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Dia: 12 de Setembro, 2007

12 de Setembro, 2007 Carlos Esperança

Bin Laden

Sempre que aparece, Bin Laden provoca uma onda de pânico em parte da humanidade enquanto outra exulta e anseia por se colocar ao seu serviço, por dar a vida pelo virtuoso e pio muçulmano que desafia os EUA e os países democráticos.

Há naquele biltre, misto de Urbano II e de Hitler, a demência e a maldade de ambos e o mesmo poder de sedução que o converte em condutor de massas, no Messias que os crentes aguardam, no profeta em que acreditam as multidões famintas, humilhadas e desesperadas, vítimas de uma civilização falhada e das teocracias corruptas.

No entanto o místico assassino dirige uma cruzada contra os infiéis – todos os que não lêem o Corão a seu jeito -, com a mesma fria violência com que o Papa Inocêncio III mandou massacrar os cátaros. E não lhe faltará determinação para, à semelhança de Arnaldo Amalarico, em Béziers, quando houver dúvidas sobre quem é ou não é infiel, decidir: «Matai-os a todos. Depois, no Céu, Deus distingui-los-á».

Não tenhamos ilusões. Bin Laden converteu-se num ícone que a rua muçulmana adora. Ele não é apenas o estratego que conduz uma guerra gloriosa, é o justiceiro que vai derrotar os maus e conduzir os seus devotos ao paraíso, aos rios de mel e à volúpia das 70 virgens cansadas de esperar.

O frio e cínico devoto é hoje um fenómeno de massas, o ideólogo de milhões de crentes, o mártir que fanatiza e seduz franjas de todos os estratos sociais, em todas as latitudes, sem exclusão de raças. Ele representa uma ideologia planetária, é o apóstolo do único Deus verdadeiro que um rude pastor de camelos importou para regiões tribais com erros de tradução e hábitos de brutalidade.

O fascismo islâmico é uma mancha de óleo que alastra em todas as direcções. O Corão é o Mein Kampf da horda de assassinos beatos e Bin Laden o seu Führer.

12 de Setembro, 2007 Ricardo Silvestre

«Velho» conselho.

Num comentário ao meu post relativo às declarações de Ratzinger sobre a teoria da evolução, Bernardo Motta do blogue «Espectadores» (http://espectadores.blogspot.com/) aconselha-me a que «Leia, por favor, o que o São Tomás diz sobre a simplicidade de Deus» (para mais detalhes ver a secção de comentários do post acima referido).

Uma coisa que nunca me deixa de surpreender é este estilo de lógica. «Para saber mais sobre deus, por favor consulte um teólogo». À, sim? E porquê? E porque não perguntar a um taxista? Ou a um cozinheiro? Ou a um engraxador? Quais são os factos indisputáveis, a ciência sólida, a metodologia concreta que São Tomas, ou Teresa de Avila, ou Blaise Pascal detêm para demonstrar deus (já para não falar quando se metem a falar de cosmologia, ou a biologia, ou de geologia)? A leitura da Bíblia? Uma reflexão profunda? As vozes dentro da sua cabeça? Qual a diferença entre um teólogo e um calceteiro?

Por favor, que os teólogos apresentem as suas provas sobre deus para uma revisão técnica e imparcial, e depois então, presto atenção a este estilo de sugestão.

12 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

«Dalai Lama»: um ex-ditador

O senhor Kenzin Gyatso (conhecido por «Dalai Lama») estará em Lisboa de hoje até domingo. É apresentado simultaneamente como o principal representante de um país invadido e oprimido pela ditadura chinesa, e como um líder religioso. É, desde logo, lamentável que exista essa confusão: seria preferível que não se confundisse a promoção dos direitos fundamentais dos tibetanos com a propaganda de uma opção espiritual. Mas é, portanto, da maior conveniência recordar o Tibete de que ele foi o monarca absoluto: uma teocracia feudal, em que ele era simultaneamente líder político e religioso, onde os mosteiros possuíam a quase totalidade da terra, assim como toda a autoridade política, judicial e policial, a maioria dos camponeses eram mantidos em servidão (senão mesmo em escravatura), o rapto de crianças pelas ordens religiosas era considerado normal, e os castigos corporais (amputação de mãos, furar olhos, chibatadas) eram a forma mais corrente de administrar «justiça». O Tibete governado pelo ditador Kenzin Gyatso era, portanto, uma teocracia opressiva e miserável. O Tibete ocupado pela China, contudo, sofreu um genocídio criminoso (morreram, provavelmente, centenas de milhares de pessoas), e ainda hoje existem limitações inaceitáveis à liberdade de religião (mesmo se os maiores rigores do ateísmo de Estado já foram, felizmente, abandonados). A administração dos mosteiros, assim como a admissão de monges e freiras, é hoje controlada pelo Estado chinês, e muitos religiosos que desafiam este totalitarismo estatal são presos e torturados. A doutrinação dos recalcitrantes é sistemática e compulsiva. Infelizmente, nada disso é diferente do que se passa noutras regiões da China. E a condenação da ocupação chinesa não desculpa a «romantização» do regime teocrático que o senhor Kenzin Gyatso liderou no Tibete.

Nota final: a vida não é só desgraças, e existe o ridículo da religião budista para nos animar. No Público de hoje, um senhor chamado Stewart Walters garante-nos que a «estratégia» chinesa de «controlar a próxima reencarnação do Dalai Lama» estará condenada ao «fracasso». Porquê? Sentem-se bem nas cadeiras antes de ler: «o Dalai Lama já disse claramente em várias ocasiões que, se a situação no Tibete se mantiver, a sua reencarnação terá lugar fora do Tibete e longe do controlo das autoridades chinesas». Pronto, já podem rir.
12 de Setembro, 2007 Ricardo Silvestre

Intromissões

O lider de 1.1 bilião de pessoas diz que o debate sobre criacionismo e evolução é «absurdo», uma vez que «evolução pode coexistir com fé». Mais, a mente iluminada de Ratzinger acha que «evolução parece real» mas que não explica «de onde vêm todas as coisas» (http://www.msnbc.msn.com/id/19956961/)

Para além do ridículo de ter um fantasista a falar de ciência, esta tentativa de aproximação das cúpulas decisórias do Vaticano à disciplina de biologia só mostra a arrogância e o despeite daquele que é um dos agentes de entrave ao progresso científico.

O que o papa Benedict está a fazer é, explicar a pessoas como Richard Dawkins ou Edward Larson, «vocês os cientistas podem perceber muito sobre evolução, fosseis, ADN, progressão orgânica, fisiologia animal, mas a verdade é que somos nós que temos a explicação para a origem das coisas. Vocês até podem dar um cenário quase real, mas sem a nossa contribuição, a evolução não pode ser totalmente entendida».

Para além do óbvio, ou seja, a religião não tem qualquer autoridade para estar a emitir tais dilates, esta tentativa de conciliação com o método científico é leviana e prejudicial para a ciência. É como dizer a um estudante de biologia,«não se esforce para encontrar o princípio das coisas, assuma apenas que houve uma força superior que as criou».

O que é preocupante, é ver como a Igreja Católica se esforça para comer da mesma gamela que os Cristãos Americanos, e começa agora a tentar também minar o avanço cientifico com apelos à ignorância, disfarçados de concordatas de complemento.