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Dia: 6 de Janeiro, 2006

6 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

A melhor comédia de sempre

E esta não é apenas a minha opinião: A vida de Brian dos Monty Python foi nomeada a melhor comédia de todos os tempos numa sondagem conduzida pelo Channel4 da BBC. Outra sátira do magistral grupo britânico, Monty Python e o Santo Graal, ficou em sexto lugar no voto popular.

Quase 27 anos após o lançamento da mais conseguida sátira religiosa que já assisti, uma crítica certeira à superficialidade do fanatismo cego e acéfalo, podemos ver que as religiões organizadas, o alvo da sátira, continuam a não digerir o sucesso por esta alcançado. Após muitas acusações de blasfémia por parte das Igrejas cristãs, a exibição pública do filme foi proibida em muitos países, aliás esteve proibida até há pouco tempo em algumas zonas de Inglaterra, o que contribuiu para a sua entronização como filme de culto.

6 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Deus & o Diabo, S.A.R.L.

Há para aí quem acredite no Deus que ditou a um pastor de camelos, analfabeto e tribal, um livro tão detalhado que, da gastronomia ao sexo, da discriminação das mulheres à interdição do álcool, do número de orações diárias às relações sexuais, tudo seria feito segundo a sua vontade.

Esse Deus, tão rude e violento como o destinatário, afiançou-lhe que a sua tribo era a predilecta, que as outras eram infiéis e deviam ser assassinadas pela seguinte ordem: primeiro os judeus e, depois, os cristãos e, posteriormente, todos os que não prestassem vassalagem ao profeta.

Antes desse esquizofrénico plagiador já o Deus do Cristianismo tinha visitado a zona geográfica, feito milagres, pregações e ressuscitado mortos para que todos fizessem o que queria o Deus mais velho, a quem chamava pai, enquanto um pobre carpinteiro era ultrajado por uma pomba e um anjo fez de alcoviteiro.

Também este plagiara um tal Jeová, o primeiro a ditar um livro, como se Deus fosse dado à literatura, que jurou amor a doze tribos de Israel e fez uma escritura de doação de terras que ainda mata que se farta entre fiéis dos diversos avatares do deus abraânico.

Claro que para as religiões monoteístas é extremamente difícil explicar com o seu mito bom, generoso, omnipotente, omnisciente e omnipresente, as guerras, as tragédias e crueldades que ensanguentam o mundo.

Assim, os crentes começaram a desconfiar de Deus e a acreditar no Diabo.

6 de Janeiro, 2006 lrodrigues

Com a boca na botija

Segundo a Associated Press, Lonnie Lathan um pastor baptista e membro do comité executivo da «Convenção Baptista do Sul», a maior Igreja Protestante dos Estados Unidos, foi preso em Oklahoma City sob a acusação de «lascívia» por ter sido apanhado em flagrante a propor a um polícia à paisana que fosse com ele para um quarto de hotel para lhe fazer sexo oral.

Quando foi libertado o bom do reverendo declarou que tinha sido apanhado numa cilada já que se encontrava no local somente a… pregar.
Isto apesar de o local ser conhecido por ser frequentado por prostitutos masculinos.

O reverendo Lonnie Lathan tornou-se conhecido pelo vigor com que não só se manifestou contra a homossexualidade e contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo mas também pelo apoio à política da sua Igreja de tentar convencer os homossexuais «a aceitarem Jesus Cristo como seu salvador e a rejeitar o seu estilo de vida destrutivo e de pecado» para assim se tornarem heterossexuais.

Confesso que sempre achei curioso e ao mesmo tempo difícil de compreender o entusiasmo fanático com que tantas pessoas, principalmente padres, pastores e similares, se proclamam contra os homossexuais e contra a sua luta por uma simples igualdade de direitos na sociedade.

Talvez, quem sabe, esteja aqui a explicação…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)
6 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Totalitarismo ou religião?

