Loading

Dia: 26 de Junho, 2006

26 de Junho, 2006 Ricardo Alves

«Me cago en Dios»: uma peça a ver

Fui ver o espectáculo teatral «Me cago en Dios», em exibição n´«A Comuna». Resumidamente, é uma encenação cheia de imaginação sobre um texto divertido, mas que não aponta pistas sobre como se vive sem deuses. Gostei, e recomendo a quem tiver estômago para a sátira anti-religiosa. O espectáculo estará em cena até ao dia 2 de Julho.

Quanto à mini-polémica que provocou (já referida pelo Carlos Esperança), demonstra que os católicos continuam parecidíssimos com os muçulmanos: em Madrid registaram-se agressões contra actor e autor, a ICAR espanhola pediu que o espectáculo fosse proibido, e em Portugal os clericais vandalizaram a tela que anunciava a peça, tendo também uma militante clerical sido acompanhada a casa pela PSP por duas vezes. A pulsão totalitária (o impulso irresistível para proibir os outros de fazerem, mesmo que em privado, algo com que não se concorda) é comum ao islão e ao catolicismo, e depois dos casos dos cartunes de Momé, d´«O Código da Vinci» e deste mesmo, só quem não quer é que não vê que a liberdade de expressão é um direito que se conquista e defende contra todas as religiões.

Finalmente, acrescente-se que ao contrário de uma vil calúnia posta a circular pela «civilizacionista» Helena Matos (que não deve ter visto o espectáculo), a peça não isenta o Islão de crítica (como também não isenta os neopentecostais). Um crescente islâmico (nada equivalente à Cruz Vermelha dos cristãos) está bem visível ao longo de todo o espectáculo (assim como outros símbolos religiosos), e referem-se os «milhões de mortos» do islão (e das outras religiões). E a mesquita de Lisboa fica ali do outro lado da Praça de Espanha…

Islão e ICAR, a mesma luta.
26 de Junho, 2006 Carlos Esperança

Timor e a religião

Timor está à beira da guerra civil e do ensino obrigatório da religião católica.

Não faltam armas nem padres.

26 de Junho, 2006 jvasco

Gunther é inocente?

Imaginemos uma aldeia isolada onde vivem cerca de 300 pessoas.

Uma delas é Gunther, um poderoso feiticeiro dotado de enormes poderes de presciência.

Na verdade, Gunther é tão poderoso, que até se sente capaz de criar vida humana, livre, do nada. Como sempre foi totalmente respeitador da Liberdade alheia, se as criar, cria-las-á livres, sem qualquer intenção de que estas vão fazer isto ou aquilo.

No dia 17 de Junho ele decide usar este seu poder. Ocorre-lhe criar o cego Matias, ou então a Maria, ou então o Alberto.

Devido à sua presciência, Gunther sabe que se criar o cego Matias, este cego, livre, usará a sua Liberdade para matar 100 aldeões. Se criar o cego, Gunther não terá esse propósito, mas ele sabe que isso é o que se sucederá.

Gunther também sabe que se criar Ana ou Alberto, eles não matarão ninguém. Poderão fazê-lo, claro, porque são livres, mas Gunther sabe que escolherão livremente não o fazer.

Gunther escolhe criar o cego Matias, e este mata 100 aldeões. Os aldeões que sobraram, desgostosos com a morte de seus familiares, juntam-se e arrastam-no para Tribunal: dizem que a sua decisão de criar Matias resultou na morte de 100 pessoas.

E o leitor? Acha condenável a decisão de Gunther?

Gunther está desolado. Sempre soube que o cego seria apanhado e torturado até à morte, como consequência das suas acções, e ele tem um enorme amor pela sua criação. Mas insiste que é inocente: a decisão foi do cego, mesmo que este último deseje ardentemente nunca ter existido, e mesmo que a decisão de o criar tenha pertencido a Gunther.