaça que paira sobre a civilização e a democracia, sem sacrificar o Estado de direito, sem abdicar das liberdades e garantias que definem a nossa cultura.
Mas não podemos hesitar na luta contra o financiamento e proselitismo ideológico que grassa entre fanáticos de várias religiões. Não são famintos em desespero, são médicos, pilotos e académicos que buscam o Paraíso através de crimes contra os infiéis.
É preciso contê-los.
Faz hoje 40 anos que um sombrio general, Augusto Pinochet, derrubou o Presidente do Chile, Salvador Allende, eleito democraticamente, e iniciou a longa e sinistra ditadura que permanece como paradigma da crueldade, do arbítrio e da barbárie.
Em homenagem a muitos milhares de desaparecidos, torturados, presos e assassinados, não podemos esquecer a data e o algoz que perdeu na última semana de 2005 o recurso no Supremo Tribunal e enfrentou várias acusações na sequência do desaparecimento de 119 membros de um grupo da oposição durante o seu regime.
De 1973 a 1990, entre o golpe que derrubou o Governo legal e o seu afastamento do poder, Pinochet foi responsável pela morte e desaparecimento de mais de 3.000 pessoas.
Depois da descoberta de contas secretas nos EUA, com vultuosas quantias obtidas de forma fraudulenta, num valor superior a 24 milhões de euros, o velho déspota conheceu o opróbrio e a prisão. Nem o apoio empenhado de João Paulo II e Margaret Thatcher lhe valeu.
Longe iam os tempos em que afirmava que no Chile nem uma folha se mexia sem o seu conhecimento.
Quando João Paulo II, amigo do peito e da hóstia, visitou o Chile, considerou o pio general e a Esposa como um casal católico modelo. Apenas lhe notou a devoção, não lhe perscrutou a crueldade.
A polícia secreta do general Augusto Pinochet liderou uma rede de espionagem, dentro e fora do Chile, que cruzava informação com o Vaticano, o FBI, e com outras ditaduras da América Latina. Foi essa polícia e as Forças Armadas que permitiram ao ditador, sob uma repressão feroz, impor ao Chile as receitas económicas de Milton Friedemann.
A Constituição da República Portuguesa não determina que o Estado seja obrigado a prestar assistência religiosa aos portugueses nem diz que a mesma é tendencialmente gratuita, com ou sem taxa moderadora.
A sustentação do culto é um dever dos crentes, através do dízimo, da côngrua ou de qualquer outra forma de pagamento, por prestação de serviços, e nunca comparticipada a 100% por serviços do Estado, seja nas Forças Armadas, nos hospitais ou nas prisões.
Ao Estado incumbe o dever de assegurar a liberdade de culto a todos os crentes, em igualdade de circunstâncias e, ao mesmo tempo, defender o direito dos cidadãos a terem a religião que quiserem, enquanto entenderem, sem risco de mudança, de apostasia ou, mesmo, de serem hostis.
A promíscua ligação da ditadura salazarista à Igreja católica, através da Concordata, dava ao Governo o direito de recusar os bispos que a Igreja propusesse para as dioceses, mas legou ao país uma série de capelães pagos pelo erário. A democracia prescindiu do veto à nomeação de bispos mas a Igreja não prescindiu das capelanias e alargou-as às forças policiais.
O contra-almirante Pe. Manuel da Costa Amorim, indicado pela Conferência Episcopal Portuguesa, é o comandante-chefe dos católicos fardados e o único general que é subordinado do Estado do Vaticano e não do Estado português, uma perda de soberania absolutamente inaceitável.
O número de capelães aproxima-se de 200. Num estado laico estão todos a mais.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.