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Dia: 10 de Setembro, 2006

10 de Setembro, 2006 ricardo s carvalho

recortes de steven weinberg, prémio nobel da física de 1979

steven weinberg é um físico norte-americano, nascido em 1933, e vencedor do prémio nobel da física de 1979 (pela combinação das forças electromagnética e fraca na chamada força electrofraca, base do modelo standard da física de partículas moderna). é autor do artigo mais citado de todos os tempos em física teórica de altas energias. ao longo da sua vida, steven weinberg fez muitos comentários sobre religião. fazemos aqui uma colectânea (de fontes diversas) de algumas das suas melhores intervenções:


«[…] O esforço para compreender o universo é uma das poucas coisas que eleva a vida humana um pouco acima do nível da farsa, e lhe dá alguma da elegância da tragédia. […]»

«[…] Nada nos últimos quinhentos anos teve um impacto tão grande para o espírito humano como as descobertas da ciência moderna. […]»

«[…] Nada foi mais importante na história da ciência do que o trabalho de Darwin e de Wallace salientando que, não apenas os planetas, mas a própria vida, pode ser compreendida de uma forma naturalista. […] Eu sinto, pessoalmente, que o ensino da ciência moderna é corrosivo para a crença religiosa, e apoio-o completamente! Uma das coisas que de facto me tem guiado na vida, é o sentimento que esta é uma das grandes funções sociais da ciência–libertar as pessoas da superstição. […]»

«[…] Pela palavra Deus ou nos referimos a algo em concreto ou não nos referimos a nada em concreto. Se pela palavra Deus nos referimos a uma personalidade que se preocupa com os seres humanos, que fez tudo isto por amor para com os seres humanos, que nos vigia e que intervém, então eu tenho que dizer que, em primeiro lugar, como é que o sabemos, o que leva as pessoas a pensar isso? E em segundo lugar, isso é realmente uma explicação? Se isso é verdade, então o que o explica? Porque existe um tal Deus? Não é o final de uma cadeia de porquês, é apenas um passo, e as pessoas têm necessáriamente que dar o próximo passo. […]»

«[…] Eu penso que foi verdade no passado que existia uma esperança algo alargada que, ao estudarmos a natureza, descobrissemos enfim o sinal de um grande plano, um plano em que os seres humanos tivessem um destacado papel principal. E isso não aconteceu. Penso que cada vez mais e mais a descrição da natureza, do mundo exterior, tem sido a de um mundo impessoal governado por leis matemáticas que não têm qualquer preocupa&ccedilão especial com os seres humanos, um mundo em que os seres humanos aparecem apenas como um fenómeno do acaso e não o objectivo para o qual o universo está dirigido. […] Acredito que não existe qualquer propósito para o universo que possa ser descoberto pelos métodos da ciência. Acredito que o que encontrámos até agora, um universo impessoal que não está particularmente dirigido aos seres humanos, é o que continuaremos a encontrar. E que quando descobrirmos as leis últimas da natureza, elas terão uma impessoalidade fria e distante. […]»

«[…] Penso que foi gasta muita energia intelectual, ao longo dos séculos, no que diz respeito a assuntos religiosos. Pensem em todos os monges que se dedicaram aos detalhes da doutrina teológica — monges e rabinos e monges budistas e imãs, ao longo dos anos a dedicarem tanto talento e tanta energia às questões da teologia. De certa forma a ciência dá-nos uma forma alternativa de usar a nossa mente. Isto é mais alguma coisa em que podemos usar a inteligência humana. E tem várias vantagens. Tem a vantagem de termos formas de descobrir se estamos errados sobre as coisas. Eu já tive essa experiência na minha vida — a maior parte dos cientistas já teve — de ter uma teoria que eu pensava ter que estar certa ser provada errada através de experiências — é uma experiência muito libertadora. […]»

«[…] Penso que parte da missão histórica da ciência tem sido de nos ensinar que nós não somos fantoches da intervenção sobrenatural, que nós podemos construir o nosso próprio caminho no universo, e que temos de encontrar por nós próprios o nosso sentido de moralidade. […]»

«[…] A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem religião, encontramos pessoas boas a fazerem coisas boas e pessoas más a fazerem coisas más. Mas para encontrarmos pessoas boas a fazerem coisas más, para isso é necessário estar presente a religião. […]»

