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Dia: 6 de Setembro, 2006

6 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Steve Irwin e os prosélitos


Steve Irwin, o conhecido «Crocodile Hunter», morreu ontem num acidente infeliz, quando mergulhava na Great Barrier Reef. Um militante incansável de causas ecológicas, especialmente focadas na necessidade de preservar predadores como tubarões e crocodilos, Steve foi um dos maiores defensores da conservação da Natureza do século XX. Os seus programas de televisão, transmitidos em inúmeros países, despertaram os muitos milhões de espectadores para a sua causa, mostrando, da forma carismática que o caracterizava, centenas de espécies nos seus habitats naturais, desmistificando o que normalmente é sensacionalizado e revelando toda a beleza do mundo natural de uma forma didáctica mas com a simplicidade e paixão que o caracterizavam.

A sua missão de re-ligar a humanidade ao mundo natural, fazendo os espectadores dos seus documentários perceberem o mundo que as gerações futuras herdarão se nada for feito para preservar as espécies ameaçadas de extinção, foi inesperadamente cerceada por uma raia.

Ken Ham, o presidente da coisa que dá pelo nome de Answers in Genesis, aproveitou de forma vergonhosa a morte de Irwin. A leitura da prosa desprezivelmente cristã que debitou, indica não conseguir o devoto cristão engolir a popularidade do carismático e ateu guerreiro da natureza. Assim, usa de forma inaceitável o trágico acidente para proselitar os seus leitores, recorrendo às armas habituais do cristianismo, a ameaça com a morte e com a ira do Deus vingativo inventado no neolítico, insinuando que Steve morreu porque não era um criacionista, aliás para além de ateu, nos seus programas era, como qualquer pessoa normal, um advogado do evolucionismo.

Como diz PZ Meyers, a vida e a morte de Steve Irwin recorda-nos o entusiasmo e paixão de uma vida bem vivida, uma vida que contribuiu para um mundo melhor. A vida de Ken Ham relembra-nos quão desprezíveis, mesquinhas e insignificantes são as vidas daqueles que deixam a religião obliterar-lhes o cérebro!

6 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

B16, tartufo de serviço

Religião não pode justificar terrorismo, diz B16, Papa de serviço ao catolicismo, ditador vitalício do Vaticano, que foi a Assis com pele de cordeiro a imitar o antecessor, futuro santo JP2, e rezar pelo diálogo inter-religioso.

A desfaçatez dos tartufos esboroa-se quando afirmam que o seu Deus é o verdadeiro e único capaz de emitir bilhetes válidos para o Paraíso.

Rezam, por hábito, conhecendo a inutilidade das orações, com excepção da piedade que induzem nos incautos e na prodigalidade dos óbolos que geram.

Só pode admirar-se com os apelos à conversão quem esquece que Portugal foi fundado na luta contra os moiros e se afundou a perseguir cristãos-novos e grelhar judeus.

As religiões que apregoam o diálogo são as que convertem os crentes das outras com quem fingem amizade, todas unidas no ódio aos ateus e nas rivalidades entre si.

JP2, o rural que perseguiu e silenciou teólogos progressistas, era amigo de Pinochet e consentiu o tráfico de armas para o ditador da Nicarágua, Anastácio Somoza, e o desvio de dinheiro do Banco Ambrosiano para o sindicato polaco Solidariedade. Hoje é o bem-aventurado a caminho da santidade, graças à intensa campanha de propaganda da ICAR.

Foi um papa dissimulado que apadrinhou a sombria prelatura pessoal – OPUS DEI – um exército de prosélitos sedento de dinheiro e poder, enquanto a «Santa Aliança» cumpria as orientações papais de espionagem e intriga internacional.

B16, é tão profundamente reaccionário como o antecessor, apenas lhe falta a superstição e a fé de JP2 com que este que emocionava as multidões com os trejeitos de artista de circo e devoção sincera.

Por ironia, JP2 era espiado no Vaticano pela polícia comunista polaca enquanto a CIA e a espionagem do Vaticano colaboravam. Segundo fontes polacas, entre 10% e 15% dos religiosos polacos colaboraram com os serviços secretos durante o regime comunista.

Durante a guerra foi muito maior a percentagem dos que colaboraram com o nazismo.

A confissão é uma arma terrível.

6 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Pedofilia e religião

  1. A Procuradoria do Estado de São Paulo (Brasil) vai pedir à delegação local da ICAR uma indemnização pelos crimes de abuso sexual de menores cometidos pelo padre Alfieri. Provou-se que este sacerdote católico abusou de 13 crianças, nalguns casos com apenas 5 e 6 anos, que o padre colocava numa instituição de caridade que dirigia. O padre filmou e escreveu num diário os crimes que cometeu. Os responsáveis locais da ICAR não comentam. Se fosse um caso de aborto, talvez o fizessem.
  2. Em Paranaguá (Brasil), um casal de pastores evangélicos foi detido sob acusação de pedofilia. O pastor é acusado de violar pelo menos dez meninas, e a esposa é acusada de cumplicidade. Tinham fundado a Igreja do Supremo Amor de Cristo há cinco anos. Os abusos sexuais aconteciam durante o estudo da Bíblia, altura em que o pastor alegava «incorporar» um «anjo» que o «enfraquecia» e do qual só se libertava tendo relações sexuais.
6 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Fraudes centenárias com aval de Bento XVI



Reza a Agência Ecclesia que Bento XVI se deslocou ao Santuário do Santo Rosto em Manoppello, uma localidade italiana da região dos Abruzos (Abruzzo), onde se encontra uma das muitas fraudes religiosamente mantidas em igrejas um pouco por todo o mundo, conhecidas por relíquias, que são preciosas ajudas não só para a manutenção dos crentes num mui apreciado estado de infantilização obscurantista como para a mais prosaica manutenção da saúde financeira da ICAR.

