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Dia: 29 de Abril, 2006

29 de Abril, 2006 Carlos Esperança

O Papa e o preservativo


Há quem pense que a maior abertura do Papa ao preservativo (salvo seja) se deve à descoberta de que a pastilha elástica que costumava mascar, com sabor a morango, não era uma pastilha.

Aliás, em matéria de tolerância, a ICAR vence os mullahs e os ayatollahs. Os Papas da Idade Média eram devassos e libertinos, não perdiam o tempo a ler o breviário nem a Bíblia. Deus era mero pretexto para alimentar a pompa e circunstância em que viviam.

Os Bórgias tornaram-se tão célebres com as suas orgias que, ao pé deles, Bento 16 é um menino de coro com destino à santidade. Se tivessem uma fé tão exacerbada quanto as hormonas, fariam inveja aos anacoretas que se isolaram para estar a sós com Deus.

O ardor com que os Papas da Inquisição esturricavam hereges vinha-lhes do entusiasmo místico, da volúpia com que escorropichavam as galhetas e chupavam as rodelas de pão ázimo. O corpo, salvo o próprio, era um recipiente imundo de que urgia libertar a alma.

No Vaticano, um antro de vícios e intrigas, continuam os Papas a ocupar vitaliciamente o lugar, ultimamente sem que a Cúria lhes abrevie o sofrimento e lhes antecipe o fim.

Têm a obsessão do sexo e defendem a castidade, sonham orgasmos e execram o prazer, evitam a reprodução própria e incitam os outros à prossecução da espécie.

Sob a mansidão das falas é preciso estar atento à peçonha que brota do bairro de 44 ha, onde não há maternidade mas se reproduzem bispos, onde mingua a transparência e sobeja a intriga, onde a perfídia não impede o fabrico de santos nem as orações escondem a sede de poder temporal.