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Dia: 22 de Outubro, 2007

22 de Outubro, 2007 Carlos Esperança

Momento Zen de segunda

O inefável João César das Neves (JCN) não desiste da homilia das segundas-feiras, no DN, na cruzada contra o aborto.

A obsessão fundamentalista católica ultrapassa a dos padres rurais mais conservadores, habituados às confissões das paroquianas pobres, que votaram contra a despenalização do aborto mas já fizeram, ao longo da vida, vários «desmanchos», que a pobreza não lhes permitia sustentar mais bocas, e o planeamento familiar era pecado. Para essas mulheres, carregadas de filhos e privações, o aborto, a contracepção e o preservativo são pecados mortais a que não se atrevem, mas «botar abaixo aquilo» é outra coisa, em que arriscam a vida sem comprometerem o destino da alma.

JCN, referindo-se ao feto, afirma que «pouco há a fazer à criança quando se detecta esse tipo de mal [trissomia 21], para logo acrescentar com pungente azedume: «Além do aborto, claro».

Há pessoas, como JCN, para quem a vida da mãe, as malformações, o incesto ou a violação nada valem face aos preconceitos religiosos que alimentam a padres-nossos e imprecações, quanto mais respeitarem a liberdade individual da mulher, até às 10 semanas de gravidez, de acordo com a lei.

Mas onde se vê a desonestidade intelectual, o insulto, a má-fé e a ausência de qualquer limitação ética em relação à verdade é na comparação do aborto ao nazismo e na citação do livro de um especialista na matéria, o padre Nuno Serras Pereira, que acaba de publicar «Ao Gólgata – A Liberalização do Aborto e o Nazismo» embora se presuma mais ódio ao primeiro do que ao último.

O paralelo aborto/nazismo é um truque habitual de quem, não correndo o risco de ter de recorrer ao primeiro, por questão de género, não dá garantias de que não tivesse apoiado o segundo por razões anti-semitas.

Só há uma observação a fazer aos fundamentalistas: Hitler era contra o aborto, preferira matar adultos. O padre Serras Pereira e JCN estão historicamente bem acompanhados.

22 de Outubro, 2007 Helder Sanches

Noves fora… nada!


A fé per si não é o que mais me surpreende na crença religiosa. O que mais me custa a entender é como é que os crentes não se interrogam sobre a multiplicidade de crenças existentes por esse mundo fora. Vou aqui conceder – talvez demasiado – o flanco e partir do princípio que todos os crentes o são convictamente, com a melhor e mais honesta das intenções.

Como é que essa honestidade não os leva a interrogarem-se sobre a plausibilidade da sua crença face à existência de outras? Vejamos, agarremos em dois crentes de quaisquer duas religiões; um deles estará, necessariamente, enganado! Como esta confrontação é válida para quaisquer duas religiões que se escolham, não é muito mais provável estarem todas erradas?

Tentei explicar este raciocínio à minha filha mais nova quando ela ainda tinha apenas 7 anos e ela percebeu. Como é que gente crescida não entende?

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

22 de Outubro, 2007 Helder Sanches

O que fazer aos outros?


“Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti”.

Esta é uma máxima que parece ser basilar, pelos menos em teoria, para grande parte dos seguidores da doutrina cristã. Parece-me que este princípio, por mais justo e saudável que pareça, encerra em si próprio todo o potencial para o desenvolvimento de uma cultura egoísta e intolerante. Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem é uma forma de querermos impor os nossos critérios morais a terceiros.

Parece-me muito mais justo, correcto, saudável, tolerante e democrático o seguinte raciocínio: “Não faças aos outros aquilo que eles não quiserem que lhes façam”.

Tudo isto a propósito deste artigo, onde o comentador António se acha no direito de avaliar o que é ou deixa de ser moralmente aceitável para terceiros. Porque o António se choca com determinada matéria, não só entende que os outros também se devem chocar como, indo mais longe, se questiona, inclusivamente, sobre a legalidade do produto e da sua exposição (pelo menos entendi assim, o António que me corrija se eu estiver equivocado).

Não vejo como poderei contribuir para a felicidade alheia limitando terceiros aos meus valores morais. O limite será sempre a lei em vigor e, nos casos em que esta já não se adequar à realidade e ao evoluir dos tempos, há que fazer tudo para a mudar. Claro está que não estou a falar da lei de qualquer deus; quem se quiser limitar por essa é livre para o fazer sem a tentar impor aos outros.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

22 de Outubro, 2007 Ricardo Silvestre

Opinião pessoal

Este é um espaço para opiniões sobre ateísmo, e não para explicações de foro pessoal. Mas há um assunto que me sinto obrigado a referir aqui, para que seja visível para todos, principalmente para os que estão a usar a argumentação que vou referir a seguir.

Eu, como colaborador do D.A., não tenho que me distanciar, repudiar, criticar, vilipendiar, ou outra coisa qualquer acabada em «ar», de artigos ou opiniões deste sítio. Certo?! Estamos entendidos?

Estou a começar a ficar seriamente irritado com os argumentos da «estatística dos 9 em 10», dos que «se aliam pelo silêncio» a posições extremistas, «que não se insurgem» por este ou aquele comentário, que têm falta de «ética», falta de «coragem», falta de cálcio nos ossos e outras saloiadas.

