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Dia: 3 de Novembro, 2011

3 de Novembro, 2011 Ludwig Krippahl

Compatíveis… pois…

John Haught, teólogo católico, é um dos defensores da tese de que a fé (católica) é compatível com a ciência. Jerry Coyne, biólogo ateu, é um dos defensores da tese contrária, de que ciência e religião não são compatíveis. No dia 12 de Outubro falaram ambos num simpósio sobre este tema, a compatibilidade entre ciência e religião.

John Haught fez o que os teólogos costumam fazer. Alegou haver várias interpretações metafóricas de crenças religiosas que não são incompatíveis com aquilo que a ciência propõe serem os factos. Que existe algo divino e transcendente, que há um sentido último, sempre misterioso, que o podemos sentir pela fé mas nunca compreender pela ciência e coisas assim. Mas evitou sempre a questão essencial. É irrelevante que seja possível fazer afirmações gratuitas que, não dizendo nada em concreto, também não contradizem a ciência. Ou o que quer que seja. O problema é que a ciência não é compatível com a decisão de ter fé em tais coisas.

O Jerry Coyne perdeu algum tempo a falar dos malefícios do cristianismo, o que não é muito relevante para a questão de ser ou não compatível com a ciência, mas focou o principal. A ciência é um processo que usa a dúvida para evitar encravar nos erros. Principalmente no auto-engano. Se questionarmos qualquer alegação, procurarmos hipóteses alternativas e só cedermos a nossa confiança, com relutância e provisoriamente, àquelas hipóteses que a isso nos obrigarem pelo peso das evidências, sempre vamos corrigindo os erros. Não podemos evitar errar, mas pelo menos temos a possibilidade de notar quando erramos e a disposição para o admitir e escolher alternativas. E isto é incompatível com a fé. A fé é a confiança dedicada e persistente na crença de que as coisas são como se julga. A ciência é a dúvida rigorosa e sistemática que vai moldando as crenças àquilo que as coisas são.

O vídeo das duas intervenções está disponível no site do simpósio (1). Mas foi por pouco. Numa atitude pouco compatível com o debate aberto que é essencial em ciência, e mais próxima da prepotência que as religiões manifestam sempre que podem, John Haught inicialmente impediu a divulgação do vídeo (2), alegando que «a discussão em Kentucky raramente se elevou ao nível de um encontro académico»(3). Apesar de ser apenas um incidente pontual, esta atitude de Haught é mais um exemplo da incompatibilidade entre querer saber e ter fé que já se sabe. É verdade que há cientistas religiosos. É verdade que se pode apresentar algumas crenças religiosa de forma tão vaga e abstracta que nada as possa contradizer. Mas a disposição para ajustar as ideias às evidências é incompatível com a dedicação incondicional a uma crença.

Em simultâneo no Que Treta!

1- 2011 Bale-Boone Symposium Videos, Science and Religion: Are They Compatible?
2- Why Evolution is True, Theologian John Haught refuses to release video of our debate
3- Why Evolution is True, Under pressure from blogosphere, Haught explains and relents

3 de Novembro, 2011 Abraão Loureiro

Ateus adotam nova estratégia: ir a público

Dois meses após uma organização ateia local colocar um cartaz dizendo: “Você não acredita em Deus? Você não está sozinho”, os 13 membros do conselho do grupo reuniram-se na sala de Laura e Alex Kasman para lidar com as consequências.

O problema não foi que o grupo, os Humanistas Seculares de Lowcountry, tinha virado alvo de hostilidades. Foi o oposto. Mais de 100 pessoas apareceram para seu simpósio público, e os membros do conselho estavam discutindo se não era hora de encontrar um espaço maior.

E agora os pais estão pedindo programas orientados para a família, nos quais possam se reunir com outros ateus de mente parecida.

“Todo mundo é a favor de patrocinar um piquenique para humanistas com famílias?”, perguntou o presidente do conselho, Jonathan Lamb, meteorologista de 27 anos, ouvindo um coro de “sim”.

