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Dia: 7 de Janeiro, 2009

7 de Janeiro, 2009 Ludwig Krippahl

Deus e o tabaco

Ontem começou a Atheist Bus Campaign, uma campanha publicitária organizada por ateus do Reino Unido, com o slogan «Deus provavelmente não existe. Agora deixe de se preocupar e goze a vida»(1). Não há consenso acerca do “provavelmente” entre os ateus. Richard Dawkins, por exemplo, preferia “quase de certeza”. Mas segundo Tim Bleakley, o director da firma de publicidade contratada para esta campanha, foi necessário incluir o “provavelmente” para evitar uma violação do código publicitário. Porque, para os religiosos, dizer simplesmente que Deus não existe «seria enganador»(2).

Em rigor, isto é correcto. Não podemos saber nada com certeza absoluta. Por exemplo, não podemos ter a certeza absoluta que o tabaco prejudica a saúde. Se expusermos quinhentos ratos a fumo de tabaco e estes sofrerem mais de cancro que os quinhentos do grupo de controlo, o melhor que podemos dizer é que provavelmente o tabaco causa cancro. Por muitos ratos, ou humanos, expostos ao tabaco, há sempre a possibilidade do resultado ser por outra coisa qualquer. A recolha de dados confirmatórios aumenta a confiança mas nunca dá certeza absoluta. Resta sempre algum “provavelmente”.

Mas eventualmente a confiança é tão alta que é melhor dizer simplesmente que o tabaco causa cancro no pulmão. Vir escrito nos maços que o tabaco provavelmente prejudica a saúde é que seria enganador. O “provavelmente”, se bem que correcto em teoria, na prática sugere uma incerteza maior que essa possibilidade irredutível de ter havido algum erro.

A conclusão que Deus não existe merece mais confiança que os malefícios do tabaco. O Deus judaico-cristão, omnipotente e omnisciente, é incompatível com o universo que conhecemos. As leis da física não permitem omnipotência nem omnisciência, e isso sabemos com mais certeza do que sabemos que o tabaco faz mal. Os crentes contrapõem que não se pode concluir que o deus deles não existe porque, sendo omnipotente e omnisciente, pode esconder-se onde entender e fazer milagres sem ninguém ver. A física pode ser milagre, o Big-Bang pode ser milagre, a origem da vida pode ser milagre. Não se vê a mão de Deus mas ela está lá, invisível.

Mas então também o cancro dos ratos pode ter sido obra de Deus e afinal o tabaco não faz mal nenhum. Se não podemos concluir que Deus não existe quando tudo sugere outras causas, também não podemos concluir que o tabaco faz mal só por ser isso que as evidências indicam. Se calhar o cancro é um milagre invisível. O cancro, e tudo o resto. Porque se não rejeitamos estas hipóteses impossíveis de testar ficamos condenados à ignorância e incapazes de decidir. Qualquer coisa que aconteça, por muito óbvia que pareça a sua causa e por muito fácil que seja de explicar, pode ter sido milagre de Deus, da Virgem, do São Nãoseiquantas ou até de gremlins invisíveis.

O tabaco faz mal e Deus não existe. Provavelmente, sim, mas esse provavelmente é tão insignificante que mais vale poupar os pulmões e os joelhos.

1- Atheist Bus Campaign
2- New York Times, 6-1-09, Atheists Decide to Send Their Own Message, on 800 Buses

Em simultâneo no Que Treta!

7 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Virados para deus

Há tempos, numa entrevista ao RCP, o jornalista perguntou-me como explicava o facto de as pessoas, em época de crise, se virarem para deus.

Claro que viram. O desespero é o húmus onde medra a fé. A desgraça bate à porta e, logo, disparam as orações. A eficácia não está provada mas acontece o mesmo com as mesinhas que se usam na falta de médico.

Não são apenas os deuses que beneficiam da doença e da desgraça, também os bruxos, quiromantes e outros exploradores das fraquezas humanas. Desde sempre os homens se viraram para as nuvens à espera das respostas que a ciência ainda não dá. A lepra, por exemplo, era encarada como castigo divino e as vítimas apedrejadas. O próprio Cristo fez a reputação com milagres no ramo. Hoje, a higiene e os medicamentos erradicaram o flagelo nos países civilizados.

No Islão, onde o fanatismo é obrigatório, os crentes viram-se para Meca por falta de bússola que lhes indique o Paraíso e, para urinarem, escolhem o sentido contrário. Os católicos mantêm o hábito de olhar para o firmamento, onde julgam que mora o deus que os padres lhes vendem, mas não se importam de urinar em direcção ao Papa.

Enfim, a desgraça de uns é a felicidade de outros. Enquanto houver quem rasteje e se ajoelhe, não falta quem receba a subserviência em nome de um deus qualquer. Vêm aí tempos em que a superstição encontra terreno fértil mas não é provável que as leis da física se alterem.

7 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

O Islão é pacífico

Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós; e sabei que Deus está com os tementes.

(Alcorão 9:123)

7 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Os índios acendiam fogueiras…

(…)

P – Reza todos os dias ao Papa João Paulo II?

R – Certamente, sobretudo quando há problemas graves, que são muitos para um bispo, e nos simples também. Dou um exemplo: tenho de celebrar e está um grande temporal e eu digo – Santo Padre, ajude-me. E ele ajuda. Sabe que quando chovia na Praça de S. Pedro, muitas vezes a chuva acabava por desaparecer.

Aconteceu o mesmo na Ucrânia, num grande encontro com a juventude, quando chovia de tal maneira que não se ouvia o que o Papa dizia. Deixou de lado os papéis e começou a cantar um cântico popular. A chuva desapareceu e surgiu o sol.