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Dia: 21 de Agosto, 2006

21 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Encefalização e evolução do homem: moral

Durante muito tempo pensou-se que, embora a anatomia humana, nomeadamente a encefalização, tenha evoluído muito lentamente ao longo de milhões de anos, a evolução cultural e social apresentou um ponto de viragem há cerca de 40 000 anos, sem se perceber bem o que despoletou tal alteração cultural e inovação muito rápidas.

Na realidade, se analisarmos os dados da tabela do post anterior, verificamos que durante o Pleistoceno Inferior (1.8 milhões de anos a 750 000 anos) até ao Pleistoceno Médio (750 000 a 400 000 anos), o cérebro duplica de 440 para 900 cm3– modificando igualmente a forma do crânio, especialmente o frontal e o occipital. No Pleistoceno Superior, 400 a 100 mil anos, período em que viveram os últimos Homo erectus e os primeiros Homo sapiens, ocorreram as maiores alterações na reorganização das proporções cranianas. Desde há aproximadamente 100 000 anos que os nossos esqueletos cranianos e dimensões cerebrais não sofreram mudanças significativas.

No entanto, até recentemente, parecia que o homem moderno, isto é, não só moderno anatomicamente mas moderno em termos de comportamento, só apareceu há aproximadamente 40 000 anos, como parecia sugerir a datação dos primeiros artefactos que evidenciavam uma interpretação simbólica da realidade e a incorporação desse simbolismo no comportamento humano. Os artefactos simbólicos mais antigos encontrados até finais do século XX – de que as grutas de Lascaux, Chauvet ou de Altamira, todas com menos de 35 000 anos, são exemplo – pareciam de facto indicar que esta competência cognitiva surgiu relativamente tarde na evolução humana.

Mas recentemente, como já indiquei, com a descoberta da caverna de Blombos na África do Sul e as descobertas arqueológicas em Skhul, Israel, e Oued Djebbana, Argélia, começa a ser aceite que esta capacidade cognitiva evoluiu com o próprio homem, tendo estado presente no Neanderthal e nas populações Sapiens mais antigas.

Os estudos comparativos entre o comportamento social humano e o de primatas não humanos, se por um lado revelam traços comportamentais que nos distinguem, revelam igualmente semelhanças impressionantes. De facto, a primatologia evidencia que os primatas não humanos apresentam padrões de socialidade onde se podem reconhecer a empatia, a reciprocidade e a simpatia, o altruísmo, a obediência a normas sociais – que incluem evitar conflitos dentro de um grupo – o tratamento especial de inválidos e de doentes, entre outros elementos que tínhamos reservado para um dos nossos comportamentos mais específicos: a moral.

Assim, é possível observar noutras espécies comportamentos que evocam alguns dos fundamentos tradicionalmente imputados à moral humana, nomeadamente regras morais reinvidicadas por inúmeras religiões como revelação «divina». Do ponto de vista científico, é óbvio que a moral humana é uma consequência da evolução do homem, um sub-produto da evolução do cérebro humano, não só em dimensões mas em «qualidade», que permitiu o desenvolvimento de mecanismos cognitivos únicos ao homem. Não faz sentido postular mecanismos diferentes para o desenvolvimento de comportamentos semelhantes. Ou seja, não faz sentido postular a existência de um Deus, que nos criou «à sua semelhança», criação essa que justifica a diferença no ser do Homem em relação ao ser de outros animais.

Tal como as capacidades cognitivas, as capacidades comportamentais, nomeadamente morais, únicas aos humanos decorrem da nossa evolução biológica, igualmente única. Ou seja, evoluiram connosco ao longo de milhões de anos, não nos foram concedidas por especial favor de um qualquer implausível Criador!

(continua)
21 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

O catolicismo nazi ou o nazismo católico

O nazi/fascismo foi a lepra que corroeu a Europa e a mancha cruel que alastrou a outros continentes antes da brutal carnificina a que daria origem.

A guerra de 1939/45 ou, mais exactamente, desde 1936 com o assassinato de quase um milhão de espanhóis, a maior parte dos quais da responsabilidade do devoto católico, Francisco Franco, provocou um mar de sangue e horror que ainda hoje arrepia.

Foram cerca de 60 milhões de vítimas, repugnando, pela violência racista e crueldade, o Holocausto que matou nos fornos crematórios seis milhões de judeus, além de ciganos, homossexuais, deficientes e outras minorias.

No século XX era impensável uma espiral de violência e orgia de sangue que mudaria a face do mundo e deixaria traumas para a posteridade.

Da Alemanha de Hitler tem-se dito quase tudo e é conhecida a máquina de extermínio que foi meticulosamente posta em marcha.

Esquece-se, porém, o violento e cruel Holocausto levado a cabo pelo nazismo católico da Croácia, ainda hoje lembrada como «croástica», com 487 mil sérvios ortodoxos e 27 mil ciganos assassinados. Dos 30.000 judeus assassinados na Jugoslávia, 20 a 22 mil morreram nos campos de concentração ustachis e os restantes nas câmaras de gás.

Resta dizer que o arcebispo de Zagreb, Stepinac, foi sempre solidário com os princípios do novo Estado da Croácia e se esforçou para que Pio XII reconhecesse o carrasco Ante Pavelic como um dos pilares essenciais da Igreja católica na Europa eslava.

Para Stepinac, Pavelic era um católico sincero e, do alto dos púlpitos exortava-se a população a rezar pelo algoz e pelos padres, quase todos franciscanos, que cooperavam nos morticínios.

As orações teve-as o Vaticano em conta quando, após a guerra, participou activamente na colossal operação de salvamento de criminosos contra a humanidade, conduzindo-os à América do Sul, depois de ocultar em igrejas, mosteiros e outros pios refúgios, incluindo o complexo de Castelgandolfo, a mais abjecta e repelente corja de assassinos.

Stepinac, arcebispo-primaz da Igreja Católica da Croácia, enviou uma carta ao ditador Ante Pavelic na qual referiu as opiniões favoráveis de todos os bispos às «conversões forçadas». Foi esse patife que JP2 II beatificou denunciando a verdadeira face da ICAR.

Os horrores são tantos e tão hediondos que dói recordá-los. Só não podemos deixar de execrar a cumplicidade da Igreja católica no horror nazi, primeiro, e, depois, na ajuda à impunidade dos mais sinistros dos seus carniceiros.

Os cardeais Montini (futuro Papa Paulo VI), Tisserant e Caggiano, definiram as rotas de fuga e alguns prelados, Hudal, Siri e Barrieri, concretizaram os trâmites necessários para criar documentos e identidades falsas para os criminosos. Foram padres, cujo nome se conhece, que assinaram pelo seu punho os pedidos para a concessão de passaportes da Cruz Vermelha a criminosos como Josef Mengele, Adolfo Eichmann, Ante Pavelic e Klaus Barbie, entre outros.

Fonte: A Santa Aliança – Ed. Campo das Letras, de Eric Frattini