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Dia: 8 de Setembro, 2007

8 de Setembro, 2007 Carlos Esperança

O caso Madeleine McCann

O sumiço de uma criança loura e linda, filha de um casal elegante e fino, crente e culto, fez correr rios de tinta nos jornais de todo o mundo. Quilómetros de película ocuparam batalhões de fotógrafos e as imagens do casal circularam pelos mais importantes canais televisivos do planeta e percorreram a Internet, com a foto da criança sempre presente.

Enquanto morreram de inanição, doenças e vítimas de guerras centenas de milhares de crianças sujas e famintas, no mais escandaloso silêncio e na mais vil indiferença, o casal McCann guardava as chaves da igreja da paróquia da Luz, e tinha amigos do peito e da missa ávidos de rezarem com ele as orações que a devoção e a ansiedade impunham.

A fé tem um enorme tropismo para as câmaras de televisão. O Papa, sempre atento às desgraças do mundo, recebeu o casal e abençoou a foto da filha ausente num gesto que os crentes tomaram como auspicioso.

O Espírito Santo, uma ave que é assessora do papa no departamento da infalibilidade, devia estar de baixa e, em vez de iluminar a mente do pastor alemão, deixou-o à solta a ampliar a ansiedade mundial e o proselitismo da Igreja católica.

Não se sabe o desfecho da investigação policial mas, presumindo-se ainda a inocência do casal McCan, já a multidão que levava flores e rezava aflita por Madeleine passou a vaiar os pais como se uma sentença transitada os tivesse condenado. E o Vaticano, na sua milenar sabedoria, mandou retirar as referências ao caso Madeleine do seu site oficial.

8 de Setembro, 2007 Helder Sanches

Fé e Crença: descubra as diferenças

No Teologia (reparem que a url tem uma sequência de três setes quando seria muito mais engraçada a sequência de três seis!), o autor Tilleul escreveu um artigo intitulado “Fundamentalismo Ateu” acusando a grande maioria do ateísmo praticado em Portugal de ser um ateísmo anti-clerical e, portanto, fundamentalista.

Já anteriormente referi no meu blog o que penso sobre a etiquetagem de “fundamentalistas” aos ateus. Também já referi o que penso sobre esse tal ateísmo pouco construtivo, baseado no bota-abaixo.

O que o autor Tilleul parece querer ignorar – e não o deveria fazer – é que existe uma grande diferença entre a sua fé e a sua crença. Enquanto ateu, não me sinto com o mínimo direito de questionar a sua fé seja ela em deuses barbudos, em unicórnios brancos ou noutros chifrudos de língua bifurcada patrocinados pelo SLB. A fé do Tilleul é lá com ele e ninguém tem nada a ver com isso!

Já em relação à sua crença, acho-me no total direito de a questionar. Porque enquanto a fé individual nasce e morre dentro do indivíduo, os sistemas de crenças têm uma tendência perigosa de se transformarem em fenómenos epidémicos de transmissão de aldrabices infantis sobre as explicações do mundo que nos rodeia, o sentido da vida ou um suposto sentido da morte.

Muito do que aquilo que o Tilleul acusa de anti-clericalismo é, antes sim, anti-proselitismo. E se o Tilleul quer – e acho muito bem que o queira – continuar a ter o direito à sua fé individual, tem que, quanto antes, deixar de tentar impor essa mesma fé aos outros e compreender que há quem, de facto, não precise da fé para nada.

8 de Setembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Fundamentalismo Ateu

Certos crentes possuem uma fé interessante num fundamentalismo ateu, dentro das suas esferas de ilusão sentem uma dificuldade extrema em adquirir percepção do que está do lado de fora, nem tão pouco conseguem entender o que se passa em esferas de ilusão religiosa diferentes. Num blogue de nome “teologia” surge um artigo esclarecedor sobre o pensamento único de massas denominado “Fundamentalismo Ateu“, o qual erra nas mais básicas concepções.

Começa com “Confesso que gosto de ler e ouvir os que pensam diferente de mim. Não é nenhuma tendência masoquista mas sempre acreditei que para se dialogar é necessário antes de mais conhecer a verdade. (…) “. Afirmações absolutistas são facilmente ultrajadas, basta encontrar apenas um exemplo para se tornarem falsas, vejamos o que diz o autor do artigo acerca da apresentação do livro Subterfúgios de um tal de Bruno Miguel Resende, livro que não tinha lido, “Isso é o melhor que consegues fazer? Para além da evidente falta de talento e conhecimento gramatical da língua portuguesa, também primas pela falta de originalidade… Senão é o teu pai a continuar a sustentar as tuas manias e devaneios vais morrer na miséria.”, interessante referir que alguém que fala em livros num determinado artigo não sabe sequer o que é uma publicação de autor e uma de uma editora.

