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Dia: 29 de Maio, 2008

29 de Maio, 2008 Ricardo Alves

As dificuldades de César

O último artigo de João César das Neves (JCN), já referido pelo Carlos, merece reflexão.

Devemos deixar de lado as graçolas pueris típicas da argumentação católica, como por exemplo «recusar Deus é uma crença como as outras» (como se a careca fosse um penteado, ou a saúde fosse uma doença), ou ainda jogos de linguagem como «uma obra supõe um autor» e «uma lei implica um legislador». Um artigo de fundo pressupõe palavras ordenadas, mas, como se vê, não pressupõe rigor nem honestidade intelectual.

Confrontemos as três «dificuldades» do ateísmo alegadas pelo nosso inefável JCN.

A primeira «dificuldade» seria que «a resposta ateia tem de ser que o acaso de milhões de anos conduziu de uma explosão ao sorriso da minha filha». Acontece que, como já foi dito dezenas de vezes, «acaso» é um termo errado para a evolução do universo. Se eu largar uma pedra no ar, ela não cai «por acaso». Cai porque a massa atrai massa. E se eu soltar uma raposa num galinheiro, a extinção das galinhas não é um acaso. É a satisfação de um apetite. É por mera economia de expressão que chamamos «leis» às regularidades do universo que conseguimos compreender. Porque nenhum «legislador» previu o extermínio das galinhas, nem o sorriso da filha de JCN. Mas se as antepassadas desta não sorrissem, mais dificilmente teriam garantido o afecto paterno e, portanto, a sobrevivência do seu património genético. Mas adiante.

A segunda dificuldade seria que «meros átomos de carbono, aglomerados em aminoácidos e evoluindo pela selecção natural» não poderiam «gritar que salário digno é valor universal». O salto de lógica (uma das mais genuínas tradições teológicas) destina-se a baralhar os leitores. Os átomos de carbono aglomeraram-se há muito, e há muito que alguns desses aglomerados descobriram estratégias de sobrevivência e de defesa do seu bem-estar. Primeira: a reprodução sexuada. Segunda: a vida em sociedade. Terceira: coligações de interesses em cada sociedade (sindicatos, por exemplo). Não olhar para os passos intermédios só é útil para quem tudo quer confundir. A realidade é mais fascinante, complexa e rica do que a versão mesquinha e dogmática que os teólogos nos querem vender.

Mas JCN toca, a este propósito, num ponto importante: «todos os humanos sentem em si uma ânsia de justiça e verdade, um sentido de bem e mal». Eu creio que exagera: estou convencido de que existe, em qualquer população humana suficientemente grande, uma percentagem de psicopatas (quase todos do sexo masculino), que só observam as regras sociais (quando o fazem…) por puro cinismo. Todos os outros humanos terão algum equilíbrio entre o seu sentido ético inato e os instintos que os levam a transgredi-lo. Mas JCN engana-se se pensa que os «valores comuns» caíram do céu aos trambolhões. A «ética universal» pode ser em parte inata (não praticar vilolência gratuitamente), e em parte consequência necessária da dinâmica de grupo (expulsar do grupo quem pratica crimes, por exemplo).

Finalmente, a terceira dificuldade seria que «para o ateu este universo, sem origem nem orientação, também não tem propósito». Sinceramente, sempre me pareceu de uma enorme falta de verticalidade precisar de uma muleta divina para discernir o «bem» do «mal». Sim, o universo, em si, não tem propósito ético. E depois? Continuamos a poder decidir, à escala humana, qual é o propósito das nossas vidas. A indiferença do universo é apenas o cenário sobre o qual o fazemos.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

29 de Maio, 2008 Carlos Esperança

Portugal – Centenário da República

No passado dia 16 de Maio foi nomeada a Comissão Nacional para as comemorações do Centenário da República com a incumbência de apresentar ao Governo, no prazo de três meses, a proposta de Programa. Apesar do prestígio das personalidades, acordadas entre o Governo e o PR, temo o rumo das comemorações.

A república não é um regime neutro, é antagónico da monarquia. Ao direito hereditário prefere o escrutínio popular, em vez do carácter vitalício exige mandatos balizados no tempo, à aristocracia do sangue opõe a igualdade de direitos e dos vassalos faz cidadãos.

As monarquias tornaram-se obsoletas. Em Portugal as taras dos Braganças contribuíram para o seu descrédito acelerado, mas em outros países caíram por traição, inutilidade ou esgotamento. As que persistem, inúteis e arcaicas, são relíquias folclóricas para exibição de pompa em circunstâncias especiais.

Em Portugal, a monarquia legou 75% de analfabetos, 80% de camponeses sem qualquer instrução ou assistência, uma crise financeira arrastada desde 1890, uma Igreja que cultivava a superstição e criaria Fátima e a desordem e o caos que iam da rua ao Paço. A República suportou as conspirações monárquicas e as cisões republicanas, numa réplica invertida das duas últimas décadas da monarquia, e a guerra de 1914/18.

Mas…

Sem a República, implantada em 5 de Outubro de 1910, não teriam sido possíveis as leis que colocaram Portugal entre os países mais avançados do seu tempo: separação da Igreja/Estado, laicidade do ensino, reforma da universidade, divórcio, registo civil e a nacionalização de algumas propriedades do extenso património da Igreja.

Celebrar o avanço civilizacional legado pela 1.ª República exige que às leis inovadoras e socialmente justas de então, correspondam agora novos avanços, por exemplo, a não discriminação das uniões homossexuais, uma lei equilibrada sobre a eutanásia, além de comemorações condignas do honrado centenário.

Todavia, se os ventos conservadores de Belém não forem contrariados por S. Bento, se ao espírito pio de alguns conselheiros predilectos do PR não responder um sobressalto republicano e laico, Portugal arrisca-se a ter missas por alma de Sidónio e a associar a República e a ditadura salazarista.

O 5 de Outubro de 2010 seria a data simbólica ideal para aprofundar o carácter laico do Estado e, eventualmente, denunciar a Concordata. O Governo não se pode esconder sob o manto do PR para dirigir a política externa, que é da sua exclusiva competência.

Carlos Esperança

29 de Maio, 2008 Carlos Esperança

ASSOCIAÇÃO ATEÍSTA PORTUGUESA

Escritura de constituição da

«Associação Ateísta Portuguesa»

Amanhã, dia 30 de Maio de 2008 pelas 12,00 Horas, terá lugar no Cartório Notarial da Exmª. Senhora Notária Drª. Sofia Henriques, sito na Avenida da República, n.º 6 – 1º andar Dt.º em 1050 – 191, a escritura de constituição da «Associação Ateísta Portuguesa».

A «Associação Ateísta Portuguesa» propõe-se e constituem seus objectivos:

1. Fazer conhecer o ateísmo como mundividência ética, filosófica e socialmente válida;
2. A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
3. A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
4. A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
5. Responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.

Mais pormenores poderão ser encontrados nos Blogs:
«Random Precision» (http://www.rprecision.blogspot.com)

e ainda pelo telefone 91 727 48 80

Odivelas, 29 de Maio de 2008
A Comissão de Constituição