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Dia: 22 de Março, 2008

22 de Março, 2008 Carlos Esperança

Origens europeias

Seria estultícia negar a influência das religiões e guerras pias que dilaceraram a Europa e que, tal como a cultura helénica e o direito romano, a moldaram. Seria, no entanto, perigoso esquecer que foi a anemia da religião que tornou possível a liberdade, que foi a perda do poder temporal da Igreja católica e da sua influência política que tornaram possível o espaço de liberdade em que, pesem embora as desigualdades e injustiças sociais que ainda persistem, se transformou a Europa.

A violência sagrada foi sempre filha da fé e dos interesses que à sua volta gravitam. Da Irlanda do Norte ao Chipre e à ex-Jugoslávia quantas mortes se devem aos desvarios da fé e à competição pelo negócio das almas?

Persistir nas referências religiosas da Europa e na sua consagração constitucional não é apenas redundante, é uma provocação às religiões excluídas, um braço de ferro com a laicidade e um desafio à secularização que permitiu a exclusão religiosa dos motivos de confronto no espaço civilizacional europeu.

Há uma conquista civilizacional de que todos beneficiamos, crentes, ateus e agnósticos, o carácter laico do Estado e a lógica separação das Igrejas. O proselitismo incorrigível dos crentes é um perigo que espreita das madraças de cada seita, dos púlpitos de todas as religiões.

Quem nos defende da obsessão que alguns sentem de salvar todos os outros? Por que motivo não se contentam com a salvação própria deixando na paz das perpétuas chamas os que se desinteressam da salvação da alma, apesar dos mimos e das ameaças?