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Dia: 31 de Maio, 2007

31 de Maio, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Mas a crença teimosa não é a pior de todas. A pior de todas é a crença que se vê como virtude. Como o racismo extremo. É uma opinião (errada) acerca de algumas características humanas, é tida como certeza absoluta mas, mais ainda, é vista como uma virtude. Para o racista, o racismo é um dever moral. É assim que deve ser, e é moralmente errado não ser racista.

    A crença religiosa também é assim. Não é a crença de todos os religiosos, porque há muitos religiosos com formas diferentes de crer. Mas a religião apregoa a virtude da certeza absoluta. Os crentes fieis são recompensados. Os que renegam a crença cometem o maior pecado. São traidores. A dúvida é má e condenável. […]

    É isto que me separa mais da religião. Não é a proposição «Deus existe». Acho que é falsa, mas mudarei de opinião se as evidências justificarem. Nem é o problema da certeza absoluta. Já me enganei vezes demais para ter certezas absolutas, mas como duvidar requer algum esforço pode ser que um momento de fraqueza ou aflição me faça esquecer a dúvida. Mas só com uma grande pancada é que consideraria uma virtude ter tal certeza sem qualquer evidência.»Crenças, crenças, e crenças.», no Que Treta!)

  2. «Resta saber se estes poucos verdadeiros cristãos os quais Ratzinger diz querer pastorear são suficientes para compensar esta esta estrutura política de propaganda que chamamos de Igreja. Porque é inegável que o cristianismo é essencialmente proselitista, necessita de pregadores para espalhar a “boa nova”; ainda no berço, o cristianismo destruiu templos pagãos e adaptou a maioria para servir ao próprio culto, do mesmo modo que Mehmet II fez com a Santa Sofia.» («Propaganda é Violência», no Pugnacitas)
  3. «Afirmar que não se sabe se deus, ou melhor um deus existe ou não porque nunca se viu é o mesmo que afirmar que não se sabe se existem marcianos ou cavalos verdes, porque nunca se viu nenhum.[…]

    o agnosticismo é a ausência de racionalização dos problemas, a religião é a transferência desses problemas (passar a batata-quente) e o ateismo é a assunção desses problemas de frente e com a coragem que a vida nos exige.»(«Agnósticos, ateus e religiões», no Croquete-matinal)

31 de Maio, 2007 Carlos Esperança

Demência mística

Há uma entidade nosológica que nunca vi abordada em tratados de psiquiatria nem ser objecto de comunicações científicas – a demência mística.

Não me refiro às bruxas que a santa Inquisição queimava após confessarem as relações sexuais com o diabo. Os métodos cristãos de investigação podem ter levado, nalguns casos, a falsas confissões enquanto, sob as sotainas, os pios inquisidores entravam em êxtase com divinos orgasmos.

Compreendo o gozo espiritual (não podia ser outro) de Teresinha de Ávila quando Jesus a visitava na cela, entusiasmo que a Irmã Lúcia não sentiu em Tui, por ser mais contida e ter visões mais pudicas.

Se os crentes têm visões que lhes pode valer a canonização, na sequência da clausura, dos jejuns ou de cogumelos, já não se percebe que a mesma síndrome afecte os clérigos.

É ocioso recordar as lucubrações sadomasoquistas dos clérigos medievais da ICAR, mas talvez valha a pena transcrever dois parágrafos do Jornal de Notícias, de hoje, a respeito de um membro do clero islâmico:

«O clérigo egípcio Ezzat Attiya, responsável pelo Departamento dos Ensinamentos do Profeta da Universidade de Al-Azhar (escreve a AP que se trata da a mais prestigiada universidade sunita), emitiu uma “fatwa” decretando que as mulheres que trabalham devem dar de mamar aos colegas de emprego.
A razão de Attiya é limpidamente simples: assim criar-se-ão laços maternais-filiais nos locais de trabalho e deixará de haver tentações eróticas entre colegas já que o tabu do incesto, Alá seja louvado, não permitirá tal coisa. Leio e, como diz Bataille, rio-me porque tenho medo».

Pessoalmente, nada tenho contra. O pior é se têm leite.

31 de Maio, 2007 Carlos Esperança

O Papa e o proselitismo

O Papa adverte do risco de que Igreja «se encerre em si mesma» no Ocidente.

O que o Papa propõe não é o aprofundamento da fé dos católicos, é o proselitismo junto dos que se recusam a crença nos milagres que inventa, nos quartos que aluga no Paraíso e nas formas de pagamento.

O Papa é o monarca absoluto e vitalício, nomeado por um anacrónico e corrupto colégio eleitoral, que, após a saída do fumo branco, se torna infalível e adorado pela multidão de fiéis que logo se ajoelham. Se, em vez do Papa, fosse o padeiro a assomar à janela dos aposentos pontifícios, vestido de branco, com a tiara na cabeça, seria o mesmo delírio, a mesma euforia beata, igual irracionalidade a percorrer os convictos do costume.

O regedor do Vaticano não é o único fundamentalista, nem o último, mas é dos mais perigosos. Goza da categoria de chefe de Estado do bairro de 44 hectares que Mussolini lhe outorgou nos acordos de Latrão, tem um exército de sotainas e seitas motivadas para o martírio e arrasta a comunicação social e imensos recursos financeiros.

Cria santos, mártires e cardeais como nas Caldas da Rainha os oleiros fazem lembranças e tem perante a fé a mesma obsessão das multinacionais – o monopólio.

Não é a divulgação de preconceitos aos fiéis que assusta, é o espírito totalitário com que pretende impor a superstição a todos, moldar pessoas de acordo com o seu paradigma e erradicar do planeta os ateus, agnósticos, livres-pensadores e todos os concorrentes.

A laicidade do Estado é a única forma de pôr freio nos dentes à deriva totalitária que contamina os adoradores de Deus e impedir que o mundo se converta numa arena onde se digladiam os idólatras de mitos diferentes ou de diferentes concepções do mesmo.