Relativamente aos ateus defende que ” (…) as opiniões, que à partida deveriam ser diferentes, são muito idênticas em particular no que diz respeito à ideia que fazem de Deus (…) “, o que é no mínimo estúpido, se deus não existe é impossível fazer ideias sobre ele, ideias podem ser feitas relativamente às ideias que os crentes possuem, o que é incrivelmente diferente. Afirma também que ” (…) em vez existir uma defesa das suas posições, o que se passa são puros ataques de ódio às posições dos outros. (…) “, o que é realmente uma demonstração incrível de ignorância e de falta de percepção da realidade, um ataque de ódio poderá ter como exemplo um islâmico a explodir e a matar dezenas de inocentes, ou as chacinas provocadas pelo cristianismo e as suas teorizações de criminalidade no uso do preservativo, seja portanto uma intolerância face ao ódio religioso, estes “ataques de ódio” são consequentemente uma falácia de inversão excessivamente simplória e inconsequente.

Mais à frente insere o anticlericalismo sem qualquer base ou contexto, ” (…) Por norma os sites ateístas em português são anti-clericais, arriscando-me mesmo a afirmar que é mais fácil encontrar um lobo ibérico que um verdadeiro ateu português. (…) “. Nesta afirmação baseada numa qualquer sondagem à qual não é identificada a fonte fica a falta de definição para o termo “anticlericalismo” e uma fé cega que o ateísmo não deverá ser anticlerical, expõe o termo anticlericalismo sem definição alguma e identificando-o como erro em si próprio, nada mais normal em mentes religiosas que afirmarem algo sem suporte argumentativo, para além do facto esquecido dos religiosos anticlericais, mas obviamente que seria avançar excessivamente para bases que ainda não existem.

Mais idiota ainda é a definição de um ateu, ” (…) um ateu é um crente na não-existência de Deus (…), tal facto demonstra que nem dicionários são usados, muito menos literatura adequada ao tema como seria suposto existir ao ser lido o começo do artigo, mais grave ainda é que nem é usada a definição minimalista da Wikipédia, uma demonstração de ignorância extrema face a um tema que supostamente iria ser criticado negativamente, sem existir o conhecimento do alicerce da crítica que se quer efectuar tudo desmorona como um castelo de cartas. O Ateísmo não é uma religião, não é uma crença, não é uma filosofia de vida, não é uma visão da realidade, é a visão da realidade. Através da não-aceitação de afirmações sem corroboração válida se protege o pensamento do lixo tóxico intelectual que circula um pouco por todo o lado, seja as superstições cristãs, islâmicas, judaicas, hindus, seja o tarot, a astrologia, o Elvis estar vivo, os gatos pretos darem azar, partir vidros dar azar, comer 12 uvas passas dar sorte, vidências, profecias, para além do facto de não acreditar em um deus, os ateus não acreditam em nenhum, nenhum dos milhares de deuses inventados pelo Homem. O erro de considerar ateu alguém que não acredita na concepção cristã de um ser superior faz com que se considere que mais de metade da Humanidade seja ateia, o que é realmente estúpido. Mesmo a definição minimalista de ateísmo que define a descrença em qualquer deus, deuses ou entidade divinas é extremamente errada, pois nesta definição se englobam o Budismo e o Jainismo por exemplo, onde não existem deuses mas existem dogmas.

Relativamente à ICAR (fica o apontamento de o blog se chamar “teologia” mas afinal ser teologia cristã apenas, uma desilusão…), ” (…) as críticas apresentadas, quando não meros insultos, visam uma Igreja que cada vez menos existe (…) “, o que é errado, bastando para isso ter a noção do que foi o Iluminismo, as convicções católicas não mudaram, apenas possuem menos margem de manobra, mesmo assim existem acções que atestam o anti-evolucionismo católico, a criminalidade clerical de proporções hediondas proporcionada e instigada pelo Crimen Sollicitationis, o genocídio decorrente da criminalização do uso do preservativo que segundo a ICAR não previne as doenças sexualmente transmissíveis, os assassinos cristãos de homossexuais, etc.

No fim fica uma pergunta que já foi respondida umas milhares de vezes ” (…) não se deve respeitar também a fé de cada um?”. Obviamente que não, a fé é irracional, um sistema de convicções que tomam acções nocivas para a Humanidade, a fé não é nem nunca foi privada, é um estado de frustração pessoal permanente que se satisfaz em interferir constantemente na liberdade dos outros, a religião é infecciosa na sua mais profunda essência, é opressiva na liberdade dos outros, tenta legislar a vida privada de todos quando ninguém lhes pediu nada, as suas constantes incursões sobre a privacidade das pessoas merecem todo o desrespeito, a bisbilhotice é um apanágio apenas comparado às tendências imperialistas, a subjugação de tudo e todos a um sistema de superstições ultrajante à racionalidade. Ideologias que levam pessoas através da fé às convicções assassinas e se rebentam matando inocentes não merecem respeito, respeito é um mero apoio à barbárie, ideologias que fazem morrer milhares de Seres Humanos com SIDA por dia devem ser combatidas, opressão sexual deve ser derrubada, frustração sexual todos possuem, mas interferir na sexualidade dos outros por falta de vida própria é pura e simplesmente errado. Se todos os Seres Humanos respeitassem as ideias uns dos outros nem sequer existiria debate, nem tão pouco seria necessária a linguagem, palavras soltas serão sempre divergentes das ideias de alguém.

Relativamente à última questão ” (…) Enquanto crente e em especial sendo cristão, que se deve e pode fazer? (…), a resposta é simples, não falar do que não se sabe, criticar literatura após leitura da mesma, informar-se minimamente antes de dizer asneiras.

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