O cabo da GNR, António Luís Rodrigues da Costa, «matou a Joaninha e foi a pé para Fátima a seguir.»
Na garagem, tinha penduradas fotos de Salazar, do Américo Tomás, do papa João Paulo II e da irmã Lúcia.
A demência, o fascismo e a fé são compatíveis.
Timor está à beira da guerra civil e do ensino obrigatório da religião católica.
Não faltam armas nem padres.
Imaginemos uma aldeia isolada onde vivem cerca de 300 pessoas.
Uma delas é Gunther, um poderoso feiticeiro dotado de enormes poderes de presciência.
Na verdade, Gunther é tão poderoso, que até se sente capaz de criar vida humana, livre, do nada. Como sempre foi totalmente respeitador da Liberdade alheia, se as criar, cria-las-á livres, sem qualquer intenção de que estas vão fazer isto ou aquilo.
No dia 17 de Junho ele decide usar este seu poder. Ocorre-lhe criar o cego Matias, ou então a Maria, ou então o Alberto.
Devido à sua presciência, Gunther sabe que se criar o cego Matias, este cego, livre, usará a sua Liberdade para matar 100 aldeões. Se criar o cego, Gunther não terá esse propósito, mas ele sabe que isso é o que se sucederá.
Gunther também sabe que se criar Ana ou Alberto, eles não matarão ninguém. Poderão fazê-lo, claro, porque são livres, mas Gunther sabe que escolherão livremente não o fazer.
Gunther escolhe criar o cego Matias, e este mata 100 aldeões. Os aldeões que sobraram, desgostosos com a morte de seus familiares, juntam-se e arrastam-no para Tribunal: dizem que a sua decisão de criar Matias resultou na morte de 100 pessoas.
E o leitor? Acha condenável a decisão de Gunther?
Gunther está desolado. Sempre soube que o cego seria apanhado e torturado até à morte, como consequência das suas acções, e ele tem um enorme amor pela sua criação. Mas insiste que é inocente: a decisão foi do cego, mesmo que este último deseje ardentemente nunca ter existido, e mesmo que a decisão de o criar tenha pertencido a Gunther.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.