Eu não tenho que proclamar publicamente que quero me distanciar de coisas que não fiz, de posições com que não concordo, com atitudes que não aprovo. Enough already!!!

No final da página do D.A. está uma frase que diz, e passo a transcrever: «As opiniões expressas no Diário Ateísta são estritamente individuais e da exclusiva responsabilidade dos seus autores, e não representam necessariamente a generalidade dos ateus». Portanto, e para as pessoas que deixam aqui comentários do estilo que referi acima, parem com o argumento ridículo do «se não diz nada contra, é porque está a favor».

E uma nota em relação a livre expressão, algo que sempre incomodou os religiosos, e agora, cada vez mais, por causa de qualquer pessoa poder expressar a sua opinião sem ter de pedir autorização ao padre da paróquia ou ao bispo da cidade: livre expressão é o direito da pessoa que ofende, como é o direito daquele que é ofendido. A liberdade de expressão significa a liberdade da pessoa que pensa de uma forma diferente, e a liberdade da pessoa que se sentiu ofendida. Liberdade de pensar o porquê de se ter sentido ofendida, o porquê de pensar da maneira como pensa, o porquê de ser diferente da outra pessoa, o porquê de pensar que a sua posição está correcta, enquanto a que ofendeu está errada. Mas os crentes têm dificuldade em pensar nestas coisas, habituados a usar o subterfúgio da «blasfémia», da «perseguição», «da ofensa». Emancipem-se! Ergam-se da vossa posição de ajoelhados. Juntem-se a uma sociedade (cada vez mais) democrática.

Mas deixo alguém muito melhor que eu defender liberdade de expressão:

http://www.youtube.com/watch?v=EUphTYPMB4o

http://www.youtube.com/watch?v=9jnD4Mc3VUw&mode=related&search=

Lamento o teor mais desagradável deste texto, mas a paciência tem limites.

22 de Outubro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Paixão de Cristo e o Anti-semitismo

O filme “Paixão de Cristo” de Mel Gibson é o mais polémico filme de sempre segundo a “Entertainment Weekly magazine” de Junho de 2006, e as razões para a polémica são mais que muitas. O filme nascido da fé católica extrema de Mel Gibson foca cerca de 2/3 do seu tempo na brutalidade e na violência, apelidado de “The Jesus Chainsaw Massacre” por David Edelstein da Slate Magazine. Mas a inflamação possível da religiosidade e do sectarismo advém do seu conteúdo explicitamente anti-semita, novamente se alude ao deicídio cometido pelos Judeus, para além dos estereótipos clássicos, um filme que nasce do mais puro ódio cego religioso.

Tudo se torna mais nítido quando se conhece o que ocorre por trás do filme, Mel Gibson define-se como intermediário do verdadeiro realizador da Paixão de Cristo, o Espírito Santo. O fanático católico, líder da sua própria seita sediada na Holy Family Chapel, é conhecido pelas suas declarações recorrentes de ódio vesgo, das suas contradições torrenciais, do seu ódio à homossexualidade e em muito especial, aos Judeus.

Em 2004, Frank Rich escreveu no The New York Times que o filme de Gibson podia inflamar o anti-semitismo, declarações às quais Mel Gibson responde com o seguinte: “Eu quero matá-lo. Eu quero os intestinos dele num pau. Quero matar o cão dele.”. Numa entrevista de 1995 à Playboy, Gibson fala sobre um autor Britânico que escreveu uma biografia sua: “Não acredito que deus o coloque no meu caminho, ele merece a morte.”, sendo seguidamente confrontado com os vários protestos respeitantes a declarações suas homofóbicas, às quais responde dizendo que: “Pedirei desculpas quando o Inferno congelar. Eles que se fodam.”.

O fanatismo de Gibson parece não conhecer limites, e os seus ódios surgem em catadupa, desde paranóias como “Fucking Jews!” como a declaração: “Os Judeus são os responsáveis por todas as guerras no Mundo.”, acusando-os também de tentarem culpar a Igreja Católica Romana pelo Holocausto.

Perante este conjunto de convicções bárbaras, fica a questão de como é possível metamorfoseá-las em cinema, para isso detém a sua própria empresa, a Icon Productions que detém laços com a Fox Filmed Entertainment. O anti-semitismo da Paixão de Cristo apenas ficaria perfeito com a inclusão da cena onde seria proferida por Caiaphas* a seguinte frase “His blood be on us, and on our children.”, a condenação de todos os Judeus e seus descendentes por deicídio, cena retirada por Mel Gibson apenas porque “se eu incluísse essa cena eles vinham a minha casa e matavam-me.”.

Links úteis:
Wikipédia: The Passion of Christ
About.com: Does Mel Gibson Profess Antisemitism?
USA Today: Gibson’s way with words
ABC News: Mel Gibson Addresses Accusations of Anti-Semitism
AlterNet: Where Mel Gibson Got His Anti-Semitism
WorldNetDaily: A passionate Mel Gibson strikes back against critics
Telegraph: Mel Gibson Christ film is branded anti-Jewish
New York Times: Gibson To Delete A Scene In “Passion”
SPLCenter: The New Crusaders

Também publicado em LiVerdades

*Erradamente havia referido anteriormente o nome Barabbas.