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Dia: 15 de Dezembro, 2005

15 de Dezembro, 2005 Mariana de Oliveira

A não perder

An Atheist Manifesto.
Eis a nota do editor devidamente traduzida:

Numa altura em que a religião fundamentalista tem uma influência sem paralelo nos mais altos níveis de governo dos Estados Unidos e o terror baseado na religião domina o palco mundial, Sam Harris argumenta que a progressiva tolerância da desrazão religiosa é uma ameaça tão grande como a própria religião. Harris, filósofo graduado em Stanford, que estudou religiões ocidentais e orientais, ganhou o prémio PEN de 2004 com o livro «The End of Faith», que examina e explora de forma explosiva os absurdos da religião organizada. «Truthdig» pediu a Harris que escrevesse uma resenha da sua tese que defende que a crença em Deus e o apaziguamento dos extremistas religiosos pelos moderados de todas as crenças foi e continua a ser a maior ameaça para a paz mundial e um assalto continuado à razão.

15 de Dezembro, 2005 Mariana de Oliveira

Acção de rua

O senhor bispo do Algarve, Manuel Neto Quintas, visitou a Escola Básica 2+3 de Monchique – no âmbito de uma visita pastoral que o levou também ao Jardim de Infância e Escola de S. Roque, na vila-sede e à escola do 1.º ciclo da freguesia de Alferce -, onde os alunos de três turmas tiveram a oportunidade de privarem com tal personagem.

O objectivo da visita de Manuel Quintas à escola não é certo. O Diário de Notícias tentou averiguá-lo, mas a vice-presidente do conselho executivo da escola escudou-se num poderoso argumento: a questão é «descabida», limitando-se a afirmar que todos os encarregados de educação foram informados da visita do bispo.

Apesar de o artº 9º, nº 1, al. a) da Lei da Liberdade Religiosa estabelecer expressamente que ninguém pode «ser obrigado a professar uma crença religiosa, a praticar ou a assistir a actos de culto, a receber assistência religiosa ou propaganda em matéria religiosa», o bispo do Algarve acha que é necessário «dar uma palavra de estímulo aos professores, em relação à sua missão, que não é fácil, e desmistificar perante os alunos a figura do bispo como alguém distante, inacessível». Notem: «aos professores» (numa conveniente generalização) e não… aos professores de religião e moral.

Por sorte, ainda há alguém minimamente ajuízado. Albino Almeida, o presidente da Confederação das associações de Pais, reagiu a esta visita, lamentando «que não tenha havido da parte do bispo do Algarve o bom senso de evitar fazer da escola um local de disputa religiosa. Com a sua atitude, qualquer fundamentalista ganhou o direito de ir fazer propaganda religiosa às escolas».

Quanto à questão dos crucifixos, Albino Almeida entende que «o Estado se define constitucionalmente como laico e deve haver coerência entre a Constituição escrita e a praticada – e sempre que não houver cabe ao Estado garantir que haja». Portanto, «os símbolos religiosos não fazem sentido das escolas, estão lá a mais».

Relativamente ao argumento da tolerância, o presidente da Confederação das associações de Pais acha que «a prioridade número um em termos de religião deve ser fraternidade e tolerância. E se há uma determinada confissão que se considera em maioria tem obrigações suplementares em relação às minorias. Neste caso, se há intolerância, é da parte dos católicos».

15 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Cada coisa no seu lugar

Os mapas de Portugal, ilhas adjacentes, colónias e o mapa-múndi devem ser retirados das igrejas.

Igual procedimento devem merecer a cadeia do agrimensor, as medidas de capacidade e os sólidos geométricos. Não é justo que uma pirâmide de madeira ocupe a patena ou as medidas de peso viagem no turíbulo por entre o fumo do incenso.

A custódia é para pôr o Senhor e não para mostrar o círculo e a circunferência. Quando se celebra a missa não se deve medir a tonsura do pároco com um compasso, para calcular a área e ensinar o valor de Pi, porque o bico pode ultrapassar o coiro cabeludo.

O altar deve ser aliviado do quadro preto e do giz. O transepto não se destina à ginástica nem as capelas laterais a instalações sanitárias. O confessionário não serve para provas orais. A sacristia não é local de recreio nem sala de reuniões pedagógicas.

É preciso respeitar os locais de culto para que os devotos respeitem as escolas. O facto de excluir o material didáctico das igrejas não significa que se expulse o conhecimento dos templos, apenas se respeita o espaço recreativo dos fiéis e o local de confraternização com o divino.

O Cristo que decora o altar não deve servir para aulas de anatomia nem as cruzes que exornam as paredes ser usadas para ensinar as contas de somar. Deve evitar-se a pia de água benta para ensopar a esponja que apaga o quadro preto ou fazer aí experiências para provar a lei de Arquimedes.

Se respeitarmos as igrejas, como devemos, estou certo de que os crentes saberão respeitar o carácter laico da escola pública.

15 de Dezembro, 2005 jvasco

Já chega de vitimização

Não quero que chegue o dia em que alguém seja perseguido por ser crente em Portugal. Na China isso tem acontecido e foi denunciado pelos autores deste blogue (o Carlos Esperança). Felizmente é delirante pensar que possa acontecer em Portugal (se bem que a atitude de parte da Igreja Católica face à IURD e outras igrejas evangélicas torne o cenário menos absurdo).

A perseguição religiosa é intolerável. Todos os autores deste blogue consideram que a perseguição religiosa é intolerável.

Quando nos batemos pela laicidade e certos crentes agitam os fantasmas da perseguição religiosa e do medo de serem perseguidos por serem cristãos, não tomo isso como um delírio absurdo qualquer. Sinto-me insultado com esse constante receio. Não tenho nada contra alguém por ser crente (de todo!), mas espero dos crentes a atitude recíproca. Quando argumento, por exemplo, sobre a retirada dos crucifixos nas escolas, espero argumentos sobre os crucifixos. Não espero fantasias acerca dos autores deste blogue feitos inquisidores. Nunca tive vocação para isso.

Tenho repetido isto até à exaustão nos comentários. Pelos vistos tem sido insuficiente…