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Dia: 21 de Fevereiro, 2008

21 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Citação

Todas as religiões se baseiam no medo de muitos e na esperteza de poucos
Stendhal, (escritor francês 1783-1842)

21 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

A fé e a civilização

A benevolência de que gozam as religiões nos crimes que cometem e nos actos indignos que defendem, ou permitem, é uma forma de colaboração com a barbárie e a renúncia à defesa de princípios éticos que nenhuma tradição pode pôr em causa.

 Nas Filipinas há católicos que se fazem crucificar voluntariamente. É ultrajante para a dignidade humana e uma crueldade que a civilização repudia. Permitir a perpetuação de semelhante desumanidade, em nome da tradição, envergonha a religião que a tolera e os crentes que a permitem.

Na Guiné, perante o projecto parlamentar de abolir a prática da mutilação genital feminina, os dirigentes muçulmanos consideraram a pretensão como uma «afronta ao Islão». Repudiam a eventual aprovação de legislação contra a prática «ancestral» da mutilação genital feminina porque – segundo eles – «incorrem num grave erro e numa afronta ao Islão» se deliberarem abolir um dos «sunnas», (mandamentos, em árabe) da religião muçulmana.

 E então? Qual é o problema de afrontar o Islão ou qualquer outra religião que ofenda os direitos humanos? Por que razão se pactua com as barbaridades ancestrais? Se Abraão era doido e estava disposto a sacrificar o próprio filho para agradar a Deus o que leva as pessoas civilizadas a condescenderem com a superstição e a crueldade?

 Não há uma guerra de civilizações, há, sim, uma guerra entre a civilização e a barbárie e a cobardia que consente a violência tribal, em nome de uma repugnante tradição, se sobreponha aos princípios humanistas e aos avanços civilizacionais.   

Nota – Em 3 de Agosto de 2006, líderes católicos, muçulmanos e judeus uniram-se para condenar a cantora Madonna por encenar uma crucificação no show que realizaria na capital italiana, no domingo seguinte, a poucos metros da Cidade do Vaticano. Era uma mera encenação. Quando é a sério, unem-se calados.

21 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Totalitarismo religioso

Em todos os totalitarismos históricos surge uma raiz religiosa mas os mais sanguinários foram os que se reclamaram de origem divina.

Não é preciso recuar a Nabucodonosor ou Dário, para quem uma simples palavra deles era sagrada, para nos darmos conta da perversão do que é supostamente sagrado naquilo que é profano, isto é, em todos os momentos da vida de todas e cada uma das pessoas.

Os tribunais medievais de Espanha, França, Portugal ou Rússia são um exemplo de crueldade e discricionariedade alimentadas pelo direito divino.

O nazismo e o fascismo foram regimes totalitários que não só se reclamaram da vontade divina que queriam cumprir como atraíram o apoio religioso e a mentalidade anti-semita do cristianismo para a sua hedionda trajectória.

Dos totalitarismos só o comunismo não se reclamou da vontade divina e até combateu as religiões. O estalinismo, a mais demente e cruel face do comunismo, combateu a religião, mas idolatrou José Estaline, o seminarista cristão, e deificou o Estado que, de facto, reproduziu o Deus do Antigo Testamento: despótico, violento, vingativo e cruel.

Ainda hoje, as ditaduras existentes encontram nas teocracias que subsistem o expoente máximo da perversão e da crueldade.