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Dia: 15 de Outubro, 2007

15 de Outubro, 2007 Carlos Esperança

Estaline – um demente assassino

Ainda hoje me interrogo se a violência do facínora se deve às ideias comunistas que dizia defender ou ao passado religioso vivido no seminário.

15 de Outubro, 2007 Ricardo Silvestre

Choque Cultural

Estes são alguns comentários de Mitchell Cohen, co-editor da revista Dissent e Professor de ciência política no Baruch College e na City University of New York, sobre qual a natureza do Novo Ateísmo.

«Conforme as religiões organizadas desenvolvem ideias negativas, desenvolvem igualmente ideias positivas. Até mesmo a nível politico e ético. Mas essas ideias devem ser traduzidas nos dias de hoje para uma linguagem secular, para que possam ser discutidas sem entraves.

Catolicismo tem uma tradição longa e muito própria de discutir «a Guerra Justa», e aí existem muitas ideias poderosas. No entanto esse estilo de persuasão, num debate democrático e contemporâneo, não pode ser baseado em «pontos de vista» de uma Trindade.

A mesma coisa com filósofos Judeus. Estes podem ter muitas opiniões válidas sobre justiça social, mas essas convicções não podem resultar de saber se Moisés recebeu ou não placas com mandamentos no Monte Sinai.

Islão tem tradições importantes em assuntos que se relacionam com pensamentos legais, mas estes valores, para uma sociedade democrática, não podem ser baseados em crenças que Maomé era um profeta.

Estas ideias têm de ser apresentadas para que o debate possa ser entre membros dessas religiões e todo os outros agentes de uma sociedade secular.»

É notório que o fundamentalismo religioso tem tentado entrar na arena da política, muitas vezes com uma atitude agressiva e intolerante. Seja com alterações de linhas de acção governativas, ou com escaladas no terror religioso, ou com estorvos no avanço do conhecimento. Estas são indescutivelmente, tentativas de regular a vida de biliões de pessoas.

E é esta a preocupação de um (novo) ateísta. Não é que os religiosos não possam ter a sua fé e as suas crenças! Não há nada de mais importante do que a liberdade individual. Mas a religião não deve, não pode, ultrapassar a esfera em que (se deve encontrar) encontra.

Mas os Tarcisio Bertone, os Pat Robertson, os Ali Khamenei não são capazes. Tudo o que seja que faça uma sociedade livre, pluralista, modernizada, aberta, é considerado como uma ameaça para estes, e deve ser «combatido», com rebeliões, com bombas em clinicas médicas, com fatwas.

E ai que reside o «choque cultural».

Para saber mais sobre Novo Ateísmo, viste o NOVA

15 de Outubro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Fátima na Rússia – Portugal vai evangelizar a Rússia?

90 anos se passaram desde que o Sol dançou o malhão, trance psicadélico, forró e merengue, desceu do poiso e aterrou em azinheiras, sucedia então o milagre de não termos sido incinerados, vida na Terra sempre em risco de extinção, sejam peixes e patos afogados no grande, gigantesco, imensurável, apoteótico dilúvio do ser superior que não forneceu guarda-chuvas a ninguém, seja incineração por o Sol não saber estar sossegado no seu canto, fenómenos interessantíssimos do ponto de vista da histeria e lunatismo de massas. Acrescenta-se uma virgem que teve relações sexuais com um pombo do qual teve um filho, virgindade imaculada mantida pois claro, mete-se num foguetão e vai para outras paragens, volta e meia lá vem ela mandar umas bocas aos pastores, vulgar aparição, azinheiras deixaram de estar na moda pelas Américas, vai aparecendo em paredes, torradas, bocados de chocolate e fôrmas de pizza.

Toda a história se relaciona, obviamente, com a Revolução Bolchevique.

A RTP, televisão dos cidadãos católicos portugueses, explicou-nos a relação, embora óbvia, requintes de maior aprofundamento da questão com historiadores católicos importantes, representantes vaticanistas importantes, alicerçados com relatos populares sublimes e clarividentes.

Horário nobre, e rola o “documentário” com uma mulher vestida de branco num dos cantos da televisão e que nunca de lá saiu, nem se conseguia ver bem os enforcamentos e os tiros na cabeça com ela sempre à frente a estorvar, não era defeito da televisão, era mesmo do “documentário”.

Começo sublime, sumptuoso mesmo, com um ex-ateu quase a lacrimejar com as memórias horrendas da sua juventude, os pais levavam-no a esquiar ao Domingo de manhã, iam para piqueniques, e nunca o levaram a uma missa Católica… Quanto infeliz foi essa juventude, regozijava-se com a ligação de 1917, coincidência muitos incautos diriam, mas estrelas vocacionadas ao bailarico e virgens que vão para a pastorícia correlacionam-se estreitamente com os regimes despóticos russos do século XX.

