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Dia: 29 de Abril, 2010

29 de Abril, 2010 Ricardo Alves

Planeta Terra chama Carlos Azevedo…bip…bip…não há resposta

O bispo fundamentalista Carlos Azevedo continua a insistir que não há padres pedófilos em Portugal. Ler para crer: «não houve até agora nenhuma queixa em Portugal, nem sequer uma suspeita», diz ele.
Sinceramente, não consigo entender isto. Já o António Marto disse a mesma coisa, há poucos dias: «nenhum bispo português tem queixas concretas sobre casos concretos».
Mas que raio. Em que planeta vivem estes bispos? Segundo a própria imprensa que os publica, há dez padres indiciados pelo Ministério Público por abuso sexual de crianças (ver o recorte abaixo). E houve ainda um certo padre Frederico que até foi condenado em tribunal por crime de abuso sexual de menor (e por homicídio). Será que os bispos não lêem os jornais?
Não haverá nenhum jornalista capaz de chamar à Terra um bispo e dizer-lhe que a realidade o desmente? E já agora capaz de procurar-lhe se o padre Frederico, foragido no Rio de Janeiro, não estará novamente em contacto com crianças?
Ficaria bem à imagem da classe jornalística.
29 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Espanha – Um país e dois Varelas

O cardeal Antonio María Rouco Varela, bispo de Madrid, um dos mais reaccionários de Espanha e do mundo, abriu feridas insanáveis com a ajuda de Ratzinger, ao canonizar e beatificar, em doses industriais, defuntos admiradores de Franco.

Foi um acto deliberado contra a democracia e, na pressa, nem todos eram aconselháveis para os altares apesar da generosidade com que Bento XVI eleva fascistas à santidade. Podia ter-se ficado por Escrivà, a quem devia favores e dinheiro, apesar da conivência com a ditadura e o ditador, e poupado a Espanha ao reavivar de memórias dolorosas de quem viveu horrores praticados dos dois lados da guerra civil.

Agora apareceu outro Varela, a quem também não faltam vestes talares e a nostalgia do ditador cruel que, depois de ganhar a guerra, nunca mais perdeu o espírito sanguinário.

O juiz de instrução do Supremo Tribunal, Luciano Varela, levará a julgamento Baltasar Garzón, por ter decidido investigar os desaparecidos da guerra civil e do franquismo, violando a lei de amnistia geral de 1977. Faltava este Varela para evitar que os crimes de um dos mais sanguinários ditadores do século passado fossem conhecidos com rigor.

Rejubilam os franquistas, incluindo a maioria do clero, que assistiram à democratização de Espanha, convictos de que Franco era o enviado da providência divina. O fascismo está vivo nas Forças Armadas, nos Tribunais e nas Universidades que permaneceram intactas, tal como a Igreja católica, e se mantêm redutos sólidos do fascismo espanhol.

Quando o juiz Baltasar Garzón, ciente de que os crimes contra a humanidade não devem prescrever, resolveu exumar os crimes da Guerra Civil, com a mesma coragem com que perseguiu os da ETA, viraram-se agora contra si os carrascos que então rejubilavam.

O julgamento de Baltazar Garzón não é só um libelo contra a democracia e o direito dos descendentes das vítimas à verdade, é a vingança mesquinha contra um juiz que, se for suspenso, perde o direito à protecção policial e fica sujeito às balas dos inimigos.

É talvez isso que os seus algozes querem. Basta que o Varela de toga possa fazer o que o Varela de mitra não consegue. Nem o escândalo internacional, nem a indignação dos descendentes das vítimas, nem a estupefacção de magistrados democratas o demoveu. O ódio é velho e não cansa.