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Dia: 16 de Abril, 2007

16 de Abril, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «O pensamento científico não parte deste ou daquele pressuposto para depois aceitar as suas consequências. Isso é o que faz o pensamento religioso: aceita, por exemplo, que um determinado livro tradicional, registo escrito de tradições orais anteriores, emana directamente de Deus – e raciocina a partir daí. Na ciência interroga-se tudo. Na religião aceita-se por fé mitos fundadores – que um homem nasceu de uma virgem, que esse homem depois de morto ressuscitou, no caso do cristianismo – cuja veracidade não pode ser colocada em causa sem se ser considerado blasfemo e contra a ortodoxia. Filosofar e fazer ciência é ser heterodoxo, interrogar e pôr tudo em causa. Dar respostas fechadas, que confortam os crentes, é o que faz a religião. São atitudes muito diferentes.» («Os pressupostos», no De Rerum Natura)
  2. «É assim que sabemos que os Blin existem. Podemos conceber algo tão Blin que nada pode ser concebido que seja mais Blin. Ora se esse algo não existisse, poderíamos conceber algo idêntico mas existente, e que, por existir, seria mais Blin que o Blin que não existe. Daqui se prova, a priori, que os Blin existem. É uma prova irrefutável por duas razões. Por não estar dependente do conhecimento empírico, que sabemos ser sempre falível, e por ser tão obscura e confusa que ninguém a pode refutar.» («A Blinologia do Supra-Empírico», no Que Treta!)
  3. «Bento XVI aceita com relutância a teoria da evolução, que diz que todas as espécies modernas surgiram por um processo natural, cego, sem propósito. Ao mesmo tempo diz que há outra dimensão da razão em que foi exactamente o contrário. É tão absurdo como aceitar a astronomia moderna e defender que, noutra dimensão da razão, a Terra está no centro do universo, é plana, e assenta em quatro elefantes e uma tartaruga.

    Não há várias dimensões da razão. Há apenas a necessidade de alguns de arranjar um cantinho onde esconder as suas superstições das evidências que as refutam. E isso não é razão; é precisamente o contrário.» («Dimensões da Razão.», no Que Treta!)

16 de Abril, 2007 jvasco

O Rei vai nu

Todos conhecem a história: dois indivíduos fazendo-se passar por alfaiates prometem ao Rei criar o fato mais extraordinário alguma vez visto. O fato é tão belo que os tolos serão incapazes de o ver. Os alfaiates alegam necessitar de ouro, prata, diamantes e outras joias para produzir o fato, mas trabalham sem usar qualquer material. Os conselheiros do Rei ou membros do governo que os vêem a trabalhar sem usar qualquer tecido ou material, têm medo de passar por tolos por não ver tecido nenhum. Alguns deles mentem deliberadamente dizendo que o vestido é deslumbrante; enquanto outros se enganam a si próprios e começam a imaginar as belas cores e formas do fato, tomando-as como reais.
Quando os indivíduos apresentam ao Rei o fato, afirmando estar completo, o Rei também não vê nada. Mas por medo de parecer tolo diante de toda a sua corte que via o fato com clareza, afirma vê-lo e considerá-lo extraordinariamente belo.
O Rei decide então desfilar na rua com o alegado fato vestido. Ninguém quer reconhecer que está a ver o Rei nu, pois sabe que isso será visto como uma limitação da sua parte. Uma criancinha não liga a este problema e diz clarmente que o Rei vai nu.

No conto de Hans Christian Andersen as pessoas reconhecem então o óbvio: tinham sido enganadas – a criança tem razão.
Mas logo da primeira vez que ouvi esta história sempre achei esta última parte muito pouco plausível. Ainda me lembro, quando era eu próprio uma criança, de perguntar «mas então porque é que eles não pensam apenas que a criança é tola?»

A verdade é que quem protege uma crença ao ponto de imaginar um fato que não existe não vai reconsiderar apenas porque uma criança não partilha de tal crença – a explicação dada pelos alfaiates seria mais do que suficiente para que o episódio não constituisse qualquer problema.
Aquilo que me pareceria plausível, face a tal situação, é que todos aqueles que alegassem ver o fato do Rei o continuassem a fazer. Rir-se-iam um pouco das limitações da criança e o Rei continuaria o seu caminho – nu.

Nem o facto dos conselheiros e ministros verem cores e formas diferentes no fato tinha desmotivado a crença geral na beleza do mesmo. Não seria aquela criança que o faria.

E até tenho um bom exemplo: a religião.
O clero alega que existe um Deus que responde às orações, mas tudo indica que nenhum Deus responde a qualquer prece. Todos os efeitos que as pessoas alegam advir das orações poderiam acontecer sem as mesmas, e não acontecem com mais frequência com quem reza.
A verdade é essa: o cancro não poupa mais os crentes do que os ateus, nem nenhuma doença conhecida. Na verdade já se sabe que rezar por um doente não tem qualquer efeito na probabilidade deste se curar.
O mundo e a vida tem coisas maravilhosas e coisas terríveis, e para todas elas uma explicação natural mais convincente que qualquer explicação religiosa.

