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Dia: 21 de Julho, 2006

21 de Julho, 2006 Carlos Esperança

As religiões ainda resistem

As religiões vivem, no estertor, uma orgia de ódio conduzida pela demência do clero. Deus anda por aí, em sonhos místicos dos crentes e na raiva que a liberdade acorda.

Há um velho demente a quem chamam Jeová à espera de ser internado numa clínica do Paraíso, um Cristo ressuscitado, em corpo e alma, a precisar de casa e da companhia de Madalena e um defunto pastor de camelos a aguardar que lhe montem a tenda e que os proxenetas se ocupem de lhe fornecer virgens em vez de se dedicarem ao suicídio.

Os livros sagrados são excelentes para equilibrar uma mesa a que se partiu a perna, para nivelar um sofá em chão oblíquo ou fornecer folhas para acudir a um incréu que as salmonelas puseram em apuros. Também os salmos e os versículos podem ser úteis para introduzir nos sapatos, durante o Verão, para evitar que se deformem.

Infelizmente há profissionais que têm por missão, ler, divulgar e impor aqueles textos, que podiam ter feito o prestígio de uma pitonisa ou inspirado romances de cavalaria, como se fossem verdade reveladas por entes superiores.

Nas igrejas poisam virgens de porcelana, ricamente ataviadas e com coroas de ouro a segurar-lhe a testa, como aros nas aduelas em barris de vinho. Os santos jazem em peanhas nos templos desertos onde abundam Cristos dependurados em cruzes de ferro ou de madeira com ar de terem pertencido à Máfia. As velas dão um ar lúgubre ao local e os templos parecem salas de anatomia de uma universidade extinta.

É deprimente o abandono dos ícones, que passaram de objectos de adoração em imponentes catedrais para mercadorias em saldo, abandonadas em amplos espaços que parecem lojas dos trezentos. Cada vez há menos gente a entrar nas igrejas, substituídas pelas discotecas onde a piedade dá lugar à música, à dança e ao despertar dos sentidos.

No Islão, Deus ainda vive, ligado à máquina da fé pela violência dos clérigos e o medo dos crentes, alimentado pela miséria e a ociosidade que a explosão demográfica produz, perpetuado pelo nacionalismo e pelo ódio.

Deus é uma herança a que urge renunciar para que a paz seja possível.

21 de Julho, 2006 pfontela

Mais amor cristão

Como já venho a afimar há bastante tempo a expressão “politicamente correcto” é um perfeito disparate. É uma expressão que não tem qualquer significado no mundo real já que serve apenas para demonizar um conjunto de ideias ao mesmo tempo que se quer aparecer como grande rebelde que não tem medo do papão. É essencialmente uma forma intelectualmente cobarde de interpretar a realidade já que recusa a análise, a classificação correcta dos temas e o debate construtivo.

Sendo uma expressão que se baseia num conceito de medo e em parte na teoria da conspiração – sim porque ser politicamente incorrecto significa irritar os maus da fita, que são tão maus e tão poderosos que nunca os conseguem calar… – é perfeitamente natural que esta tenha sido a linguagem adoptada pelos partidos conservadores europeus que desde 1789 nao fazem outra coisa que apelar ao medo e à reacção (à falta de valores próprios que sejam tolerantes). Não é pois de estranhar que seja pela boca de Maria José Nogueira Pinto (porta voz em part time para o PP) que se oiçam coisas deste género.

Como sempre os conservadores têm como objectivo político obscuro: o legitimar de todas as formas possíveis os seus ódios ancestrais de estimação e é neste enquadramento que Nogueira Pinto se queixa amargamente que o cidadão comum (da sua ala política suponho) nao se sente confortável em dizer as “verdades”, que o politicamente correcto os impede serem perfeitamente honestos. Suponho que lhe deve incomodar que já não se considere aceitável numa sociedade civilizada uma discriminacao racista ou por orientação sexual (veja-se nestes exemplos a completa perversidade do politicamente correcto! Qualquer dia vão dizer que todos os cidadãos têm direito iguais perante a lei!). Aliás quero aqui dizer que acho de uma grande coragem que Nogueira Pinto (e a Igreja que representa) ataque grupos pouco ou nada representados politcamente e que sofrem na pele todos os dias a discriminação gerada pelo seu “amor” cristão.

Depois movemo-nos para o tema central do ataque de Nogueira Pinto: a defesa do catolicismo como grande moralidade. Essencialmente o que incomoda todos os conservadores é que se reconheçam outros tipos de famílias, em especial as monoparentais e as homossexuais. Ainda se fala em perversão das instituições básicas e mais uma mão cheia de trivialidades debitadas nas últimas intervenções de Ratzinger.

O que esta senhora quer fazer é o que a hierarquia católica deseja mas já não pode fazer directamente: acabar com a diversidade! Que nao hajam confusões, ela não está a defender o seu modelo de família, está sim a atacar todos os outros. A ICAR ambiciona um monopólio das definicões, da definicão de fé, da definicão de amor, da definicão de afectos, etc, porque percebe que nas definicões está a chave para o controlo da legislacão (é uma questão de lógica bastante simples, se eu controlo as premissas praticamente estou a ditar a conclusão).

A demagogia deste tipo de discurso é tão óbvia que chega a ofender os olhos daqueles que a contemplam. Fala-se primeiro de uma espécie de ditadura social que “oprime” as suas opiniões e depois passa-se a defender um modelo social como hegemónico senão mesmo único. A realidade é que os diferentes tipos de família não precisam nem de protecção nem de censura social, a família tradicional continuará a exisitir se continuar a preencher uma necessidade humana (mas pelo facto de sastisfazer as necessidades de alguns não quer dizer que satisfaça as de todos, daí a necessidade de diversidade).

Gostava de concluir reformulando uma das frases de Nogueira Pinto; ela afirma que a Europa atravessa uma profunda crise de valores e cultura mas eu digo-lhe a ela que o que está em profunda crise é o catolicismo ultramontano.