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Dia: 4 de Setembro, 2006

4 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Bush e Bin Laden do mesmo lado

«Bush e Bin Laden estão efectivamente do mesmo lado: do lado da fé e da violência contra o lado da razão e do debate. Ambos têm uma fé implacável de que estão certos e o outro está errado. Cada um acredita que quando morrer irá para o céu. Cada um acredita que, se pudesse matar o outro, o seu caminho para o paraíso no outro mundo seria mais fácil.»

(Richard Dawkins em entrevista à Salon.)

4 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Deus e os monoteísmos

Admitamos que Deus transmitiu a sua vontade através de Moisés, Cristo e Maomé, que a sua abominável vontade (tão humana que é) pretendeu privilegiar alguns povos em detrimento de outros e que os livros sagrados foram ditados da forma que os apregoam, aos alcoviteiros que dizem, nas circunstâncias que inventaram.

Temos de concluir que Deus era rude, intolerante, vingativo e, sobretudo, um ignorante em questões científicas, além de narcisista e autoritário.

Aquela ideia de ameaçar o género humano com o julgamento no Vale de Josafá, depois de proceder à inauguração de um lago de fogo e enxofre, é demasiado idiota para ser levada a sério.

A exiguidade do Vale não comporta todos os vivos, a quem mandará guias de marcha e assegurará transporte, quanto mais os mortos que desde o princípio do Mundo ameaça ressuscitar.

Fica a questão de saber quem Deus considera homens – o que inclui mulheres, depois de os doutos cardeais terem concluído que também possuíam alma -, isto é, desde quando, na evolução das espécies, começou Deus a atribuir almas.

É difícil imaginar Deus a ditar os dislates de que Moisés, Jesus e Maomé se fizeram eco sem, ao menos, se retirar para aliviar a tripa, comer uns frutos ou beber água. Os santos livros, tão prolixos a registar-lhe as palavras, não referem o meteorismo, a flatulência ou reumatismo que certamente haviam de o afligir.

Como é possível que, com Maomé, o mais ignorante e analfabeto dos profetas, durante vinte anos, entre Medina e Meca, não se queixasse do calor ou proferisse um impropério pela lentidão de raciocínio do profeta?

Há uma só explicação possível. Naquele tempo, a ignorância e a superstição tornavam ávidas as pessoas pelo misterioso e fantástico. As religiões vieram ao encontro dessas necessidades e serviram um Deus amigo delas e inimigo dos seus inimigos que lhes dava algum conforto e tranquilidade.

Deus é a réstia de esperança de todos os desesperos, a mezinha para todas as desgraças, o lenitivo para todos os sofrimentos e, finalmente, a ocupação e modo de vida de uma multidão de parasitas que vive do medo e insegurança alheia.

4 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ali al-Sistani impotente para travar guerra civil no Iraque

Enquanto a violência continua a assolar o Iraque e Bush afirma que não há perigo de uma guerra civil, o ayatollah Ali al-Sistani, o clérigo shiita mais influente no Iraque, avisou que deixará de tentar conter os seus seguidores, admitindo que é impotente para travar a guerra civil que há muito se desenha neste país. Não obstante as notícias da prisão do nº2 da al Qaeda no Iraque, Hamed Jumaa Farid el-Saeedi .

O seu porta-voz, Ali Al-Jaberi, quando interrogado sobre se al-Sistani seria capaz de prevenir a guerra civil respondeu: «Honestamente, penso que não. Ele está muito zangado, muito desapontado». As razões do desapontamento do clérigo, que declarou não mais intervir politicamente, apenas religiosamente, residem no facto de os shiitas ignorarem os seus apelos à moderação e cada vez mais aderirem a grupos militantes e esquadrões de morte.

Numa reunião com o primeiro-ministro iraquiano Nuri Al-Maliki no domingo, o clérigo shiita afirmou que a guerra civil é inevitável se o governo não a conseguir de alguma forma impedir.

O Departamento da Defesa dos Estados Unidos admitiu no seu relatório trimestral ao Congresso (documento pdf) que a violência no Iraque aumentou, atingindo os valores máximos alguma vez registados, com cerca de 792 atentados semanais e 120 mortes diárias.

4 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger acaba com concerto de Natal

O conhecido e afirmado desprezo de Ratzinger pela música moderna foi a razão invocada para a abolição do concerto de Natal do Vaticano. O concerto, introduzido por João Paulo II, cujo objectivo é a angariação de fundos para a construção de igrejas em Roma, viu assim a sua última edição no ano passado. Edição que envolveu a polémica com a brasileira Daniela Mercury, cuja participação foi cancelada devido à sua posição pública de apoio ao uso de preservativo como medida profiláctica da SIDA.

Ratzinger já tinha expresso a sua opinião de que a música pop é um «culto da banalidade» que «já não é mais apoiada pelo povo» e o rock uma «expressão de paixões elementares» um «contra-culto que se opõe ao culto cristão» pelo que a decisão não surpreende ninguém. Como se pode ler no La Stampa, o actual Papa «prefere Mozart e Bach a música pop e assim a tradição foi cancelada. Outro exemplo do legado moderno e colorido de João Paulo II desapareceu».

Aliás mais «concessões» à modernidade estão prestes a desaparecer. As mais importantes as «concessões» à execrada e ateia ciência, área onde a ICAR já demonstrou querer impor os seus anacrónicos e imbecis ditames. Para além da determinação em boicotar e exercer pressão política para impedir a investigação em células estaminais, qualquer que seja a sua origem, muco do nariz – rico nas ditas – ou embriões, temos ainda as anunciadas conclusões do seminário sobre evolução, que diria irem ser debitadas numa linguagem dúbia – que «sossegará» os cristãos mais esclarecidos, que lerão, erradamente, nas entrelinhas que afinal o Vaticano não regrediu para a Idade Média, mas simultaneamente darão alento aos fundamentalistas.

E, como já há muito prevíamos, o marketing subliminar que tenta apontar como culpado dos males da Igreja, nomeadamente a pedofilia no seu seio, o Concílio Vaticano II e os brandos costumes que permitiram, por exemplo, o abandonar das tradições centenárias de celebração da missa, está a dar os seus frutos. Nomeadamente no que respeita às alterações na liturgia introduzidas pela Novus Ordo Missae de Paulo VI que estão a ser revogadas sem grande alarido.

Ratzinger já tinha pedido condenado os excessos litúrgicos, condenação que clarificou nalguns pontos pedindo aos padres que não se utilizassem guitarras durante a missa e no último dia de Agosto admoestou os padres por «encenarem» as liturgias:

«A liturgia não é um texto teatral e o altar não é um palco. Há muitas maneiras de se celebrar Deus e de se adornar o altar mas é importante que um padre não se esqueça o que a liturgia é e se torne meramente um actor num espectáculo».