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Dia: 12 de Outubro, 2006

12 de Outubro, 2006 lrodrigues

A Mãe de Deus

O dia 13 de Outubro é uma data de extrema importância para os católicos de todo o mundo.

De facto, foi no dia 13 de Outubro de 1917 que a mãe de Deus, ela própria, em pessoa, em directo e ao vivo, apareceu pela sexta vez aos três videntes de Fátima, tal como tinha anunciado que ia fazer no dia 13 de Maio desse mesmo ano.

Nesse dia 13 de Outubro, a Virgem Maria, decerto cansada que a tratassem por esse nome (ela lá saberá porquê), disse aos três videntes que queria passar a ser tratada por outro nome mais actualizado.
E disse-lhes então: eu sou a «Nossa Senhora do Rosário».
Segundo rezam as crónicas da época, os videntes não acharam estranho que a mãe de Deus se referisse a ela própria por «Nossa», em vez de «Vossa». Mas isso é um pormenor de somenos importância.

Já que estava ali sem fazer nada, a Vossa Senhora do Rosário aproveitou a oportunidade e resolveu anunciar que queria que no local das aparições fosse construída uma capela em sua honra.
E lá lhe fizeram a vontade, não fosse o Diabo tecê-las. Olá se fizeram!

Rezam ainda as crónicas da época que foi nesse dia que o Sol dançou no céu.
Embora não se conheça ninguém em concreto que tivesse presenciado este milagre, pois todas as pessoas que foram inquiridas individualmente negaram ter visto alguma coisa digna de nota, o que é facto é que para todos os efeitos o Sol dançou, e isso é o que interessa.

Mas o verdadeiro significado das aparições da Cova da Iria é outro completamente diferente e muito mais importante.
Vejamos então:

Um belo dia a mãe do Deus pai, do Deus filho e do Deus Espírito Santo, isto é, a mãe desta gente toda, resolveu vir ao planeta Terra transmitir uma mensagem aos humanos.
Andava preocupada com a gente, coitada.

E então, decerto persuadida da enorme importância desta divina mensagem, a santa progenitora escolheu como seus interlocutores nada menos do que três pastores analfabetos e meio atrasados mentais.
Ainda por cima as «sopas de cavalo cansado» não os tinham ajudado nada, coitados.

Nunca ninguém lhe perguntou a razão desta escolha. Mas da parte de quem gostava de aparecer às pessoas em cima das árvores, também nada é de estranhar.

Dado o inegável significado simbólico e atenta até a enorme relevância para a História da Humanidade, a mensagem foi de início considerada um segredo divino.
Só foi conhecida aos bochechos e depois de cuidadosamente dividida em três partes.

Na primeira parte, esta senhora «mais brilhante que o Sol» resolveu dedicar-se às banalidades. E lá entendeu dizer aos visionários que deviam rezar muito.
Sim, porque Deus gosta muito que lhe rezem. Faz-lhe bem ao ego, dizem.

Na segunda parte, resolveu dedicar-se às previsões e à futurologia. E lá entendeu por bem prever que a Guerra acabava nesse ano de 1917 e que os soldados portugueses já estariam de volta ao solo pátrio pelo Natal.
O pior foi que a I Guerra Mundial, a tal guerra de 1914-18 acabou, tal como o próprio nome indica, no ano de 1918.
Então não querem lá ver que a mãe de Deus se enganou, coitada?

Finalmente, a terceira e última parte a ser conhecida, aliás mais de meio século depois, fazia mais uma previsão. Desta vez de um atentado ao Papa.
O pior é que as previsões que são conhecidas depois dos acontecimentos que predizem ainda são piores que os prognósticos feitos no fim do jogo.

Ou seja, quer isto dizer que, nesta insigne e extraordinária mensagem transmitida aos Homens, a mãe de Deus numa parte fez um prognóstico no fim do jogo, noutra disse uma banalidade e na terceira, coitadita… enganou-se!

O que é facto é que ainda hoje me custa a entender por que raio terá a mãe de Deus resolvido um belo dia vir à Terra insultar desta maneira os católicos de todo o mundo…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

12 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

Ortiga contra Policarpo

Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse ontem que o aborto «tem que ser também uma questão religiosa». O arcebispo de Braga da ICAR entrou assim em clara contradição com o cardeal-patriarca de Lisboa da mesma igreja, José Policarpo, que afirmara recentemente que o aborto «não é um problema religioso».

As divergências teológicas entre estas duas figuras reflectem-se nas questões operacionais: enquanto Policarpo, o anterior presidente da CEP, afirmou que «queria que fossem os leigos, os pais de família e os médicos a liderar a campanha do “não”», o actual presidente da mesma CEP garante que a ICAR «não se alheará» da campanha anti-escolha e pró-prisão, e não descarta a participação activa da sua seita e o exercício da manipulação religiosa, prometendo explicitamente que «[irá] alertar todos os cidadãos para que votem em consciência e de acordo com a sua fé».