A Comissão Europeia, através da Rede Europeia de peritos em direitos fundamentais que analisou o documento, avisou que o esboço de Concordata da Eslováquia pode corresponder a uma violação das obrigações deste país como membro da União Europeia. Em causa estão as cláusulas com que o Vaticano quer impor a sua posição anacrónica e aberrante sobre os direitos reprodutivos da mulher, via a «objecção de consciência religiosa».

Keith Porteous Wood, da Sociedade Nacional Secular britânica, aplaudiu as conclusões do painel de peritos, apontando que «Esta Concordata permitiria aos Eslovacos que o desejassem forçar a doutrina católica, por exemplo em relação ao aborto ou à contracepção, (…) independentemente das implicações adversas nas pacientes, que poderiam ser severas. O esboço do documento também é discriminatório a favor dos cristãos em certas áreas em detrimento daqueles de outras ou nenhuma religião».

As tácticas são diversas das dos talibans mas quer os objectivos quer os principais alvos são os mesmos: impôr a todos, especialmente às mulheres, as aberrantes «verdades absolutas» das respectivas religiões!

6 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

A saga afegã

Ahmed Shah Massoud, o leão de Panjshir, assassinado em 9 de Setembro de 2001.

Há pouco mais de uma semana assisti a um programa do Canal de História, Afeganistão, O Legado Da Guerra, retratando ao longo de mais de uma década os horrores de uma guerra que massacra os afegãos há quasi três vezes esse tempo. Um guerra que começou política e, depois da saída da União Soviética do país em 1989, que continuou numa guerra religiosa entre os fanáticos wahabitas conhecidos como Talibans e a coligação de mujahidin comandados por Ahmed Shah Massoud, que figurou proeminentemente no documentário. Guerra religiosa cujas verdadeiras proporções são bem expressas neste relatório sobre (e apenas este) o massacre de Mazar-I Sharif.

E guerra religiosa dirigida especialmente às mulheres que, sob o regime Taliban que perdurou até 2001, se tornaram verdadeiras reféns nas suas próprias casas, proíbidas de estudar, trabalhar, sair sem companhia de um familiar masculino, destituidas dos mais elementares direitos e de qualquer vestígio de dignidade.

Desde a queda dos Talibans em finais de 2001, que a posição cultural, política e social das mulheres afegãs tem vindo a normalizar, isto é a voltar à situação anterior às fanáticas lapidações religiosas. Pelo menos no papel, já que a recém adoptada Constituição afirma a igualdade de direitos de homens e mulheres. Na prática, os talibans continuam a ter um peso pernicioso na sociedade afegã e os seus métodos não se alteraram pela paz relativa dos últimos anos, ou seja, continuam a considerar-se divinamente justificados para impor as suas aberrantes «verdades absolutas» sobre as mulheres. Assassinando ou ameaçando de morte aquelas que, como Shaima Rezayee ou Malalai Joya, se atrevem a desafiar as regras impostas pelos talibans.

Desta vez o regime de terror dos fundamentalistas tenta minar a penosa reconstrução de um país em guerra ininterrupta há quasi 30 anos, assassinando professores de escolas em que são aceites raparigas como alunas.

Um dos últimos ataques ilustra os extremos que o fanatismo (diria mais, demência) religiosa pode atingir. Malim Abdul Habib, o director de uma destas escolas, que, infâmia das infâmias, se atrevia, apesar dos «avisos», a ensinar raparigas, foi arrastado do interior para o pátio de sua casa em Qalat, a capital da província de Zabul, na passada noite de terça-feira. Aí, perante os olhos da sua família, forçada pelos fanáticos a assistir, foi decapitado pelos defensores da pureza da fé wahabita.

O documentário a que assisti e os testemunhos recolhidos pelo jornalista do Guardian indicam que a esmagadora maioria da população não só quer ver as suas filhas educadas como gostaria de se ver livre dos talibans. Mas as tácticas de terror destes parecem estar a resultar. Nabi Khushal, o director de educação em Zabul, afirmou à Associated Press que já fecharam por motivos de segurança 100 das 170 escolas da província e que apenas 8% dos alunos são raparigas.