Loading

Dia: 24 de Julho, 2006

24 de Julho, 2006 Palmira Silva

Música sacra?

Sandro Botticelli «O nascimento de Vénus» (1485) Galleria degli Uffizi, Florença

Vecellio Tiziano «Adoração de Vénus» (1519), Museo del Prado, Madrid

Sempre achei curioso que muita da música reputadamente «sacra» tenha sido escrita por ateus, agnósticos ou panteístas. E mais curioso ainda que se assuma como dado adquirido que os artistas que a compuseram seriam necessariamente cristãos que expressavam em música a sua devoção fervorosa. No entanto, ninguém pensaria que, por exemplo, Botticelli ou Tiziano, o maior pintor da escola de Veneza, que pintaram profusamente cenas da mitologia greco-romana, eram pagãos adoradores de Baco, Vénus, Júpiter e restantes deuses.

De facto seria espantosa a quantidade de Te Deum, Requiem, Missa Solemnis, Stabat Mater e demais música sacra sortida, escrita por não teístas, obviamente sem alguma inspiração «divina», não fora o facto de nesse tempo para um artista sobreviver precisar ou de um patrono rico ou de escrever música por encomenda. Os únicos com dinheiro para tal faziam parte do clero ou da nobreza, a quem convinha estas cultas demonstrações de devoção.

Alguns exemplos de grandes compositores de música sacra não teístas são Ludwig van Beethoven, Berlioz – que a Enciclopédia Católica reclama como «seu» mas na realidade Berlioz era ateísta, como comprovado pelas palavras do próprio na sua correspondência publicada por G. K. Boult (Life of Berlioz, 1903, p. 298) – Johannes Brahms, o compositor do Ein deutsches Requiem, Mozart, Franz Peter Schubert ou Robert Schumann.



24 de Julho, 2006 pfontela

Tinham dúvidas?

Para quem ainda pudesse ter dúvidas sobre as verdadeiras intenções da hierarquia católica fica aqui parte de uma entrevista dada pelo cardeal Trujillo:

«Sobre o argumento “Não impor a moral católica aos não católicas”

“Conheço essa argumentação… Pensar assim significa não aceitar o desígnio de Deus…”.»
Ou seja vão todos ser católicos nem que tenham que ir presos! (quem diz ir preso diz arder na fogueira…)

Para mais pérolas na mesma entrevista ver aqui.

24 de Julho, 2006 Palmira Silva

Rock blasfemo

Sob a alegação de que as bandas participantes cantam músicas com líricas blasfemas que influenciam negativamente a juventude, uma igreja holandesa está a tentar impedir a realização do Festival Els Rock Open Air, programado para o próximo dia 26 de Agosto, na cidade de Rijssen. Entre as bandas esperadas encontram-se os Suffocation, Holy Moses, Sun Caged e Perzonal War.

Autoridades da Igreja holandesa solicitaram oficialmente a proibição do evento, mas a câmara local negou o pedido, uma vez que este foi autorizado há um ano e, como tal, já não é possível impedir a sua realização.

O vice-presidente da Câmara de Rijssen, Wim Stegeman, afirmou que não há bases legais para proibir o festival mas tentou apaziguar os dignitários cristãos afirmando que os organizadores do festival não convidaram bandas consideradas «demasiado extremistas» na sua abordagem lírica.

Acho pouco provável que Stegeman tenha convencido os dignitários de uma religião baseada na proibição de tudo e mais umas botas – e na carpição de perseguição pelos malvados anti-cristãos se não forem autorizados a impor a proibição do «pecado» ou da blasfémia a todos – sobre a ortodoxia das líricas a entoar no palco de Rijssen.

Especialmente se considerarmos que o «Imagine» de John Lennon foi considerado «abordagem lírica extremista», isto é, música «anti-religiosa», pelo director de uma escola primária católica que proibiu os pequenos alunos de cantarem o hino à paz internacional num evento dedicado ao tema «Músicas para um Planeta Verde».

Aliás, desde o «Ain’t Necessarily So», de George e Ira Gershwin, banido de todas as estações de rádio nos Estados Unidos e Inglaterra pouco depois do seu lançamento, já que, não questionando directamente a existência de Deus, desafiava a interpretação literal da Bíblia, a música tem estado sob a mira dos zelotas cristãos. Especialmente a música rock que para os fundamentalistas, como Ratzinger, é considerada um «contra-culto que se opõe ao culto cristão».

E especialmente «blasfemos» encontramos os músicos que não têm quaisquer problemas em assumir o seu ateísmo nas respectivas líricas, de Gary Numan a Marilyn Manson, passando por Bad Religion, Depeche Mode, Sex Pistols, Crash Test Dummies, Enigma, Trent Reznor, Bauhaus, REM, XTC, The The, Nine Inch Nails, John Lennon, Brian Eno (Roxy Music), Frank Zappa, David Byrne, Ani DiFranco, Tom Waits, etc..

Um excerto de uma lírica «blasfema» de Numan, um músico de culto que se revelou nos finais dos anos 70, abertamente anti-religião, do seu álbum de 1994 «Sacrifice», mais concretamente da faixa «A Question of Faith», especialmente certeira nestes tempos de violência em nome de Deus:

«When children kill children
Don’t it make them wonder?
Don’t it make them question their faith?»