Loading

Dia: 17 de Fevereiro, 2010

17 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Freiras carmelitas e liberdades individuais

A notícia de que as Carmelitas vão poder ligar o televisor para ver o Papa, quando da sua deslocação a Portugal, em Maio próximo, não surpreende quem acompanhe a vida religiosa, mas perturba os que se preocupam com a defesa dos direitos e liberdades individuais.

Não discuto se estas mulheres, que fizeram voto de silêncio, se encontram em clausura de livre vontade, se rezam por convicção e se anulam por vocação. A Irmã Lúcia, a mais antiga reclusa conhecida, morreu com odor a santidade e canonização garantida, depois de ter visto o Sol às cambalhotas, de ter falado com uma senhora muito bela, que lhe revelou segredos para o mundo inteiro, preocupada com a conversão da Rússia, e que, do cimo de uma azinheira da Cova da Iria, lhe pediu para divulgar o terço como o mais eficaz demonífugo.

Não me inquieta que a vidente tenha visitado o Inferno onde viu logo o administrador do concelho de Ourém que, por acaso, não frequentava a missa, nem que tenha previsto que um homem de branco seria baleado e que João Paulo II se tenha considerado o alvo dessa profecia.

O que me preocupa é a clausura, com a exclusiva excepção para votarem, certamente no partido que melhor defenda a família, que lhes é interdita, a obrigatoriedade da reclusão e o voto de silêncio, anormalidades a que podem pretender renunciar mas que a coacção conventual, o corte de laços com a família e com o mundo impedem definitivamente.

Será legítimo, num Estado democrático, a existência de cárceres privados, ainda que sob os auspícios da única religião verdadeira? Não deverá o Estado, à semelhança do que faz com creches e lares da terceira idade, exercer um papel fiscalizador que averigúe as relações de poder dentro desses cemitérios de gente viva, no interior de conventos onde as mais cruéis formas de relacionamento podem existir à margem de qualquer controlo?

Sabemos o que sucedeu na Irlanda com jovens metidas em conventos – por terem sido mães solteiras ou para serem afastadas das heranças –, eram vítimas de maus tratos e de tarefas repetitivas que as alienavam. Depois do julgamento dos tribunais que mandaram encerrar esses antros de violência e piedade cristã, não seria avisado que assistentes sociais, médicos e psicólogos ouvissem as reclusas fora do olhar assustador da madre superiora e do director espiritual?

Num país democrático não pode haver feudos onde a mais leve suspeita de violência se possa levantar e onde o Estado se desinteresse pela vida de quem alienou direitos que a consciência humana e as leis consideram irrenunciáveis.

17 de Fevereiro, 2010 Luís Grave Rodrigues

O Livro Mais Roubado

 

Segundo o «New York Times», nestes tempos de crise mundial em que assistimos a um recrudescimento até da pequena criminalidade e de roubos nos estabelecimentos comerciais, constatou-se que o livro mais roubado nas livrarias é… a Bíblia!

 

Mas se virmos bem, esta notícia faz todo o sentido.

Por um lado, bem demonstra o relativismo moral típico das religiões e a criteriosa selecção que os crentes fazem daquilo que lhes interessa seguir ou não na sua doutrina.

Pelos vistos o «Não Roubar» é uma das coisas que não lhes interessa seguir.

 

Por outro lado, significa que há cada vez mais pessoas que acham que se há inutilidades que não merecem que nelas gastemos o nosso dinheiro, a Bíblia é precisamente uma delas.

17 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

A “peregrinação” irlandesa…

Por

E – Pá

Bento XVI chamou os bispos irlandeses a Roma (alguns, dos sobreviventes…) para tentar pôr fim ao escândalo de pedofilia que varre a ICAR.

Esta hipócrita tentativa de procurar “limpar” práticas repugnantes no seio de uma instituição milenar, não surtirá o efeito desejado. Isto é, não conduzem ao seu esquecimento, nem justificam qualquer perdão.

As causas remotas das práticas pedófilas persistem incólumes no seio da ICAR. E não serão actos de contrição, ou desculpas públicas, ou privadas, que as redimirão, ou eliminarão…

Declarações solenes podem estar entranhadas nos rituais da Igreja, mas não constituem a solução para um vasto e indigno problema que atinge a ICAR, não só na Irlanda, mas que se espalhou pelas quatro partidas do Mundo.

Quando Bento XVI diz: “Partilho da indignação, da traição e da vergonha do povo irlandês”, para além de estar a debitar meras formalidades no sentido de encobrir as suas elevadas responsabilidades morais (esta é uma área predilecta de actuação da ICAR…), por execráveis actos praticados por membros da sua igreja, tenta fazer-nos esquecer que é o responsável pelo arquivamento – nas catacumbas do secretismo reinante no Vaticano – das acusações que, há longos anos, iam chegando a Roma, enquanto foi “perfeito” da Congregação para a Doutrina da Fé.

Na verdade, a Igreja continua fechada sobre os seus fantasmas. Prefere toda a espécie de exorcismos engendrados debaixo de vetustos painéis dos apóstolos, suplicando piedade, do que expor-se abertamente ao Mundo e reconhecer que, na prática, não consegue manter a superioridade moral que apregoa. A romagem dos bispos irlandeses ao Vaticano transforma-se assim numa farsa, ou se quisermos, num arremedo de “arrependimento”, eivado de uma imensa hipocrisia.
O que a Igreja desejava era poder tratar destes problemas no silêncio e na sombra do Vaticano.

Mas a hipocrisia de Bento XVI não acaba aqui. O papa – e os bispos responsáveis pela Igreja irlandesa – não se mostram disponíveis para aplicar, aos clérigos prevaricadores e responsáveis “primários” pelos abusos, os justos e necessários castigos (exemplares), que são reclamados pelas vítimas e famílias atingidas.
Um dos castigos que é publicamente reclamado pelos católicos irlandeses criou o problema conhecido pela “questão dos afastamentos”. A ICAR rejeita esta via de resolução, como em tempos procurar evitar o seu julgamento em Tribunais. E o argumento da rejeição é quase tão ignóbil como os crimes praticados: “a Igreja nunca recorre a esses métodos”.
Prefere pagar para “lavar” a honra, irremediavelmente, perdida. Um método muito próximo das práticas de qualquer “honorabile societá”…

De facto, a ICAR, depois de deixar assentar a poeira continuará a defender que, por exemplo, nos colégios católicos, na Irlanda e no Mundo, continuem a ser estas “raposas” (de sotaina) a guardar galinheiros… (passe a imagem em relação às crianças abusadas).

Finalmente, as causas remotas destes escândalos necessitam de ser dissecadas profundamente. Mas enquanto a ICAR não se mostrar aberta para uma discussão franca e honesta, sem evocações de matérias sobrenaturais (os abusados são seres vivos e não espíritos sobrenaturais) deve, por medida cautelar, ser afastada da área do Ensino… na Irlanda e nas “quatro partidas do Mundo”!

E, depois, logo se verá…