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Dia: 1 de Setembro, 2006

1 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Quem sofre de confusão moral e intelectual?

Esta imperdível peça de Keith Olbermann foi a merecida reacção do conhecido comentador ao discurso de dia 29 de Agosto à convenção nacional da Legião Americana em Salt Lake City do secretário de estado da Defesa dos Estados Unidos, Donald H. Rumsfeld. Rumsfeld acusou todos os que questionam as políticas da administração Bush em relação à guerra do Iraque em particular e ao combate «ao eixo do mal» em geral de enfermarem de «confusão moral e intelectual».

Queixando-se dos baralhados «morais» nos media americanos, que, imagine-se, deram mais importância aos abusos verificados em Abu Ghraib que ao facto de o sargento Paul Ray Smith ter ganho a medalha de honra (sic), Rumsfeld verberou que esta confusão intelectual lhes impede a apreensão das lições da História, nomeadamente no que respeita à ascensão ao poder de Hitler.

Absolutamente imperdível a crítica de Olbermann! Não há mais nada a acrescentar! Para não perderem pitada, podem ver a transcrição aqui!

1 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

As máfias de Deus e as outras

É conhecida a religiosidade dos mafiosos sicilianos bem como de agentes de profissões análogas, como passadores de droga, traficantes de armas e proxenetas, meros exemplos da harmonia entre o crime e a superstição.

Quando, há algum tempo, a cantora pop Madonna foi à Rússia e se fez coreografar numa cruz logo as poderosas máfias autóctones a intimidaram e chantagearam com ameaças aos dois filhos e marido.

Surpreende os incautos ver máfias e Vaticano do mesmo lado da barricada, defensores dos bons costumes e do respeito pela iconografia de que a religião se apropriou.

Entre 1979 e 1982, cinco cardeais referidos no inquérito do IOR (Banco do Vaticano) e do Banco Ambrosiano, com a média de 69 anos de idade e gozando todos de boa saúde, esqueceram-se de respirar. Sucedeu-lhes o mesmo que a João Paulo I cuja imprudência de revelar que iria fazer um inquérito ao IOR logo alertou Deus para a necessidade de o chamar à sua divina presença, como soe dizer-se em jargão religioso.

Em vida de João Paulo II, enquanto foi possível conservá-lo, a Santa Aliança (agência de espionagem do Vaticano) teve um papel muito activo na venda de armas à Argentina, durante a Guerra das Malvinas, no desvio de fundos do IOR para o «Solidariedade», de Lech Walesa e na lavagem de dinheiro da droga e de outras pias actividades.

O arcebispo Paul Marcinkus, Roberto Calvi, Licio Gelli e Michele Sindona, este último lavava dinheiro de heroína, tiveram uma relação íntima com Paulo VI, João Paulo II e cardeais da Cúria num triângulo que envolvia o IOR, o Banco Ambrosiano e a falsa loja maçónica P-2.

Foi Licio Gelli quem apresentou Somoza a Roberto Calvi. A Nicarágua converteu-se em refúgio seguro para o dinheiro «B» do Vaticano e o IOR, em troca, pagou grandes somas ao ditador.

A falência do Banco Ambrosiano só não causou maiores danos ao Vaticano porque são antigas as nódoas e tão frequentes que qualquer canonização lhes serve de lixívia. Mas custou muito dinheiro ao Papa.

Fonte: A Santa Aliança – Cinco séculos de espionagem do Vaticano, de Eric Frattini.

1 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Darwin e os esqueletos do catolicismo


Em Novembro último escrevi, a propósito das afirmações de então de Bento XVI, que prenunciavam a sua cruzada contra a «ateísta» evolução, que estas afirmações:

«Indicam que, na conjuntura actual, o Vaticano se sente com força política para iniciar uma guerra contra a ciência e os ateus cientistas que, se não for travada imediatamente, terá como desfecho um retrocesso civilizacional que nos fará regredir ao obscurantismo medieval tão aclamado pela Igreja. Ou seja, a ciência, completamente incompatível com quaisquer revelações divinas, é extremamente perigosa para a fé já que pode dar respostas ‘materialistas’ sobre os ‘mistérios» da vida’. A ciência, os ‘ateus’ cientistas e os seus produtos como sejam o execrado ‘humanismo ateu’, são, como há vários meses previ, o inimigo em que assestam as baterias do Vaticano, já que ameaçam a sua hegemonia integrista.»

