Loading

Dia: 28 de Maio, 2009

28 de Maio, 2009 palmirafsilva

As tolices dos arcebispos

Está a fazer ondas esta entrevista à catalã TV3 do cardeal Antonio Cañizares Llovera, arcebispo de Toledo e prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.

Numa entrevista devotada quasi na totalidade a carpir a legislação que não criminaliza o aborto, o cardeal comenta en passant o escândalo da pedofilia na Irlanda, coisa pouca que não lhe merece mais de uns segundos de atenção numa entrevista de quase 20 minutos, e mesmo esses poucos segundos são devotados a explicar que não há sequer comparação entre esta minudência e o aborto.

Mais concretamente, Cañizares considera que o abuso sexual, torturas e maltratos a que foram submetidos ao longo de décadas milhares de crianças entregues pelo estado a instituições católicas configura condutas condenáveis pelas quais, aparentemente, basta pedir perdão. Mas é irrelevante o que aconteceu «em alguns poucos colégios», em que foram abusados uns meros milhares de crianças, face aos «milhões de vidas destruídas» pelo aborto.

O El pais dá-nos contaque o governo espanhol já classificou de «muito graves» as enormidades debitadas pelo arcebispo. Mais concretamente, Trinidad Jiménez, ministra da Saúde e Política Social, considerou as declarações de Cañizares «completamente irresponsáveis e inoportunas», acrescentando aquilo que devia ser óbvio para qualquer pessoa com vestígios de bom senso e com um mínimo de sensibilidade, que não são comparáveis o abuso sexual de menores e o aborto. Parece no entanto que sensibilidade e bom senso não se coaduna com a direcção de arquidioceses, pelo menos em Toledo e Westminster

em stereo na jugular

Adenda: por indicação de um leitor da jugular, um vídeo que diz mais que quaisquer palavras. Vale igualmente a pena ler os comentários…

28 de Maio, 2009 Carlos Esperança

Milagre que eu conheci

Não cometo a ofensa de pensar que os leitores do Diário Ateísta acreditem em milagres nem a injúria de acusar de semelhante ingenuidade o Papa e os bispos.

Sabe-se que a criação de beatos e santos é um negócio idêntico ao dos aviários e que os milagres estão para a indústria da santidade como as rações para a criação de frangos. É por isso que estão encomendados milagres para João Paulo II, o papa de que há fortes suspeitas de ter acreditado em deus, e para a Lúcia e outros bem-aventurados destinados a tornarem-se patronos de outras tantas caixas de esmolas.

O que aborrece, neste negócio, é o embrutecimento a que condena as pessoas simples, o cinismo com que as quer fazer passar por tolas, o impudor com que a ICAR tenta impor paradigmas medievais e sobrepor a irracionalidade da fé à virtude da razão.

A beatificação dos pastorinhos de Fátima – Francisco e Jacinta – criaram mais dúvidas aos crentes e ridicularizaram mais a sua Igreja do que os escândalos sexuais que minam os estabelecimentos de ensino que lhe estão confiados.

A cura da D. Emília dos Santos que, de vez em quando, ficava paralítica e cujo processo clínico parece ter desaparecido do serviço de psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, é um embuste tão primário que até os padres envergonha.

A D. Emília de Jesus tinha no Hospital de Leiria, no serviço de Medicina, uma mesinha de cabeceira cheia de santinhos e vasta quinquilharia religiosa que impressionavam o director. Quando, uma vez mais, voltou a andar e foi preciso rubricar um milagre, para a beatificação dos pastorinhos, logo foi confirmada a intercessão conjunta no prodígio.

O Vaticano apressou-se a dizer que o milagre foi certificado por três médicos diferentes, embora espante a convicção de que foram os pastorinhos os autores do milagre obrado. E a D. Emília, que morreu curada, nunca andou bem das pernas e da cabeça.

Aqui ficam os nomes dos médicos, diferentes, que confirmara o milagre: Felizardo Prezado dos Santos, director do serviço de Medicina, no hospital de Leiria, Maria Fernanda Brum, médica do mesmo serviço e esposa do primeiro e uma psiquiatra que, por insondável coincidência, é filha de ambos. Última indiscrição: todos os três médicos diferentes eram servitas em Fátima.

Diz a ICAR que os ateus ridicularizam os milagres. Não se vê que é ela que escarnece a inteligência e envergonha os crentes com os seus reiterados embustes?