«[…] Esta tem sido o mais frequente motivo para nos matarmos uns aos outros – não apenas para pessoas de uma dada religião matarem as de uma outra religião, mas mesmo dentro de uma mesma religião. Afinal de contas, foi um muçulmano que matou Sadat. Foi um judeu devoto que matou Rabin. Foi um hindu devoto que matou Gandhi. E isto tem acontecido assim ao longo de séculos e séculos. Parece-me que em muitos aspectos a religião é como um sonho – por vezes um sonho bonito. Outras vezes um pesadelo. Mas é um sonho do qual me parece ser mais do que altura de acordarmos. Da mesma forma que uma criança aprende sobre a “fada dos dentes de leite” e é incentivada a deixar os dentes que caem debaixo da almofada – e nós gostamos que a criança acredite na “fada dos dentes de leite”. Mas eventualmente nós queremos que a criança cresça. Penso que é altura para a espécie humana crescer e amadurecer neste aspecto. […]»

«[…] Carl Popper lembrou que, apesar de terem sido feitas coisas terríveis fazendo uso dos frutos da ciência, nunca ninguém iniciou uma guerra por causa de um princípio científico, ou exterminou populações inteiras por estas não concordarem com um dado aspecto da ciência. […]»

«[…] A maior parte das grandes religiões do mundo co-existiram muito confortavelmente com a escravatura. […] Parte da evolu&ccedilão geral do conceito de moral, por parte da raça humana, pode ser creditada ao crescimento da ciência–um sentido de racionalidade, uma visão científica que nos diz que não somos assim tão diferentes uns dos outros, que não existe qualquer direito divino para os reis, e por aí fora, não existe nenhuma diferença racial intrínseca que nos possa permitir escravizar uma raça em proveito de uma outra raça. […] As pessoas simplesmente têm se tornado menos religiosas e mais morais. […]»

«[…] [Não sei] se estamos a caminhar para uma nova Idade das Trevas, onde os povos voltem a iniciar cruzadas e guerras santas e genocídios, ou se o curso natural do racionalismo e do humanitarianismo irá continuar, e a religião irá gradualmente desvanecer para algo de muito menor importância. […] Do meu próprio ponto de vista, apenas posso esperar que esta longa e triste história finalmente acabe algures no futuro próximo, e que esta progressão de padres e curas e monges e rabis e imãs e mullah‘s e bodisatvas finalmente acabe, e que nunca mais voltem. Espero que isto seja algo para o qual a ciência possa contribuir, e se for, então eu penso que essa pode ser a contribuição mais importante para a sociedade que nós podemos fazer. […]»


[também no esquerda republicana]

10 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Presunção e autismo papal


A grande autoridade em questões de medicina que dá pelo nome de Ratzinger afirmou hoje na sua homilia em Munique que a SIDA só pode ser combatida com fé.

Considerando que a Igreja Católica se tem distinguido por ser o maior obstáculo ao combate a este flagelo acho que é de facto preciso muito autismo, muita falta de vergonha na cara para debitar barbaridades como estas.

Na mesma homilia, o ex-inquisidor mor elevado por graça do «espírito santo» a ditador do Vaticano, criticou a sociedade ocidental por se preocupar com minudências em vez no que considera realmente importante: a evangelização. Queixando-se amargamente daqueles que «têm a ideia de que os projectos sociais se devem desenvolver com a máxima urgência, enquanto que os assuntos que dizem respeito a Deus ou à fé católica são coisas mais particulares ou de menor importância», criticou os laicos governos ocidentais por devotarem o dinheiro dos impostos de todos a projectos «ateus», como sejam combater a exclusão social, a pobreza e a fome, em vez de o entregarem à Igreja para esta «catequizar» o Mundo!

Mereceram ainda fortes críticas a liberdade de expressão e a liberdade de religião, já que Ratzinger afirmou ser «cinismo» considerar «um direito da liberdade ridicularizar o sagrado». A ateia ciência fez parte, como seria de esperar, dos ataques do Papa contra os progressos civilizacionais do Ocidente nomeadamente por não ser subordinada aos anacrónicos ditames do Vaticano, nomeadamente no que respeita à investigação em células estaminais.

Disse ainda Ratzinger que «A tolerância de que precisamos urgentemente implica o temor a Deus», deplorando a secularização das sociedades ocidentais que as fizeram perder o medo de papões e as tornaram «surdas a Deus», isto é, surdas às ameaças dos castigos divinos usadas tão eficientemente por Roma durante séculos. Na semana passada Ratzinger tinha sugerido que a «verdadeira» democracia passa por acatar as ordens do Vaticano, sendo «totalitários» os governos que não se aceitam reger pelos ditames do Vaticano.