Entre os relatos de incontornável importância para as sociedades Humanas estava um de uma idosa, afirmava veementemente que tinha visto o Sol pousar em cima das árvores, linkagem perfeita feita por sotainas historiadoras e toca a meter mais imagens de enforcamentos, tiros na cabeça, na barriga, destruição e pilhagem de igrejas, e é ver as crianças extasiadas em ternura, nunca antes haviam tido oportunidade de ver as múltiplas formas de assassinato a sangue frio, glamorosa liberdade de informação invade a RTP após anos de censura a imagens chocantes, lapidações de mulheres e mutilações genitais nem às 5 da manhã à semana, emancipação em pleno horário nobre, nada melhor para abrir os olhinhos às crianças! Tão enganadinhas com desenhos animados andavam…

Dos testemunhos reais dos sobreviventes à brutalidade fascista ressaltavam os de vários anarquistas ateus russos (ou isto é de outro documentário?.. é mesmo…), ressaltavam os de vários cristãos que haviam sobrevivido à barbárie, ortodoxos aparecem pelo contexto como protegidos pelo Vaticano, embora inferiores claro, amores corriam que nem flatulências em dias de feijoada entre ortodoxos e as sotainas vaticanistas.

O papa de Hitler aparece em grandes saudações fascistas, condenando o fascismo vermelho e apoiando o fascismo nazi (não tenho a certeza, entraram anúncios antes da alusão ao nazismo, e continuaram, acho que o nazismo nunca existiu, é rasgar novamente os livros e praticar o desporto de tiro aos cd´s de documentários sobre as guerras mundiais).

No fim, a sensação enorme de ir até à Rússia, aqueles malvados e estranhos ateus despóticos e fascistas que tinham fé cega no comunismo e que idolatravam fotografias de um homem feio como um bode que fazia concursos com o Hitler (isto segundo a História que li recentemente, errada, tenho de ir às bibliotecas da Opus Dei pedir livros em condições), um dos quais o do bigode, qual deles conseguia ter o bigode mais fofinho, que matavam cristãos e destruíam igrejas e enforcavam e abatiam a tiro, e enforcavam (várias vezes mesmo, os espectadores podiam ter ido à casa de banho e não ter visto, ou na altura ter pestanejado, ou as crianças podiam ter passado pelas brasas temporariamente) e tiro na nádega e enforcamento e tiro na cabeça mas desta vez com a bala a entrar pela orelha.

Pelo meio andava o ícone de Kazan, beijos ao vidro em catadupa, ao fim do dia pouco se conseguia ver com tanta saliva lá colada. Tudo junto e temos o “documentário” mais esplendoroso da RTP, uma abordagem nunca antes feita à concretude das coisas nos regimes despóticos da ex-URSS, bailes do Sol numas azinheiras em Portugal associados ao fascismo comunista da URSS com ícones do Estalinismo e do Cristianismo.

Uma amálgama de crendices baseadas nas crendices de que uma crendice é mais verdadeira que outra crendice, e que a crendice de numa História alterada e mesclada com mais crendice é sinónimo de uma boa crendice. Se não compreenderam eu também não, mas é a fé que move a crendice, cristandade em orgasmo colectivo e parece que Portugal vai evangelizar a Rússia, pressupostos a ter em conta, Portugal é uma prostituta do Vaticano, e a Rússia é uma cambada de ateus maléficos cujo hobby é enforcar pessoas e tentar enfiar balázios no interstício anal dos cristãos, tudo o resto é paisagem.

Um documentário a ser visto, revisto e visto outra vez, a BBC e a National Geographic até se espumam de inveja pela qualidade dos documentários da Radiotelevisão dos cidadãos portugueses católicos.

Para finalizar, esperava ver finalmente a alusão ao ateísmo, mas o “documentário” acabou, deve ter sido por falta de tempo de antena. Entre os jogos entre fascismos ficou esquecida a Liberdade, pelo menos parece que a última grande e massiva manifestação pela Liberdade antes do fascismo soviético dos crentes comunistas fica nas páginas da História, sob autorização posterior do Vaticano e da Radiotelevisão dos portugueses católicos claro está!

O Ateísmo infelizmente sucumbiu e fracassou perante o Partido Comunista Russo em 1921, quando faleceu Piotr Kropotkine, o revolucionário que rejeitou o cargo de Ministro da Educação do governo provisório, que enfrentou Lenine e que lutou com todas as suas forças contra as forças revolucionárias que fizeram o que não deviam ter feito, que erradicaram todo o autoritarismo em prol de um novo autoritarismo, que substituiram a fé por uma nova fé, morte marcada pela última grande reunião massiva de anarquistas e a derradeira grande manifestação livre naquela que viria a ser então a União Soviética.

Os meus pêsames à RTP, a Aura Miguel, Eduardo Ricou, Camilo Azevedo e Alfred Schnittke pelo esterco televisivo que produziram, pelo sectarismo vesgo que tentaram induzir na população portuguesa, pela demagogia cega, pelo ódio à Liberdade e à sociedade inclusiva, racional e informada.

Ámen.

Dedico este artigo à memória do constantemente esquecido Kropotkine.

«Todo o Homem de coração pede à partida que o matem caso venha a converter-se alguma vez numa víbora, que lhe cravem o punhal no coração se em algum momento ele vier a tomar o lugar de um tirano destronado.»

«As concepções ingénuas vão desaparecendo. Mas, se é verdade que as velhas palavras desaparecem, a essência mantém-se sempre na mesma.»

Piotr Kropotkine: A Moral Anarquista – Edições Sílabo

Também publicado em LiVerdades