Mais do que nunca, os ateus dos EUA estão se unido e se expondo – mesmo aqui na Carolina do Sul, lar da Universidade Bob Jones, das Leis Blue e de uma câmara legislativa que no ano passado aprovou unanimemente uma placa de carro cristã com uma cruz, uma janela de vitrais e as palavras “Eu Acredito”. (A medida foi vetada por um juiz e agora irá a julgamento.)

Eles estão se conectando via Internet, fazendo reuniões em bares, colocando anúncios em cartazes e ônibus, se voluntariando para cozinhas comunais, catando lixo na beira da estrada e conquistando o reconhecimento de grupos ateus em avisos para adotar uma estrada. Eles comparam sua estratégia com a do movimento dos direitos homossexuais, que cresceu quando os membros da minoria marginalizada decidiram ir a público.

“Não é uma questão de protestar. A coisa mais importante é sair do armário”, disse Herb Silverman, professor de matemática do Colégio de Charleston, que fundou o grupo dos Humanistas Seculares de Lowcountry, que tem cerca de 150 membros na costa das Carolinas.

As pesquisas mostram que as fileiras de ateus estão crescendo. Na Pesquisa de Identificação Religiosa Americana, grande estudo publicado no mês passado, o único grupo demográfico que cresceu em todos os 50 Estados nos últimos 18 anos foi o dos “sem religião”.

Continue lendo aqui (publicado no Ceticistmo Net)

 

3 de Novembro, 2011 Carlos Esperança

A ICAR e a política espanhola

A Igreja católica e o franquismo viveram tão harmoniosamente que o silêncio foi a nota dominante perante os crimes cometidos: execuções sumárias, roubo de crianças a quem assassinavam os pais, perseguições, prisões, enfim, uma ditadura cruel comparável às de Hitler e Estaline. Nem os padres republicanos, quando foram executados, encontraram compaixão nos cúmplices de Franco.

Não me refiro à crueldade, praticada pelos dois lados da barricada, durante a guerra em que a República, saída das eleições, foi derrubada com a bênção do Vaticano. A sedição e os crimes cometidos foram equiparados a uma Cruzada pelo papa de turno, que ainda considerava as Cruzadas como acções pias. O futuro santo Escrivà foi um apoiante que seguiu Franco no ataque a Madrid.

A Igreja católica digeriu mal a democracia espanhola, como é natural, e os bispos não desistiram de abanar as mitras e agitar os báculos sempre que as leis acompanharam a modernidade e puseram em causa os seus preconceitos. Não hesitaram em ocupar as ruas, invadindo Madrid com sotainas, beatos e protestos, quando as leis do divórcio, do aborto e do casamento entre indivíduos do mesmo sexo foram votadas. E não aceitaram  que a liberdade fosse levada às escolas do estado, tornando facultativa a frequência das aulas de religião.

Nas últimas eleições municipais e autonómicas a ICAR concorreu às eleições através do PP numa irritação ruidosa contra o PSOE, tal como havia feito no tempo de Aznar. Zapatero ainda fez numerosas cedências, particularmente no campo financeiro, um acto que a Igreja costuma apreciar. Nem a neutralidade conseguiu.

No próximo dia 20, dia das eleições gerais, com a rotatividade partidária assegurada e a certeza de que entre os democratas de direita se escondem ainda os franquistas, a Igreja apresenta-se às eleições apoiando o PP. A Conferência Episcopal  já aconselhou os eleitores católicos «para que não caiam em erros que podem levá-los a votar uma opção que não esteja de acordo com a sua fé». A mensagem será difundida nos confessionários e nos púlpitos de milhares de paróquias, à semelhança do que o Islão faz nas madraças e nas mesquitas.

A vitória da direita será também a do clero que, há duas legislaturas, rumina a raiva que nutre pelo PSOE. É curioso que uma Igreja tão prosélita não tenha percebido ainda que a juventude espanhola está cada vez mais longe do pensamento do clero e indiferente aos santos destinados a Espanha que o Vaticano tem fabricado em doses industriais.

A vitória partidária da Igreja católica prenuncia o requiem pela sua influência política.