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Dia: 18 de Março, 2008

18 de Março, 2008 Carlos Esperança

Dalai Lama disposto a abdicar da divindade

Sua Santidade o Dalai Lama é o líder espiritual e político de uma anacrónica teocracia tribal em que ele próprio é o Deus autóctone. O país é feudal e os monges dispõem do poder a que os súbditos tribais são obrigados a submeter-se, uma violência consentida pelo respeito divino e igualmente reivindicada pelos dirigentes chineses.

O Tibete é um espaço de fome e tradição em que a ditadura teocrática foi esmagada pela ditadura chinesa, uma mistura de liberalismo económico atrevido e de repressão policial maoísta.

Quando o Deus vivo morre, renasce num outro corpo mais jovem. Não se confunda o ar pacífico deste monge, que o marketing despojou para consumo ocidental, com um democrata ou libertador. O 14.º Dalai Lama foi, como qualquer outro teocrata, dos 15 aos 23 anos, um biltre que oprimia, embrutecia e mantinha o seu povo na miséria, habitando palácios, antes de ter fugido para o exílio na Índia.

A esta dinastia de ditadores há-de voltar o Diário Ateísta, uma dinastia em que o Deus-Rei é escolhido por monges e programado para ser vitalício, como convém a um tirano, e eterno, através dos seus avatares, como é próprio de um Deus.

Curioso é o facto de o Dalai Lama ameaçar resignar à santidade e ao carácter divino, embora o povo saiba que é Deus, mesmo que o próprio se veja obrigado a negá-lo, tal como aconteceu ao imperador do Japão em 1945.

De qualquer modo, a ignóbil tirania chinesa merece o mais activo repúdio. A China, independentemente da legitimidade territorial sobre o Tibete, continua a ser um país opressor, uma ditadura policial indigna de receber os Jogos Olímpicos. E, hoje, é isso que está em causa.

18 de Março, 2008 Carlos Esperança

A superstição não mata. Nem o ridículo

Demorei a perceber o motivo por que os elevadores não paravam no 13.º andar dos hotéis onde a profissão me levou centenas de vezes. Simplesmente não tinham o andar n.º 13. Do 12 passavam ao 14, numa cedência à superstição dos fregueses.

Há poucos anos, a Grécia recusava transpor para o direito nacional uma qualquer lei europeia a que calhou o n.º 666, numa inflexibilidade típica da teologia reaccionária da Igreja ortodoxa.

Agora foi a vez do presidente da Câmara de Reeves, Luisiana (USA), que, após uma longa batalha, conseguiu obter a mudança do prefixo telefónico da cidade: o 666, número da Besta, substituído por um anódino 749.

«Era uma marca, um estigma na nossa cidade. Nós somos bons cristãos.» – declarou o pio edil Scott Walker.