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Dia: 20 de Dezembro, 2005

20 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Espanha – A ICAR e o IVA

Em Espanha, quando o Governo permitiu os casamentos homossexuais, agitaram-se as sotainas, rugiram os prelados e todos ganiram torpes homilias contra a lei e a extensão de direitos a uma parte da sociedade que estava excluída.

O carácter facultativo da disciplina de religião católica, ministrada por empregados das dioceses e pagos pelo erário público, levou santas cavalgaduras a falar de um ataque do PSOE à liberdade religiosa.

O cumprimento da Constituição e o fim de algumas mordomias que Aznar, ligado ao Opus Dei, lhes tinha ilegalmente concedido, fizeram eminentes purpurados trocar o conforto dos paços e a melodia do cantochão pelas manifestações de rua e o ruído de palavras de ordem.

Substituíram ave-marias pela chantagem, ao breviário preferiram a ameaça, aderiram ao confronto e marimbaram-se no credo.

No entanto permanece grossa a fatia do orçamento de Estado que alimenta a gula da cáfila imensa de prosélitos do divino.

A Comissão Europeia exige ao Governo espanhol que obrigue a ICAR a pagar IVA. Esvoaçam vestes talares a caminho do Palácio da Moncloa a procurar limitar os danos.

Um pobre compra pão e paga IVA, a ICAR encomenda hóstias e está isenta; o cavador esportula o imposto pela enxada, a ICAR compra uma patena de ouro sem IVA; um casal adquire um pequeno apartamento e paga, a paróquia compra um palácio sem imposto; um operário que compra um desodorizante, para poupar a pituitária ao odor do sovaco, paga, um cónego que faz uma encomenda de incenso, não.

O serviço de jantar de má qualidade, o fato-macaco, o trajo de carnaval, a gabardina ou a fotografia da sogra, pagam IVA. Uma custódia, o turíbulo, a alva, a casula, a mitra, o báculo, uma escultura do padre Escrivá, os santinhos com a fronha de Bento XVI ou o palácio episcopal ficam isentos, para salvação da alma dos contribuintes espanhóis.

É a este abuso eclesiástico que a directiva comunitária se propõe pôr cobro.