A fraude em questão é conhecida como o véu de Verónica, mulher que a crendice católica, alimentada agora por Bento XVI – determinado na sua cruzada obscurantista contra a ciência, protegendo as pessoas simples, isto é, os católicos, dos intelectuais – acredita ter limpo o rosto do mítico Cristo no caminho para o suposto calvário. Uma fraude (artigo em pdf publicado no Thermochica Acta que confirma que o dito sudário foi confeccionado no século XIII ou XIV) em tudo análoga à do Sudário de Turim, aliás como rezam as agências noticiosas católicas «a imagem no Sudário de Turim e a imagem que aparece no véu em Manoppello são de tamanhos idênticos e passíveis de serem sobrepostas».

Notícia especialmente divertida numa semana em que o nosso cavaleiro da pérola redonda, na sua homilia de segunda, prelecciona sobre os malefícios de «Erigir um mundo de ficção como orientação para a vida, que muitos consideram alienação ou manipulação de massas». Claro que João César das Neves não se apercebe do rídiculo em que incorre já que ele elegeu igualmente um mundo de ficção para orientar a sua vida, a única diferença em relação aos trekkies é que os fãs do Star Trek sabem ser o alvo do seu inofensivo passatempo uma «mentira, um mundo de ficção em que realmente não acreditam».

Todos sabem que Spock é um personagem de ficção e não são atribuidos quaisquer poderes sobrenaturais às «relíquias» que os fãs procuram – que o escandalizado JCN, que não revela as dimensões do mercado da fé, indica ser um mercado de 50 mil milhões de dólares há 7 anos – nem delas são esperadas curas «milagrosas» ou disparates afins. Nenhum mal vem ao Mundo da fixação com personagens que todos sabem ficcionais. E como uma trekkie indicou, os valores expressos na série são valores que ela subscreve «tolerância, paz e fé na humanidade». Quiçá seja esse o problema de J.C. das Neves em relação às «propostas de filosofias, partidos e movimentos para substituir as religiões» que incluem abominações anti-cristãs como «liberdade, justiça, humanidade, raça, classe, ciência, progresso, natureza, prazer».

Comisera JC das Neves que «os trekkies julgam ser felizes numa vida que não existe» mas que dizer dos milhões enganados por um negócio, a adoração de relíquias, mantida para impulsionar o lucrativo mercado da peregrinação, que a ICAR sabe serem falsas? Diz a Enciclopédia Católica que a Igreja permite a adoração de relíquias falsas para evitar escândalos e distúrbios populares. Será esta uma justificação aceitável? Que a ICAR mantenha os seus crentes «felizes» com mentiras?

O véu de Verónica, aliás vários véus, surgiu na Idade Média, época em que imperava o lucrativo negócio de venda de relíquias, em que abundavam prepúcios, cordões umbilicais, bocados da «santa» cruz, «santos» pregos e demais recuerdos cristológicos para além de um gigantesco mercado de venda de souvenirs anatómicos de santinhos, mártires e afins.

Aliás, esta proliferação de «relíquias» sagradas, tão bem caricaturada no romance homónimo de Eça de Queiroz, foi um dos factores, associado às indulgências, que despoletou a reforma protestante. De facto, Calvino, afirma no seu Traité Des Reliques a propósito da «santa» cruz:

«Não há uma abadia tão pobre que não tenha um exemplar. Em alguns locais há fragmentos grandes, como na Capela Sagrada de Paris, em Poitiers e em Roma, onde um crucifixo de grandes dimensões é suposto ter sido feito dela. Em resumo, se todos os pedaços fossem reunidos, fariam uma enorme carga para um navio. No entanto o Evangelho testemunha que um único homem foi capaz de a carregar».

A igreja do castelo de Wittenberg onde Lutero pregou as suas 95 teses tinha… 19013 relíquias (!), incluindo vários frascos com leite da «virgem» Maria, palha da mangedoura onde a lenda coloca o nascimento do mito e mesmo um dos «inocentes» massacrados (sem registo histórico) por Herodes!

Já João Paulo II, entre outras fraudes, Fátima entre elas, tinha uma especial veneração pela «Santa» Casa de Loreto, supostamente a casa onde a sagrada família viveu em Nazaré e… transportada por anjos para Itália, algures no século XV!

A lista de fraudes adoradas por milhões de devotos católicos como realidades capazes dos mais sortidos «milagres» é demasiado extensa para enunciar, pelo que acho deveras estranho que JCN tenha escolhido logo esta semana para azucrinar os fãs de filmes de «culto». Que legitimidade para criticar os trekkies tem um devoto de uma igreja que encoraja a idolatria supersticiosa de «relíquias» obviamente falsas, com o pretexto de que não há problemas morais «na continuação de um erro que foi transmitido em boa fé por muitos séculos», ou seja, não há qualquer imoralidade em encorajar a crença em fraudes centenárias?