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Dia: 20 de Março, 2008

20 de Março, 2008 Ricardo Alves

Bin Laden contra Ratzinger?

O mais influente líder religioso do mundo, Ossama Bin Laden, divulgou ontem uma mensagem em que implica o seu competidor Joseph Ratzinger numa alegada «cruzada» contra o Islão que utilizaria essa temível arma que são os desenhos de Maomé.

Não me custa sair em defesa (apenas desta vez, garanto-vos), do Papa dos católicos. Efectivamente, em boa verdade vos digo, o Vaticano não pode ser acusado de cumplicidade na publicação de caricaturas de Maomé, pela simples razão de que sempre foi contra a dita publicação. Recordemos:

  1. O Vaticano afirmou oficialmente que «a liberdade de expressão não pode implicar o direito de ofender os sentimentos religiosos dos crentes»;
  2. Os porta-vozes locais da ICAR pelo mundo fora repetiram essa mesma ideia (incluindo o portuga José Policarpo).

Portanto, Bin Laden e Ratzinger deveriam dar-se as mãos e unir-se nos valores que partilham: o repúdio pela liberdade de expressão, o desprezo pelas mulheres emancipadas, o ódio à democracia e à laicidade, a promoção da autoridade clerical, e a opressão da humanidade por preceitos anacrónicos.

Como afirma Bin Laden, com uma clareza pouco usual, «as publicações desses desenhos» foram mais graves do que «o bombardeio de modestas aldeias que desabaram sobre as  nossas meninas». Policarpo já dissera algo semelhante, quando afirmou que «todas as expressões de ateísmo (…) continuam a ser o maior drama da humanidade». Para o clero islâmico e católico, são as ideias das pessoas e os desenhos que fazem que são graves ou dramáticos.

Farinha do mesmo saco. Abraâmico.

20 de Março, 2008 Ricardo Alves

Jovens iraquianos fartos da religião

  • «Odeio o Islão e todos os clérigos porque limitam a nossa liberdade todos os dias e a instrução deles tornou-se pesada sobre nós» (Sara Shami, estudante do liceu em Basra, Iraque)

Segundo esta reportagem, cinco anos de guerra no Iraque, com os seus conflitos entre comunidades religiosas e os seus fanáticos integristas, mostraram a boa parte dos jovens iraquianos que a religião, quando assume um papel político, se torna um problema difícil de controlar. Depois dos atentados (suicidas ou não), das raparigas castigadas por usarem saias ou não usarem o véu, depois de as milícias religiosas ordenarem em cada aldeia e subúrbio as suas regras medievais, a juventude iraquiana desgostou-se dos barbudos e do seu livro sagrado. Há esperança no meio dos escombros.

  • «Os homens religiosos são mentirosos. Os jovens já não acreditam neles. Os rapazes da minha idade já não estão interessados em religião.» (Atheer, 19 anos, sul de Bagdade)
20 de Março, 2008 Carlos Esperança

A Europa com sinais contraditórios

A secularização dos europeus tem-se acelerado nos últimos anos como o demonstram os números dos casamentos civis e uniões de facto, a ultrapassarem as uniões canónicas, a desertificação das cerimónias litúrgicas, o afastamento da catequese e a dificuldade de criar vocações para o clero regular e secular.

No entanto a laicidade, tal como se desenvolveu a partir do Renascimento, que faz parte da matriz cultural europeia, está em decadência, assistindo-se a uma infiltração do clero nos aparelhos de Estado para condicionar as políticas, obter privilégios e dominar largos sectores da educação e da assistência.

O acicate da contestação islâmica devolveu às igrejas cristãs a obsessão prosélita que estava adormecida. Numa primeira fase unem-se para vergar os Estados ao seu poder de influência eleitoral para obterem novos direitos, depois guardam-se para o ajuste final entre elas.

Perante a débil resistência e nula vigilância das instituições democráticas, as Igrejas reclamam cada vez mais privilégios e conquistam novas posições de poder. Conseguem isenções fiscais, negados às empresas laicas, subsídios robustos proibidos às empresas em dificuldades, para não violar a lei da concorrência, e terrenos gratuitos para a construção de templos, lares, escolas e outros edifícios comerciais, não excluindo os tempos de antena e publicidade gratuita nos órgãos de comunicação social do Estado.

Para além da grosseira violação dos critérios de equidade permite-se a acumulação de poder e privilégios que não vai ser pacífico reduzir. Perante a falta de ética republicana que nos conduz ao domínio das sotainas e ao regresso anterior ao século das luzes, são perigosos os tempos que se avizinham quando a instabilidade social e a miséria criarem o ambiente favorável ao clericalismo.

Nessa altura serão muitos os que se ajoelham e mais os que rastejam.