No entanto, mesmo que alguns ateus digam «estão a ver coisas que não existem e a enriquecer o clero inutilmente» – muitas pessoas encaram isso apenas como uma limitação dos ateus, que não conseguem ter acesso à «dimensão espiritual».

É como a limitação da criancinha que não conseguia ver o fato que não existia…

16 de Abril, 2007 Carlos Esperança

Os marginais do Estado de direito


Dura lex sed lex


O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Sr. Jorge Ortiga, prometeu hoje em Fátima oposição da Igreja Católica à nova lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, que transformou o aborto num direito, com “colaboração activa do Estado”.

16 de Abril, 2007 Ricardo Alves

Miscelânea de notícias (16/4/2007)

  1. O líder da maioria (democrática) do Congresso dos EUA, Steny Hoyer, encontrou-se no Cairo com um dirigente da Irmandade Muçulmana. A Irmandade Muçulmana está proibida no Egipto desde 1954. Um dos seus dirigentes, Sayid Qutb, foi o principal teórico do islamo-fascismo sunita. A jihad islâmica egípcia e outros grupos armados islamistas, como a Al-Qaeda, tiveram a sua origem em dissidências na Irmandade Muçulmana, que constitui hoje algo de semelhante a uma internacional islamista sunita. Não é claro se no encontro do Cairo se discutiu um possível plano de tréguas.
  2. Numa convenção, os sindicatos de professores do Reino Unido votaram uma moção pedindo que o governo deixe de financiar as escolas religiosas, muitas das quais sobrevivem à custa de subsídios do Estado, embora discriminem os alunos por critérios religiosos. A moção avisa que as escolas religiosas (anglicanas, católicas, muçulmanas, judaicas…) têm agravado a segregação social (um caso típico é a Irlanda do Norte). Algumas destas escolas parecem ser também uma das causas das gravidezes na adolescência, devido à sua insistência em programas de educação sexual irrealistas e contrários à própria natureza humana, em que se defende a total abstinência sexual.
  3. O ateísmo tem cada vez maior notoriedade e influência na Europa ocidental (talvez a região mais secularizada do mundo desenvolvido). Michel Onfray, o filósofo francês ateu e hedonista, acaba de publicar um novo livro, «La puissance d´exister». Em declarações à imprensa, diz que a fundação de toda a moral é «gozar e fazer os outros gozar sem fazer mal a si próprio ou aos outros». Não está mal como princípio.
16 de Abril, 2007 Carlos Esperança

Ordem dos advogados condenada

«O Tribunal Central Administrativo do Norte condenou a OA por violação da liberdade religiosa.

Em causa estava o pedido de alteração da data do exame de uma advogada estagiária, membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia (cujo dia santo é o sábado). A OA recusou, mas foi obrigada pelo tribunal a marcar nova prova».
Fonte: Público, hoje.

Comentário: Ainda bem que nem todos os dias são santos.

16 de Abril, 2007 Carlos Esperança

Turquia – Protesto pró-secularista

Mais de 150 mil pessoas participaram sábado numa manifestação na capital da Turquia, Ancara, para pedir que a política e a religião permaneçam separadas.

Não haja ilusões. Há uma guerra entre o fundamentalismo religioso e o laicismo e não há democracia sem separação da Igreja e do Estado. No Islão como no Cristianismo.

Na Turquia, que muitos querem fora da União Europeia, sem enjeitarem que lhe guarde as costas através das divisões da NATO, joga-se a segurança da Europa. A tradição laica está em perigo com as constantes arremetidas do clero islâmico e a vontade prosélita de transformar a república em mais uma teocracia.

O Vaticano também não ajuda com as constantes intromissões na política dos países que gostaria de voltar a ver como protectorados. Na Espanha, Polónia, França e em Portugal (como se viu no referendo do aborto) a tentação política é mais forte do que a vocação pia.

A Turquia tem uma elite culta, juízes e militares afoitos na defesa da Constituição laica, e um respeito enorme pelo fundador da Turquia moderna mas a democracia encontra-se numa encruzilhada – ceder à tendência islâmica, que se afigura maioritária, ou tornar-se uma ditadura que defende o pluralismo religioso.

O problema da F.I.S. (Frente Islâmica de Salvação) que ganhou as eleições na Argélia e foi ilegalizada pode repetir-se na Turquia.

O que é a democracia, a vontade da maioria ou o respeito pelas minorias? Falará mais alto a memória de Kemal Ataturk ou os sermões exaltados do clero islâmico?