Continua a senda obscurantista e a cruzada anti-modernidade de uma organização que recentemente declarou obra do Demo as piores catástrofes do século XX, já que Hitler e Estaline… estavam possuídos pelo Diabo!

10 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Santo,…Já!!!

(Cartoon de Brito, publicado com amável autorização do autor)
10 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

B16 regressa ao local do crime

Para «reafirmar os laços profundos que existem entre o Vaticano e a Igreja alemã», laços que ligaram Pio XII a Hitler, amarras feitas de sangue e excomunhões contra a Reforma protestante, o pastor alemão aterrou em Munique.

O Sapatinhos Vermelhos que esconde as orelhas sob o camauro, ou as protege com um Saturno, bizarros adereços do múnus e do narcisismo, volta à Alemanha, donde emigrou depois de um curto apoio às SS e um longo caminho ao serviço do Deus de Pio XII, Torquemada, Pio IX e Urbano II.

Em tauromaquia, este regresso repetido às origens chamar-se ia tendência para a crença natural mas o teocrata não vai para ser lidado, regressa para estimular um movimento de retrocesso ao catolicismo mais retrógrado, impor velhos valores e fazer proselitismo.

B16 é o caixeiro-viajante ao serviço da SIDA e dos preconceitos da igreja anacrónica que elege a teologia do látex contra a protecção de doenças sexualmente transmissíveis, que prefere o nascimento de um deficiente grave ou o fruto da brutalidade da violação à interrupção voluntária de uma gravidez, que opta pelo sofrimento dos cônjuges em vez da liberdade do divórcio.

B16, ditador vitalício, digno sucessor de JP2, é o inquisidor dos tempos modernos, que não está interessado na salvação das almas – sabe que Deus não existe -, apenas o move um projecto de poder que se afirma na luta contra o secularismo e a laicidade, que pensa ganhar no combate com os outros credos e na erradicação do agnosticismo e do ateísmo contra quem solta a clericanalha que cegamente lhe obedece.

10 de Setembro, 2006 Palmira Silva

E ainda Darfur

A Human Rights Watch informa que o governo do Sudão está a bombardear as (poucas) aldeias que não foram destruídas no norte de Darfur. Estes ataques surgem numa altura em que Cartum pretende que a força de paz da União Africana saia do terreno e rejeita peremptoriamente o envio de uma força de paz da ONU. Aliás, num comício no sábado, o presidente sudanês, Omar al-Bashir, pediu «uma mobilização popular e militar» e «que os campos de treios sejam abertos a todos os que são capazes de levar armas para enfrentar qualquer ingerência» das organizações internacionais. Advertindo que o governo sudanês atacará os corpos de paz da ONU se estes forem enviados para Darfur.

Os milhões de sudaneses negros nos campos de refugiados, na sua esmagadora maioria mulheres e crianças, temem pelas suas vidas no caso de a força de paz da UA sair da zona em finais de Setembro, como pretende Cartum. Como diz um dos refugiados num campo em Tawila:

«Se estes soldados (ruandeses da UA) sairem, nós seremos massacrados». Deixando um apelo, «Nós imploramos a comunidade internacional, a alguém, venham e salvem-nos».

A violência crescente contra as ONG’s operantes no local tem obrigado a que estas saiam do terreno. Para além das acções militares contra civis do governo de Cartum, a doença e a fome vitimarão muitas mais pessoas em Darfur que as muitas centenas de milhares que já foram vítimas mortais deste conflito.

Uma catástrofe humanitária, um genocídio de dimensões só comparáveis às do Holocausto, ameaça abater-se sobre o Darfur nas próximas semanas, como reconhece, finalmente, a ONU.

A proposta do governo sudanês em substituir os corpos de paz internacionais por tropas sudanesas não merece qualquer credibilidade, especialmente face aos recentes desenvolvimentos. Como afirma a secretária geral da Amnistia Internacional, Kate Gilmore:

«O ‘plano de protecção’ do governo sudanês é uma fraude e deve ser firmemente rejeitado. Como pode realisticamente o [governo] Sudão – que parece estar a lançar a sua própria ofensiva em Darfur – propor-se como corpo de paz num conflito em que é a parte principal envolvida e um perpetrador de violações graves dos direitos humanos?»

Não esqueçam: 17 de Setembro, o «Dia Global por Darfur». Assinem petições, manifestem-se, mas não deixem sem resposta os apelos dos que irão ser massacrados se ficarmos de braços cruzados!