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Dia: 12 de Setembro, 2006

12 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Tietmeyer no Banco do Vaticano

O arcebispo Paul Marcinkus transformou o Banco do Vaticano em caso de polícia e em antecâmara da morte para os principais comparsas do escândalo. O Papa B16 procurou agora um especialista do ramo bancário que aliasse conhecimentos das finanças e devoção religiosa.

O Banco do Vaticano é a caixa central das esmolas que pagam prestações da assoalhada da alma com sede no condomínio do Paraíso. Outras verbas pias lá vão parar, oriundas da lavagem de dinheiro ou de relações suspeitas, como outrora o ouro nazi extorquido aos judeus.

Para reabilitar o Banco (IOR) das patifarias que JP2 consentiu, desde empréstimos ao ditador Somoza à lavagem de dinheiro do tráfico de armas e à subvenção do sindicato Solidariedade, B16 vai nomear Hans Tietmeyer, o antigo presidente do banco central alemão – Bundesbank.

Além de ser um banqueiro respeitado, incapaz das patifarias de um arcebispo, estudou teologia, é um católico com sacramentos em dia, membro da Academia Pontifícia de Ciências Sociais e com dois irmãos padres.

Desta vez o banco do Vaticano vai passar a ser uma instituição séria apesar da localização da sede.

12 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Pacheco Pereira com alguns equívocos

No Prós e Contras de ontem, ouvi Pacheco Pereira repetir a tese de que a laicidade dos EUA teria resultado do cristianismo evangélico, à época desconfiado da interferência do Estado nas igrejas. É verdade, mas é só meia verdade. A outra metade da verdade é que a laicidade fundacional dos EUA foi estabelecida por livres pensadores como Thomas Jefferson e James Madison, que teologicamente se encontravam no pólo oposto do cristianismo evangélico, pois pertenciam a igrejas protestantes liberais (como os quakers ou os unitários), ou não tinham qualquer prática religiosa. A laicidade dos EUA deveu-se, portanto, a uma confluência entre os que desconfiavam da interferência das igrejas no Estado e os que temiam a influência do Estado nas igrejas. De fora, ficaram aqueles que vinham da tradição das igrejas de Estado, caso dos anglicanos e dos católicos.

Pacheco Pereira terá também distinguido entre a fé profunda e impositiva de Bin Laden, e a fé profunda mas não impositiva de Bush. Em rigor, Bush é o presidente da História recente dos EUA que mais se tem esforçado por contornar a proibição constitucional ao apoio financeiro a comunidades religiosas (através das chamadas «faith-based initiatives»), e já referiu «Deus» mais vezes nos seus quase seis anos de poder do que os seis primeiros presidentes dos EUA na totalidade dos seus mandatos (muitas vezes contribuindo para envenenar com as suas crenças pessoais debates públicos sobre casamento ou investigação científica). Mas embora seja evidente que Bush é um ultraconservador que dirige uma democracia e que Bin Laden é um fanático que lidera um movimento islamo-fascista, não se combate um integrismo estrangeiro contemporizando com os fundamentalistas caseiros. Sem coerência, não há credibilidade.

[Também no Esquerda Republicana.]
12 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Bento XVI diz que o evolucionismo é irracional!

A cruzada de Ratzinger contra a ciência e pelo obscurantismo atingiu hoje o seu auge quando o Papa, que quando abre a boca apenas discursa sobre irracionalidades supostamente reveladas, afirmou que «a teoria da evolução é irracional»!

Na sua última missa em solo alemão, que não passou de uma diatribe pateta e patética contra os cientistas, o ditador do Vaticano mostrou sem máscaras o que desde a sua eleição dizemos: este papado vai ser pautado por uma guerra contra a ciência e contra os cientistas, que Ratzinger acusa «de se empenharem em demonstrar que Deus é inútil para o homem».

De facto, os progressos em medicina, possibilitados pela execrada irracionalidade, a teoria da evolução – por exemplo, alguns antibióticos de última geração são obtidos graças a evolução dirigida – diminuiram consideravelmente a utilidade de Deus, isto é, o mercado dos (pseudo)milagres, e, não obstante as pregações do sumo pontífice para que a SIDA seja curada com a fé, quando alguém está doente vai ao médico não ao padre!

