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Dia: 19 de Agosto, 2007

19 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

A procissão da Senhora das Neves

Às dez horas da noite, da penumbra do meu quintal, vi passar uma procissão. Numa padiola viajava a Senhora das Neves cujas festas juntam os veraneantes que vêm passar uns dias aos lugares da infância.

A ICAR festeja a Senhora das Neves em meados de Agosto e não se lembrou ainda de inventar uma Senhora da Canícula para promover uma procissão em Fevereiro.

O padre, com voz de tenor, marcava o ritmo das ave-marias e o passo. Nas mãos dos crentes tremulavam velas com protecção de papel para evitar que a chama se apagasse. Cansado das ave-marias o padre atacou uma cantoria e contagiou a assistência. E lá se sumiram por outra rua no piedoso passeio à volta da vila, dentro das muralhas.

No céu estalejaram dois ou três foguetes a desafiar a proibição e os fogos. A Senhora merece o barulho e a despesa.

Fechavam o cortejo três carrinhos de bebé empurrados pelos progenitores e um cão.

Despachadas a fé e as orações, recolhidos o andor e o pálio, arrecadados os paramentos e as alfaias sagradas, começou o baile com corpos lânguidos ao som de música profana. Julguei que as homenagens à santa terminassem aí. O espanto apodera-se de mim enquanto escrevo este post. Um festival de pirotécnica começou vinte minutos antes das duas horas da madrugada e o fogo de artifício brilhou nas mais diversas cores até à hora certa com o ruído infernal da explosão das bombas. Afinal este atentado não é proibido ou, então, é uma provocação pia às leis e um massacre aos tímpanos.

A música continua e os decibéis são audíveis nas aldeias mais próximas. A fé quer-se ruidosa. Os santos são surdos mas é preciso castigar os ímpios. Agora já posso dormir. Falta publicar o post.