Loading

Dia: 20 de Junho, 2010

20 de Junho, 2010 Carlos Esperança

Até amanhã, se eu quiser

Habituei-me há muito a diversificar a forma como saúdo ou me despeço das pessoas com quem convivo. É tão frequente usar um simples aperto de mão, um caloroso abraço ou um pudico beijo, em silêncio, como dizer de forma exuberante: até ao dia tal, se eu puder, se eu quiser ou se nós pudermos.

A  beata missionação que corrói a vontade e mina o sentido crítico reduz a língua que falamos à vacuidade litúrgica das frases feitas.

O cumprimento entre pessoas deixou de ser a expressão de um sentimento para se tornar na declamação ritualista que exonera a consciência e exclui os afectos. Não se exprime o pensamento, recorre-se ao bordão que evita ao cérebro o uso de neurónios e à pessoa o incómodo de revelar a sua natureza.

Até os locutores das televisões, incapazes de adicionar ao texto do noticiário que lêem o cumprimento que devem aos ouvintes, se refugiam no «até amanhã, se deus quiser».

As frases inúteis não chegam a ser partículas de realce, são remendos de um pano de pior qualidade no tecido da prosa que debitam.

Quando os vejo com aquele ar ausente, a recitar o «até …, se deus quiser», lembro-me dos relógios parados, com a corda quebrada,  que todos os dias estão certos duas vezes. Deus só acerta uma vez na vida.

20 de Junho, 2010 Eduardo Costa Dias

Construção civil no Vaticano também rima com dinheiro no bolso de alguém!

O cardeal Crescenzio Sepe, arcebispo de Nápoles, e o ex-ministro das Obras Publicas e dos Transportes do Governo de Berlusconi, Pietro Lunardi, são arguidos por corrupção agravada num processo de luvas ligado a operações imobiliárias e à renovação de igrejas

Segundo a Reuters, as actividades delituosas atribuídas ao cardeal Sepe ocorreram no período em que este dirigiu a Congregação para a Evangelização dos Povos, a congregação, entre outras funções, encarregue de gerir os trabalhos de construção civil do Vaticano fora do bairro de 44 hectares

http://www.lexpress.fr/actualites/2/le-vatican-mis-en-cause-dans-une-affaire-de-corruption_900526.html

20 de Junho, 2010 Carlos Esperança

A morte de Saramago vista do Vaticano

Não se esperava daquele bairro de 44 hectares onde adejam sotainas e reluzem mitras, daquela teocracia que fabrica santos e rubrica milagres, onde o celibato é o estado civil obrigatório e a santidade a profissão do Papa, que a morte de Saramago fosse sentida.

Desta vez, pelo menos, livrou-nos da hipocrisia. O escritor que quis ser incinerado na morte não foi cremado em vida como soía acontecer aos hereges. E, como o respeito é muito bonito, não teve na morte o acompanhamento lúgubre dos funcionários do deus de Bento XVI, nem de outras seitas, que vendem o Paraíso a retalho e ameaçam com o Inferno por atacado.

Quando o Estado do Vaticano afirma, no obituário do jornal oficial, que Saramago era ‘populista extremista‘, manifesta a raiva de quem não perdoa, de quem esquece o seu próprio passado e os crimes que cometeu e comete.

As Cruzadas, a Inquisição, as perseguições aos judeus, a Reforma e a Evangelização são alguns dos momentos mais cruéis dos dois últimos milénios. A encíclica Syllabus é um monumento de intolerância e perfídia que só um Papa podia ter escrito, ao contrário das páginas de Saramago onde a discutível visão do mundo é um hino à língua portuguesa e uma homenagem amarga aos que são vítimas da tirania.

‘L’Osservatore Romano, de hoje, revela-se um  pasquim à altura do ódio que medra por entre velas com odor a incenso. É a imagem do que a Igreja católica ainda seria capaz se mantivesse o poder temporal e se os Estados não tivessem domado a vocação despótica do clero romano.

Saramago é e será uma referência mundial de pensador que, não tendo o monopólio da verdade, procurou contribuir para a justiça social no mundo. Foi um livre-pensador e o notável escritor que sonhou um mundo melhor.

Pelo contrário, o Vaticano tem como Papa um ex-inquisidor que se apoia no Opus Dei, na Legião de Cristo e na Fraternidade Sacerdotal de S. Pio X, movimentos abertamente reaccionários, anti-semitas e de pendor fascista.

Eu não trocava uma página de Saramago pelas obras completas dos último Papa.