Ratzinger, falaciosamente como seria de esperar, afirmou que a malvada ciência desde o iluminismo «se empenha com astúcia para obter uma explicação do mundo que torne Deus supérfluo», o que é um disparate irracional óbvio. Para além da imbecil astúcia com que mimoseia o propósito da comunidade científica em entender o mundo que nos rodeia – uma blasfémia, uma vez que a palavra «revelada» deveria ser suficiente – na realidade nenhum cientista se empenha de alguma forma em tornar supérfluo uma impossibilidade lógica.

Deus é simplesmente uma hipótese desnecessária em ciência. Mais, é uma hipótese absurda! Em ciência, através da recolha de dados experimentais, simplesmente damos uma explicação racional e natural para os fenómenos observáveis que seja coerente com esses dados e com todo o conhecimento acumulado. Racionalmente, isto é, cientificamente, o que resulta é não ser necessária a intervenção de qualquer factor sobrenatural para explicar o que quer que seja. Da física à química passando pela biologia não há qualquer necessidade de invocar sobrenaturalidades para explicarmos o mundo!

Contrariamente ao que pretende Ratzinger, que «as histórias sobre o homem sem Deus não têm lógica», todas as histórias sobre o homem só são lógicas se não recorrermos a alguma sobrenaturalidade. Deus não é um argumento lógico ou racional. Deus é uma construção humana que é aceite pela fé, que, por definição, dispensa qualquer prova lógica ou racional!

A negação do evolucionismo, o primeiro alvo a abater para a Igreja de Roma nos fazer regredir para a Idade Média, não deveria deixar dúvidas mesmo aos católicos mais distraídos sobre os propósitos deste papado: sob os escombros do concílio Vaticano II a ICAR quer levar-nos de volta ao concílio de Trento. A missa tridentina já fez o seu regresso em força, o obscurantismo supersticioso é agora o objectivo supremo do Vaticano.

Não é difícil prever que dentro em breve a Europa será palco das «guerras da evolução» que assolam os Estados Unidos, ateadas por Bento XVI e alimentadas pelo beatério mais ignaro da nossa praça!

12 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Cartoons do Holocausto publicados na Dinamarca

Cartoon do Al-Wifaq (Irão). O demónio judeu/israelita com uma bandeira dinamarquesa na forquilha diz «Não admito limites à liberdade de expressão excepto em relação ao Holocausto».

Mostrando que o cartoon reproduzido não corresponde à realidade, um jornal dinamarquês – o Informationpublicou seis dos cartoons sobre o Holocausto em exibição na capital iraniana, Teerão.

Estas seis cartoons integram os cerca de 200 escollhidos entre os mais de 1100 cartoons enviados à competição a nível internacional de cartoons sobre o Holocausto, lançada por em Fevereiro pelo presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad – o tal que é crente fervoroso na proximidade do Yawm al-Qiyamah, o dia do Juízo Final.

Esta competição pretendia testar a liberdade de expressão como um valor fundamental ocidental e surgiu como resposta à publicação dos cartoons sobre Maomé na génese da «guerra» dos cartoons – que trouxe mais violência a um mundo já abalado pela violência decorrente da intolerância das religiões.

Como já afirmei noutro post, o conceito de sátira, o que caracteriza a irreverência e denúncia satírica, é algo completamente alheio quer aos promotores quer aos participantes no concurso. Negar o Holocausto, no qual pereceram 6 milhões de judeus, não se enquadra no objectivo da sátira, castigat ridendo moris, «castigar os costumes pelo riso».

A publicação pelo jornal dinamarquês de 6 destes cartoons, que o editor considera «de mau gosto mas previsíveis», mostra aos fundamentalistas islâmicos que a liberdade de expressão é de facto um valor inabalável na Dinamarca. Assim como em todo o Ocidente.

Mas negar o Holocausto para promover a causa palestina não me parece forma apropriada de sensibilizar o mundo para as atrocidades cometidas contra os palestinos. Como o faz um dos cartoons escolhidos, um cartoon dividido em dois por um muro que de um lado apresenta, sob um sol radioso, uma lápide com uma estrela de David debaixo da qual há um único esqueleto e do outro, noite profunda e uma lápide com Sabra e Shatila inscrito, relembrando o massacre às mãos das milícias cristãs maronitas libanesas, em 16 de Setembro de 1982, de entre 2 300 a 3 500 civis palestinos, enquanto Ariel Sharon assobiava para o lado.

Como diz o editor do jornal, Palle Weis:

«Os nossos leitores ficariam desapontados se não publicássemos os cartoons».