A guerra do Vaticano contra a ciência inicia-se oficialmente hoje com o seminário em que Ratzinger e os seus teólogos de estimação – os seus ex-alunos – vão pomposamente examinar a evolução, como se tivessem alguma autoridade ou competência para isso, seminário cuja conclusão anunciada pode ser encontrada nas páginas virtuais da Agência Ecclesia.

Tirando a pontuação, a prosa escolhida para dar título à notícia é de facto um retrato fiel da realidade «Darwin e o Génesis: regresso ao passado».

Com a longa prática da ICAR em distorcer a ciência quando tal lhe convém, o artigo da Agência Ecclesia prepara o caminho para a conclusão das lucubrações obscurantistas do dito seminário com barbaridades acéfalas tais como:

«O desenho inteligente, por outro lado, é uma teoria científica que não se opõe à ideia de evolução, mas ao mecanicismo neodarwinista (nem é a única alternativa ao neodarwinismo)».

Em primeiro lugar, e como há uns anos o Diário Ateísta vem explicando, a IDiotia NÃO é uma teoria científica, aliás é completamente anti-científico, não se vislumbrando na IDiotia qualquer resquício científico que contamine a pureza obscurantista do pensamento cristão dos seus proponentes; sequer qualquer resquício da honestidade intelectual indispensável ao pensamento científico. A IDiotia, como os seus proponentes admitem, é uma forma disfarçada de criacionismo, mais concretamente «Nós acreditamos que o [Desenho Inteligente] movimento ajuda o movimento do criacionismo bíblico porque faz com que as pessoas se apercebam da parvoíce da teoria da Evolução».

Tudo o que os IDiotas se limitam a debitar são protestos de que o mundo biológico é demasiado complexo para ter evoluído e como tal é necessário postular um criador. E, claro, debitam estridentemente lamúrias de cristianovitimização em que carpem supostas teorias da conspiração urdidas pelos «satânicos» darwinistas para impedir o progresso teológico científico da «teoria». E debitam contestações assaz imbecis das evidências experimentais que comprovam a macroevolução (evolução de uma espécie para outra que os IDiotas negam), como por exemplo em relação ao Tikataalik rosae.

Ou seja, os IDiotas não produziram um único modelo, uma única hipótese para a sua suposta teoria «científica», que reclamam nada ter a ver com religião e que afirmam rebater completamente o «ateísta» (e para alguns satânico) evolucionismo. Com excepção, claro, do hilariante e completamente cretino modelo de origem e evolução das espécies com base em anjos, demónios e demais mitologias.

Em segundo lugar, e comprovando a total incompetência e ignorância científica dos IDiotas da ICAR, que em matéria de ciência estão século e meio atrasados, confundem evolucionismo com darwinismo quando na realidade hoje é aceite que há mais mecanismos operantes na evolução que não apenas a selecção natural.

A preparação do ataque cerrado à ciência por parte dos IDiotas católicos iniciou-se o mês passado na revista Atlântico, um reduto dos democratas cristãos da nossa praça, que mimosearam os seus devotos leitores com um dos mais imbecis artigos de opinião defendendo o criacionismo que tive oportunidade de ler, da autoria de Tiago Cavaco e que dá pelo título«Darwin e os esqueletos da humanidade».

Uma vez que a referida revista não é aquisição que eu recomende, podem apreciar a vacuidade profundidade intelectual do artigo (e do seu autor) no post «O sexo dos anjos» que transcreve excertos do referido artigo em defesa da IDiotia.

O iluminado autor, que parou igualmente em termos de ciência na «Origem das espécies», isto é, no século XIX, já que confunde darwinismo com evolucionismo, afirma pomposamente que «O darwinismo começa a soçobrar» supostamente devido ao «vigor académico do Design Inteligente». O que é uma mentira descarada. Na realidade, a academia em peso rejeita a IDiotia como inanidades delirantes debitadas pelo templo dos neo-criacionistas disfarçados de IDiotas, o Discovery Institute, que conta nas suas hostes a totalidade do «vigor académico» da IDiotia: 400 pseudo-cientistas, na sua esmagadora maioria sustentados pelo Instituto!