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Dia: 4 de Abril, 2006

4 de Abril, 2006 Ricardo Alves

O Opus Dei como organização totalitária

Imagina, caro leitor, que pertences a uma organização que te proíbe teres relações sexuais e te obriga a contar qualquer fantasia sexual que tenhas; que controla os teus contactos com a tua família e abre a tua correspondência; que escolhe os livros que lês e os filmes que não podes ver; que te dá um programa diário intensivo de rituais religiosos, mas deixa-te sair para trabalhar e recrutar novos membros; que te retira o teu salário e o administra por ti; que te encoraja a agredires-te com um chicote e a usar um cinto com picos de ferro; que te faz viver numa casa onde apenas estão permanentemente outros como tu, do mesmo sexo que tu, e que só é visitada por outros que aspiram, dizem-te, a ser como tu. Imagina que te convencem de que unicamente através desta organização alcançarás a maior das honras possíveis (que é «ser santo», dizem eles), e que sabes que se saíres todos cortarão relações contigo, e te deixarão de falar se te cruzares com eles na rua. É esta, muito resumidamente, a vida de um membro numerário do Opus Dei, uma organização autoritária e totalitária que tem apoiado ditaduras de extrema direita na América Latina, que se prepara para lançar um candidato à Presidência do Brasil, e que cada vez tem mais influência dentro da ICAR, em parte devido ao seu poder na alta finança.

Os pais de família, principalmente os católicos, têm o direito de saber o que espera os seus filhos se estes se deixarem seduzir pelos «cursos» e «retiros» organizados pela Obra. Como diz um ex-numerário: «tiram tudo da gente: o salário, a família, a alma (…) no final você é um nada, fica destruído». É portanto imprescindível ler os depoimentos daqueles que abandonaram a organização (que já foi considerada uma seita pelo parlamento belga), e hoje têm a coragem de falar da organização perversa e totalitária que deixaram para trás. Recomendo os testemunhos seguintes: Opus Livre, Opus Libros e Opus Dei Awareness Network.

Se algum dia esta organização dominar totalmente a nossa sociedade, não teremos outra liberdade senão a de ir em rebanho à missa e ajoelhar abjectamente.
4 de Abril, 2006 Palmira Silva

Sweet Home Alabama

Os defensores intransigentes do direito à vida de óvulos e espermatozóides americanos, pelas razões esperadas, são especialmente activos nos Estados do cinturão bíblico. Certamente por inspiração divina, estes cruzados contra o aborto, que incluem devotos cristãos como Eric Robert Rudolph, condenado em Abril de 2005 a prisão perpétua pelos ataques bombistas a clínicas de IVG, clubes homossexuais e outros perfeitamente legítimos alvos (da sua perspectiva cristã, claro), consideram como este último, que «O aborto é assassínio» e que «a força mortífera é necessária para o parar».

No Mississipi, Joseph Booker, o último ginecologista pró-escolha que sobrevive neste estado, está há 18 meses sob protecção federal. Booker é forçado a dirigir-se ao seu local de trabalho, a única clínica do estado que realiza interrupções voluntárias da gravidez e que está constantemente cercada por devotos cristãos, usando colete à prova de bala e um capacete militar.

A perseverança de Booker em ajudar especialmente as mulheres de menos recursos deste estado (as outras vão para fora, onde não são conhecidas) pode ser desnecessária em breve já que o Mississipi se prepara para seguir as pisadas do South Dakota que proibiu o aborto em todas as circunstâncias, mesmo em caso de violação (com a Sodomized Religious Virgin Exception, claro).

No Alabama é apenas uma questão de tempo para que apenas os abortos para salvar in extremis a vida da gestante sejam permitidos.

Dentro em breve será prevísivel que mais estados declarem, como o Missouri, ser a religião oficial do estado o cristianismo, a única «verdadeira».

Se os crentes se limitassem a acreditar nas suas mitologias sortidas sem exigir a subordinação da res pública às suas idiotias anacrónicas, nomeadamente usando-as para discriminar e negar direitos a mulheres e homossexuais, interferir no sistema educacional e na ciência, enfim tentar impôr a todos a sua visão irracional e obscurantista do mundo, suponho que nenhum ateísta, eu inclusive, devotaria um segundo do seu tempo a este tema. Infelizmente a conjuntura internacional propicia o florescer da intolerância e totalitarismo religioso e para que o fim desta história não seja o retorno da história, isto é, da militância religiosa das guerras «santas» e da Inquisição, recordemos de novo o paradoxo da tolerância de Karl Popper: «Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes, e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância».

Quem estiver interessado pode ouvir aqui a faixa (1974) de Lynyrd Skynyrd que dá título ao post.