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Dia: 5 de Setembro, 2010

5 de Setembro, 2010 Ludwig Krippahl

Treta da semana: Mexe? Nah…

No dia 6 de Novembro vai haver uma conferência interessante no Indiana, EUA. É a “Primeira Conferência Católica sobre o Geocentrismo” (1). Segundo o cartaz, Galileu estava enganado e a Igreja Católica é que tinha razão. O programa promete. O “Dr.” Robert Sungenis, mestre em teologia pelo Seminário Teológico de Westminster, começa com a sua palestra “Geocentrismo: eles sabem mas estão a escondê-lo”. Os maganos… isso não se faz.

Segue-se uma introdução à mecânica do geocentrismo, e depois vem o Dr. Robert Bennett com experiências científicas que demonstram que a Terra está parada no espaço. Estas experiências devem ser fascinantes. Há também evidências bíblicas do geocentrismo – nestas coisas “evidência” inclui as fantasias de tribos antigas – e, como não podia faltar, o Carbono 14 para demonstrar que a Terra é um planeta jovem. A idade da Terra não tem nada que ver com o geocentrismo mas, treta por treta, que venham também as do criacionismo. E tudo isto por uns meros cinquenta dólares com almocinho incluído. Se fosse aqui perto (e só o almoço) talvez eu até lá fosse.

Na conferência estará à venda o livro de Sungenis e Bennett, Galileo Was Wrong: The Church Was Right, uma obra em dois volumes. O argumento central, se argumento se pode chamar, parece ser que a física permite estipular qualquer referencial onde medir coordenadas (2). O que é verdade, mas eu diria ser mais um argumento contra o geocentrismo do que a seu favor, visto não dar qualquer razão para considerar a Terra como estando no centro do universo. E até dá boas razões contra escolher esse referencial.

Num sistema de referência inercial as expressões são mais simples. Se medirmos as coordenadas num sistema de referência que acelere ou rode em relação a sistemas inerciais, temos de acrescentar forças fictícias para descrever as trajectórias e a expressão das mesmas leis da física torna-se muito mais complexa. Por exemplo, a figura abaixo mostra as órbitas de Mercúrio, Vénus, Terra e Marte representadas, da esquerda para a direita, em relação ao Sol, em relação a um referencial centrado na Terra mas sem rodar, e num referencial na Terra rodando com esta (3).

complicar o simples

Como é normal nestas coisas, o geocentrismo massaja o ego de quem não consegue admirar o universo pelo que ele é – naturalmente indiferente às nossas preferências ou inseguranças – em detrimento de uma descrição correcta, rigorosa e sucinta. Mas, para mostrar que tenho aprendido umas coisas no diálogo com os defensores da teologia, decidi concluir este post com uma apologia do modelo geocêntrico.

Fisicamente, o geocentrismo não faz sentido. Mas, ainda assim, é uma certeza metafísica pelo mistério da fé. Como a transubstanciação da hóstia e a virgindade de Maria. E sendo a fé um complemento da razão, estas nunca podem contradizer-se e é impossível interpretar a doutrina geocêntrica de forma a contradizer a ciência. Temos de considerar vários níveis de interpretação, como o arbitrário e o fictício, para interpretar o geocentrismo e poder afirmar que a Terra está imóvel no centro do universo sem contradizer, de forma alguma, a ciência que afirma precisamente o contrário.

E, se for preciso, podemos chamar a atenção dos cientistas para um aspecto fundamental de qualquer questão acerca do universo. A jurisdição. Tal como a origem do universo, a existência de deus e a aparição milagrosa de vários defuntos, a posição da Terra é um problema teológico e não científico. Por isso os cientistas não podem dizer que o universo surgiu sem precisar de um deus nem dar dicas acerca da posição da Terra. Esses são assuntos que não lhes dizem respeito.

