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Dia: 3 de Agosto, 2006

3 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Cristianovitimização IDiota

Como já referi, inúmeras vezes, o neo-criacionismo ou desenho inteligente é simplesmente uma nova forma, menos acéfala, de introduzir o criacionismo bíblico nas salas de aulas de ciência. Não obstante o cuidado que os IDiotas têm em não referir Deus, apenas um misterioso «designer», e em expurgar qualquer citação bíblica dos seus textos, é óbvio que a «guerra» em que estão envolvidos é a mesma dos criacionistas puros e duros, aqueles para os quais «A evidência final e conclusiva contra a evolução é o facto de a Bíblia a negar. A Bíblia é a Palavra de Deus, absolutamente inerrante e verbalmente inspirada.»

Quando se fala em IDiotia fala-se inevitavelmente nas bacoradas publicadas (em livro e em editoras não científicas, claro) por Phillip Johnson, William Dembski, Michael Behe e Stephen Meyer. Bacoradas que obviamente não são aceites por quem de direito, a comunidade científica, porque são apenas isso, bacoradas. Não há uma única hipótese IDiota, um único modelo, que possa ser falsificável ou investigado de forma científica. Só há um afirmar inconsubstanciado de que tem de existir um «criador».

Isto é, como Philip Jonhson, autor do livro «Darwin on Trial», um dos «pais» da IDiotia e o seu porta-voz não oficial, deixou muito claro numa entrevista, o objectivo da IDiotia é vender o criacionismo (mal)disfarçado de «teoria» científica.

E, como o próprio afirmou, a polémica em relação à evolução «Não é de facto, nem nunca foi, um debate sobre ciência. Apenas sobre religião e filosofia».

De facto, ciência e a IDiotia são diametralmente opostas, não se vislumbrando na IDiotia qualquer resquício científico que contamine a pureza do pensamento cristão dos seus proponentes; sequer qualquer resquício da honestidade intelectual indispensável ao pensamento científico. Aliás, os IDiotas não produziram um único modelo – ou artigo científico – sobre o que pretendem ser uma «alternativa» científica á teoria da evolução biológica.

Tudo o que os IDiotas se limitam a debitar são protestos de que o mundo biológico é demasiado complexo para ter evoluído e como tal é necessário postular um criador. E, claro, debitam estridentemente lamúrias de cristianovitimização em que carpem supostas teorias da conspiração urdidas pelos «satânicos» darwinistas para impedir o progresso teológico científico da «teoria».

Um bom exemplo de cristianovitimização é a carpição ululante (e pouco credível) de Dembski, que ulula no seu blog contra os «fascistas» darwinistas que o pressionam tanto (?) que o pobre Dembski em 5 (cinco) anos de sabática da sua posição no Center for Science and Theology do Southern Baptist Theological Seminary não conseguiu produzir um único artigo, um único modelo, enfim, nada tirando vacuidades IDiotas.

Ou seja, para o devoto cristão, a única razão porque a IDiotia continua a ser de facto idiota e escarnecida como tal por todos os cientistas, a única razão porque os IDiotas não publicam em revistas científicas é devido não à má qualidade do que debitam mas… aos «fascistas» darwinistas! Santa petulância!

3 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Mistificações cristãs

Ao ler os meus blogs americanos favoritos, essencialmente blogs de ciência escritos, como seria previsível, por cientistas ateus, nomeadamente o Panda Thumb e os blogs constantes da rede Scienceblogs, que agora inclui os Despachos das guerras culturais de Ed Brayton e o excelente Pharyngula, descubro que afinal a desonestidade intelectual que alguns comentadores demonstram nas nossas caixas de comentários não é apanágio dos fundamentalistas católicos nacionais.

De facto, PZ Myers, professor associado na Universidade de Minnesotta e autor do Pharyngula, comenta que não só o seu nome foi usado por um devoto cristão para conspurcar os comentários do blog de outro ateu americano (uma táctica recorrente no nosso espaço de debate) como, outra estratégia católica muito nossa conhecida, um blogger cristão pretendeu ser ateísta – e um ateísta supostamente com dois doutoramentos, um por Oxford e outro por Cambridge (!) – e criou um blog para classificar os muitos blogs ateus americanos num ranking de bons, maus e horríveis.

Ou seja, num deja vu para os nossos leitores habituais, que lêem frequentemente críticas dos pretensos ateístas, que se apresentam como intelectualmente superiores a qualquer dos humildes escribas do DA, e as suas «sugestões» sobre os tópicos que deveríamos escrever, o dito cristão pretende distinguir o «bom» ateísmo, isto é aquele que não é incómodo para a mitologia cristã, do «mau» ateísmo – aquele que o é.

Claro que as «inspiradas» e mui cristãs estratégias não surtem o efeito desejado. Do outro lado do Atlântico como cá as desonestidades cristãs são rapidamente desmascaradas. Mas não deixa de ser mistificante como aqueles que pretendem ser os detentores da «moral absoluta» recorrem a tácticas tão baixas (e pueris) para desacreditar os «relativistas morais» ateus! E a necessidade que evidenciam do recurso a falácias Argumentum ad Verecundiam (Apelo à autoridade) na tentativa de negar o que os ateus escrevem…