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Dia: 7 de Outubro, 2006

7 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Violência nos subúrbios de Paris

Michel Thoomis, secretário geral do sindicato Acção Polícia, escreveu uma carta ao ministro do interior francês avisando Nicolas Sarkozy de que decorre uma intifada não declarada contra a polícia nas ruas dos bairros sociais de Paris, que albergam um grande número de desempregados de origem magrebina.

De acordo com este sindicalista, que pede carros blindados e canhões de água para controlar a situação:

«Nós estamos num estado de guerra civil, orquestrada por radicais islâmicos. Já não se trata de uma questão de violência urbana, é uma intifada com pedras e cocktails Molotov. Já não se vê dois ou três jovens enfrentando a polícia, vê-se blocos de edíficios a serem despejados nas ruas para libertar os ‘camaradas’ quando estes são presos».

O número de ataques à polícia aumentou cerca de 33% nos dois últimos anos e os polícias, especialmente os que patrulham estas zonas em pequenos grupos, são imediatamente atacados mal tentam prender algum dos habitantes destes bairros problemáticos.

Algumas fontes da polícia francesa insistem no entanto que o problema é essencialmente criminoso, uma reacção dos patrões do crime organizado destes bairros às políticas duras de combate à criminalidade do ministro do interior, que é um dos mais fortes candidatos do centro-direita às eleições presidenciais de Abril próximo.

Uma destas fontes afirmou ao Figaro que essas políticas «destruiram a economia paralela dos bairros sociais» e segundo Gerard Demarcq, do maior sindicato policial francês, o aumento do número de ataques à polícia apenas reflecte o facto de que esta recuperou território anteriormente na posse de bandos criminosos, traficantes de drogas e outros marginais.

Os presidentes de câmara dos subúrbios mais afectados, os mesmos que há um ano assistiram a semanas de violentos tumultos e à destruição pelo fogo de centenas de carros, já expressaram a sua preocupação sobre as novas tácticas policiais, mais musculadas, de combate à criminalidade que segundo eles conduzem a um círculo vicioso, isto é, que a acção policial destinada a erradicar o crime organizado das suas comarcas agravará o resentimento dos locais.

Les Mureaux, subúrbio parisiense constituído por 46% de habitação social, conheceu outro tumulto no passado fim de semana, com vários polícias feridos e um carro da polícia incendiado. Na quarta-feira, cerca de 100 polícias – e alguns jornalistas- efectuaram um raid matinal num dos bairros mais problemáticos deste subúrbio, des Musiciens. Esta reacção da polícia às agressões sofridas tem levantado alguma celeuma em França e já motivou um pedido de explicação ao ministro do Interior por parte do Partido Socialista francês.

7 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Prémio Nobel da Química 2006

O investigador norte-americano Roger D. Kornberg foi ontem distinguido com o Prémio Nobel da Química 2006. O cientista foi galardoado pelo seu trabalho sobre «a base molecular da transcrição eucariótica».

A resolução da estrutura atómica da ARN polimerase serviu de base a um trabalho extremamente elegante que foi decisivo para elucidar a nível molecular o mecanismo de transcrição em eucariotas ou eucariontes (organismos cujos células têm núcleo- todos os organismos multicelulares são eucariotas).

A transcrição é a leitura da informação contida nos genes ou fragmentos de ADN, informação transcrita numa molécula de ARN que é complementar à cadeia da dupla hélice de ADN «lida». É o primeiro de dois passos, transcrição e tradução referidos conjuntamente como expressão génica, necessários à produção de proteínas. A transcrição não se limita à expressão de proteínas já que o ARN tem outras funções para além de servir de ponte entre o ADN e a produção de proteínas.

A ARN polimerase é a principal enzima do complexo enzimático responsável pela transcrição do ADN em ARN. Ao contrário dos procariotas ou procariontes – organismos unicelulares, por exemplo bactérias, cujas células não têm núcleo – onde o processo de transcrição é relativamente simples, com apenas um co-factor designado por factor sigma, nos eucariotas existem uma série de co-factores necessários à transcrição, os factores de transcrição ou TFs.

Esta complicada coreografia molecular está directamente relacionada com o grau de complexidade celular encontrado nos organismos multicelulares. Estes organismos apresentam células especializadas, como um neurónio ou uma célula muscular, que necessitam expressar diferentes proteínas, isto é, de activar genes diferentes. Ou seja, a transcrição selectiva das dezenas de milhares de genes presentes numa célula determinam se esta se transformará num neurónio, numa célula muscular, do fígado ou se se mantém estaminal. E determinam se uma dada célula se desenvolve normalmente ou se transforma numa célula cancerígena.

Investigar como são activados os genes é uma questão fundamental em biologia, necessária, por exemplo, à diferenciação optimizada de células estaminais numa futura medicina regenerativa.

Enquanto o prémio Nobel da Química trata da activação e transcrição de genes, o prémio Nobel da Fisiologia e Medicina, atribuído segunda-feira aos investigadores norte-americanos Andrew Fire e Craig Mello, tem a ver com a desactivação ou silenciamento de genes.

De facto, os dois cientistas foram galardoados pela sua descoberta da interferência de RNA (RNAi), mecanismo que permite silenciar genes introduzindo na célula uma curta cadeia dupla de RNA complementar à sequência de RNA do gene a silenciar. Ou seja, este mecanismo, presente naturalmente não só em animais mas também em plantas como defesa contra vírus e para regular a expressão de cerca de 30% dos genes, permite, de forma simples e eficaz, manipular a expressão de um determinado gene. Para além de ser fulcral na investigação da função de uma determinada proteína, pode suprimir a expressão de uma proteína que esteja na origem de uma determinada patologia.

Por exemplo, pode ajudar a controlar os níveis de colesterol, como indicam estudos preliminares realizados em primatas em que se silenciou o gene que codifica uma proteína envolvida no transporte e metabolismo do «mau» colesterol.