O Papa Bento XVI, que inicia terça-feira uma primeira viagem de uma semana aos Camarões e a Angola, disse hoje desejar «tomar nos seus braços» toda a África, com as suas «feridas dolorosas» e as suas «enormes esperanças».
Ainda cardeal, Bento XVI autorizou ensaio em revista ultradireitista
Arquidiocese de Viena dizia que texto tinha saído sem autorização.
Versão obtida pela revista “Der Spiegel” contra outra história.
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Há quem tenha visto na reintegração dos seguidores do bispo fascista Marcel Lefebvre na Igreja católica a reabilitação efectuada por Bento 16 das posições anti-semitas e antidemocráticas do bando fascista.
É uma injustiça para com o Papa e uma ofensa ao Vaticano. É insinuar que o Papa não é anti-semita e antidemocrata. É insinuar que o Vaticano é um bastião da liberdade e um santuário do livre-pensamento.
Não há a mais leve suspeita sobre a simpatia de B16 pelos princípios democráticos nem o mais leve indício de que seja contra o anti-semitismo.
Aliás, o regresso ao latim indicia a sintonia fraterna com o bando dos quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) fundada em Êcone, no ano de 1970, por retaliação às reformas do concílio Vaticano II.
O patrono escolhido para esse movimento foi o indício seguro do desvario reaccionário dos primatas tonsurados de Êcone. Pio X, papa de 1903 a 1914, foi um violento opositor à modernidade.
Os que dizem que o papa Ratzinger exige que os bispos da FSSPX aceitem as decisões do Concílio Vaticano II mentem e ofendem-no duplamente. Em primeiro lugar, porque em Junho de 2008, Bento 16 renunciou à exigência de que esses clérigos admitissem as decisões do Concílio Vaticano II e jamais, ele próprio, deu sinais de se conformar com tais deliberações, nomeadamente quanto à liberdade religiosa.
Bento 16 é fiel à memória de Lefebvre, aos elogios que ele fez a Franco, Pinochet e Le Pen e não pode deixar de se embevecer com um dos seus últimos sermões, em 1990: «O ateísmo baseia-se na Declaração dos Direitos Humanos».
Há quem pretenda, por cautela, fazer crer que Bento16 é um extremista razoável, uma espécie de talibã de rosto humano. É um estratagema para conservar os crentes que desconhecem a maldade do Vaticano e o pensamento do Papa.
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