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Dia: 31 de Dezembro, 2007

31 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

Espanha – ICAR e a democracia

 Ontem, na Praça de Colombo, em Madrid, centenas de milhares de pessoas reuniram-se para contestar o Governo, sob o lema «Pela família cristã». Bandos de padres e bispos dinamizaram a manifestação e vociferaram contra os casamentos homossexuais, contra o divórcio e contra a nova disciplina «educação para a cidadania».

 Havia bispos, cardeais e cerca de trinta organizações católicas, num desafio ao Governo a dois meses de eleições legislativas. O bispo de Valência chegou a culpar o Governo de pôr em perigo a democracia. O presidente da Conferencia Episcopal Espanhola, Ricardo Blázquez, afirmou que «A família está fundada sobre o matrimónio, que é a união de um homem e uma mulher para transmitir a vida». 

Celibatários, estes primatas de báculo, mitra e anelão não se limitam a defender os seus princípios para os católicos, querem obrigar os que os desprezam a submeter-se à sua moral e aos seus caprichos. São detritos do franquismo a adejar as sotainas pelas praças de Espanha numa cruzada raivosa contra a modernidade. 

O cardeal de Barcelona, Lluís Martínez Sistach, retido pela gripe humana, enviou uma mensagem a justificar a ausência na manifestação e para recordar que havia dedicado a sua última pastoral à defesa da vida, «perante o horror do cifra de 110.000 abortos em Espanha, em 2006, e das clínicas abortistas».

31 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

Mudam-se os tempos

Tal como o circo, também o Vaticano regista queda no número de fiéis que foram ver o Papa em 2007. O primeiro era o fascínio da minha infância, extasiado com os palhaços, os contorcionistas e os amestradores de animais. No declínio inexorável da actividade circense vejo o desaparecimento do que me foi querido, referências que o tempo leva.

Já o declínio das excursões para ver o Papa me parece saudável. Santo por profissão e déspota por tradição, o pontífice romano é a síntese de um fundamentalista evangélico e de um mullah islâmico, colocado no vértice da pirâmide teocrática pelos cardiais iluminados por uma pomba que ultimamente tem sido substituída pelo Opus Dei, igualmente de forma invisível.

Houve papas que não levaram a sério o emprego e se fartaram de folgar mas os últimos têm sido discretos nos vícios, soturnos no comportamento e sorridentes nas fotografias. O actual procura sorrir, como é hábito e útil à função, mas só consegue esgares de um misto de Drácula e Frankenstein.

Vá lá que os bandos de peregrinos ansiosos por verem um primata de camauro, uns sapatinhos vermelhos e um vestidinho exótico, começam a minguar. Pode ser que a mudança de hábitos traga de novo o circo e eu volte a ver os prestidigitadores e os equilibristas que, ao contrário do Papa, nunca enganaram e só queriam divertir os clientes.