1- Galileowaswrong.com. Obrigado à Ana Luísa pela informação, os momentos de incredulidade e o facepalm quando, umas googladelas depois, descobri que era mesmo a sério.
2- Catholic Truths, Geocentrism 101. (Mas confesso que não tive pachorra para ler tudo…)
3- O código fonte, para Octave, está aqui. As unidades dos gráficos são em centenas de milhões de kilómetros, mais ou menos alguns zeros caso me tenha enganado. Os gráficos são para 690 dias terrestres, que é um ano de Marte, com um ponto por dia excepto no último, onde calculo 6 pontos por dia para contar com a rotação da Terra.

Em simultâneo no Que Treta!

5 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

Dúvida metódica

Por

José Moreira

Tenho seguido, religiosamente, os comentários relacionados com a questão do envio de terços aos mineiros chilenos. E a verdade é que, até este momento, ninguém conseguiu responder para que, CONCRETAMENTE, servem os terços, numa situação aflitiva como a dos mineiros. Pediram tabaco, foi-lhes negado; pediram vinho, deram-lhes ácido fólico (deve ser parecido. Vou experimentar, no próximo cabrito assado. ..). Não pediram terços nem bíblias, mas eles aí vão.

No entanto, e este é que me parece ser o ponto principal, ainda ninguém se referiu ao facto – este sim, de suma importância – de os terços terem sido benzidos pelo B16. Ora, meus caros: estão a discutir o sexo dos anjos, e omitem o primordial? A benzedura terçal (rima e é verdade)?

Aliás, se não fosse importante, os jornais nem falariam nisso, sabido como é que os rapazes da imprensa só publicam coisas importantes.

Pois bem: eu, como ateu iletrado que sou, não consigo distinguir entre um terço bento (16?) e um terço dito normal. Para mim, é tudo a mesma choldra. Mas sou obrigado a admitir que alguma diferença haverá. Tal como há, certamente, entre a água benta e a outra – a da torneira, por exemplo.Porque se não houvesse diferença, o B16 não iria perder o seu rico tempo a benzer trinta e três terços, qualquer coisa como 33/3. Não senhor. A menos que os tenha benzido por atacado, como se faz nos baptizados, e nas missas de 7º dia, em que se reza uma missa para todos, mas se cobra individualmente. E bem!

Mas estou a afastar-me do meu objectivo, que é o de pedir, encarecidamente, aos católicos de plantão ao DA, que me elucidem acerca destes magnos problemas:

– Como é que se distingue um terço bento (16?) de um terço “tout-court”?
– Qual a diferença, em termos de resultados práticos, entre um e outro, ou seja, qual deles tem mais poder?
– Na hipótese, meramente académica e manifestamente absurda, de ambos terem poder igual, para que serviu a benzedura?
– Se os terços tivessem sido bentos por um mero sacerdote, teriam menos valor? Ou menos poder?
– Os mineiros são todos católicos?
– Os mineiros conseguem verificar se os terços são terços bentos ou não? Ou será que alguém os dilucidará?

5 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

AAP – Carta aos sócios

A Associação Ateísta Portuguesa não pode deixar de congratular-se com a afirmação do eminente cientista inglês, Stephen Hawking, de que não há espaço para Deus nas teorias sobre a criação do Universo.

O cientista usado pelas Igrejas para mostrar que, à falta de argumentos, as crenças têm quem as defenda, exibiam a sua enorme inteligência com a beata insinuação de que os ateus não estavam à sua altura, como se isso provasse a existência do deus criado pelos homens e à custa do qual vivem as religiões.

A afirmação de que o Big Bang foi apenas uma consequência das leis da Física sem qualquer papel de Deus, deixa os vendedores de ilusões mais sós. A teoria do professor Stephen Hawking surge no seu novo livro, intitulado The Grand Design, e contraria as posições assumidas anteriormente pelo cientista, que chegou a defender que a crença num Criador não era incompatível com a Ciência, num livro publicado em 1988.

A AAP reitera a sua satisfação pela conclusão de Stephen Hawking a respeito do Big Bang e subscreve as palavras de outro grande cientista e referência dos ateus, Richard Dawkins, a esse respeito: «Obrigado Hawking. Disseste alto e bom som o que todos nós já repetimos sem fim: deus não faz parte da explicação do mundo em que vivemos».

Saudações ateístas.

Associação Ateísta Portuguesa – 02-08-2010