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Dia: 28 de Agosto, 2007

28 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Turquia – Religião e democracia

Pio IX dizia que o catolicismo era incompatível com a democracia mas, por mérito da segunda, foi desmentido. Não foram os papas que outorgaram a liberdade, mas esta impôs-se nos países moldados pelo iluminismo, a Reforma e o secularismo.

Já no Islão nunca foi feita a prova de que a liberdade e a fé podiam coexistir. Não são os fundamentalistas que são perigosos, são os fundamentos do Islão.O Corão apela à guerra santa e ao extermínio dos infiéis como sucede com todas as doutrinas totalitárias, com todos as religiões que se julgam as únicas empresas de transportes autorizadas a circular nas estradas que conduzem ao Paraíso.

A eleição de Abdullah Gul para Presidente da República é uma afronta aos sectores laicos e progressistas da Turquia moderna, especialmente aos militares e juízes, que defendem a laicidade imposta pela figura tutelar da Turquia moderna — Mustafa Kemal Atatürk.

Como não há democracias militares nem de juízes cabe aos turcos respeitar a decisão das urnas e ao novo presidente as determinações constitucionais, apesar da religião que professa.

Esta é a última oportunidade para o Islão mostrar pela primeira vez que se conforma com o pluralismo e que um presidente islamita é capaz de respeitar igualmente os que crêem e os que não crêem no Profeta, bem como os que não crêem em profetas.

Se a democracia soçobrar na Turquia, prova-se que o Islão não renuncia à obediência ao anacronismo do livro sagrado e que entre a civilização e a barbárie, entre a liberdade e a fé, só resta a espada para defender uma ou impor a outra.

28 de Agosto, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «O primeiro sinal de patranha e hipocrisia intelectual e emocional é o erguer de muros que visam proteger algo da crítica — não se pode usar a crítica aqui porque é “redutor”, porque a realidade ultrapassa o pensamento, porque o sentir é uma “dimensão outra” do ser humano, porque é blasfemo pôr em causa a tradição religiosa secular, porque o método científico é muito limitado, porque a racionalidade está ultrapassada, etc. Trocando por miúdos, o que isto quer dizer é: «não me venham com perguntas difíceis, que me lixam o meu sistema de crenças, confortável e seguro, pois eu quero que isto seja verdade — afinal, não era tão bom que fosse mesmo verdade?»»(«Verdade e crença: uma confusão filosófica comum», no De Rerum Natura)
  2. «Um descrente não põe em causa que um crente sente o que diz sentir por um deus ou outro. O descrente põe é em causa que tais sentimentos sejam adequados, por pôr em causa a existência do objecto de tais sentimentos. O que está em causa não é a existência de tais sentimentos, mas a sua razoabilidade e adequação. Um louco também tem sentimentos, igualmente reais enquanto sentimentos, relativamente ao fantasma do Napoleão, que o acompanha sempre e lhe sussurra segredos ao ouvido.

    […] o sistema de funcionamento das religiões não obedece a procedimentos de virtude epistémica: não há sistemas de controlo de erros, procura activa de contra-provas, de objecções, de testes cegos, liberdade de argumentação, acolhimento do debate frontal. Pelo contrário, as religiões caracterizam-se por partir dos conceitos de blasfémia e opinião herética, aceitam que determinadas ideias não devem sequer ser debatidas, e que quem as defende tem de ser excomungado. E por isso nenhuma crença pode racionalmente basear-se nas instituições religiosas.

    […] Mas não me parece aceitável, e é a isso que eu chamo hipocrisia e desonestidade intelectual, fingir que temos argumentos sólidos a favor das nossas crenças religiosas quando na realidade não os temos e nem estaríamos dispostos a abandonar tais crenças caso encontrássemos argumentos irrespondíveis contra elas. Isto seria como um fumador recusar-se a reconhecer que o tabaco não é saudável, só para poder manter a ideia falsa, mas reconfortante, de que é uma pessoa razoável, reflectida e racional. »Será razoável acreditar em deuses sem provas?», no De Rerum Natura)

  3. «O cientista considera que vivemos uma nova era de obscurantismo, que dura há aproximadamente 30 anos. Uma era em que “a verdade deixou de ser importante, e os dogmas e a irracionalidade passaram outra vez a ser respeitáveis”. Uma era em que as pessoas são “iludidas a pensar que serão recompensadas com o paraíso por se suicidarem matando outros”, em que bispos atribuem as recentes cheias em Inglaterra à vingança de uma divindade e em que “professores de ciências começam a acreditar que a Terra foi criada há 6000 anos”»O Sono da Razão: haja velas para tanta escuridão», no De Rerum Natura)
28 de Agosto, 2007 Ricardo Alves

Censura

Enquanto na Suécia um jornal publica uma caricatura de Maomé sem qualquer problema, na Malásia a publicação de uma caricatura de Cristo implica a suspensão durante um mês de um jornal. Note-se que a caricatura do jornal sueco exibia um cão com cara de Maomé, enquanto a do jornal malaio mostrava Cristo com um cigarro numa mão e uma cerveja na outra. E que no segundo caso houve pedido de desculpas, e no primeiro não. Porque a diferença real não está nem no profeta, nem no credo respectivo, nem nas pressões internacionais. Está no regime político.