Os dois homens que dirigem a mais importante organização autoritária de Portugal aparecem assim divididos entre a postura mais fundamentalista do bispo bracarense e a atitude mais cautelosa do bispo lisboeta…
12 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

O Vaticano encerrou o Limbo

O Papa JP2, supersticioso e crente em Deus, acabou com o Inferno embora sem efeitos retroactivos. Ainda existia quando Cristo foi visitar a Irmã Lúcia e lhe deu uma bolsa de estudo para visitar o reino de Satanás onde, por coincidência, estava o Administrador do concelho de Ourém, que faltava à missa, resistia o incenso e não consumia água benta.

Agora o Papa Rätzinger acaba com o Limbo. Não há direito. Encerra o parqueamento que, por usucapião, estava reservado à minha descendência para toda a eternidade.

O Sapatinhos Vermelhos foi mais rápido a acabar com o estacionamento das almas que não sofreram a tortura do baptismo, aberto por Santo Agostinho no Século V, do que a reconhecer a teoria da Evolução das Espécies. Esta é ciência, o Limbo é um direito de superfície com prazo de validade sujeito ao poder discricionário do Papa.

A partir de agora, resta para os crentes o Céu. Não sei se o Paraíso arrendado pelo Papa tem virgens e rios de mel para oferecer aos utentes que pagam a taxa moderadora em orações e, sobretudo, em dinheiro. As virgens são inúteis e o mel faz mal às glicemias.

Com a alienação do Purgatório, Inferno e Limbo o património imobiliário celeste fica reduzido a uma courela para Deus jogar às cartas com o Filho, o Espírito Santo e o Papa enquanto S. José serve as bebidas e a Virgem Maria faz as lides da casa.

A pouco e pouco, vai o Céu ruindo e da imensa burla ficam os garridos paramentos com que a clericanalha ganhou a vida durante séculos.

Nota: O encerramento tinha sido previsto pela Palmira em «Os Vagabundos do Limbo».

12 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Ideologia neo-conservadora contra a ciência

Um artigo do astrofísico Rui Curado Silva simplesmente a não perder no Cinco Dias. Que apenas resume o que há anos vimos denunciando no Diário Ateísta. Um pequeno excerto:

«O novo livro de Richard Dawkins (autor de ‘O Gene Egoísta’) intitulado The God Delusion e a edição hors-série a lançar no próximo dia 8 da revista Ciel et Espace, L’Univers a-t-il besoin de Dieu, são duas respostas enérgicas de quem na comunidade científica já percebeu o carácter organizado e profundamente político da tentativa medieval de retorno ao criacionismo.

O padrão que encontramos nestes ataques à ciência encaixam perfeitamente nos mecanismos de controlo social da ideologia neo-conservadora: o controlo do indivíduo através de um moralismo religioso validado por fraudes científicas e o controlo do colectivo confinando o grosso do lucro e da produtividade a grupos empresariais fiéis à ideologia (industrias do petróleo, tabaco e sector alimentar). A tentativa de introdução do criacionismo nas escolas é um exemplo do primeiro mecanismo e o negacionismo do aquecimento global é um exemplo de tentativa de eliminação de obstáculos ao bom funcionamento do segundo. »

12 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Outra guerra dos cartoons?

Um grupo intitulado «Defending Denmark» infiltrou a juventude do partido Danish People’s Party para «documentar as suas associações de extrema-direita». Uma dessas documentações foi um vídeo filmado no campo de Verão da juventude partidária e mostrava um concurso de «desenho» em que os jovens se entretiveram a desenhar cartoons de Maomé, entre outros cartoons alusivos ao terrorismo islâmico.

O filme foi colocado no Youtube (agora retirado) e depois transmitido em dois canais da televisão dinamarquesa.

O primeiro ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que os excertos do vído transmitidos o foram não para «provocar os muçulmanos mas sim para ilustrar o assunto».

Esta explicação não obstou a que o Irão e a Irmandade Muçulmana, mais uma vez confundindo as acções de alguns com uma posição oficial, reagissem contra o sucedido ululando que os cartoons são insultuosos ao Islão e um grupo militante em Gaza ameaçasse os dinamarqueses que se encontram na Palestina. Os governos iraniano e indonésio exigiram explicações aos respectivos embaixadores dinamarqueses. A maioria dos deputados iranianos pediu ao presidente Ahmadinejad para suspender as relações diplomáticas com a Dinamarca.

Ontem a embaixada da Dinamarca em Teerão foi atacada com cocktails molotov e encontra-se temporariamente encerrada.

O governo dinamarquês, entretanto, avisou os seus cidadãos para não visitarem alguns países muçulmanos e espera o conteúdo das orações de sexta-feira para ver se o incidente vai acender outra guerra dos cartoons.

O ministro dos negócios estrangeiros, Per Stig Moller, afirmou numa conferência de imprensa que:

«Nós vamos esperar pelas orações de sexta-feira (no mundo muçulmano) e se nada acontecer talvez este assunto seja ultrapassado».