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Dia: 8 de Dezembro, 2005

8 de Dezembro, 2005 Palmira Silva

Evolução desenhada

No próximo número da revista Nature, disponível online ontem, é publicado o genoma da Tasha, uma cadela boxeur de 12 anos. Usando esta informação como referência, os cientistas envolvidos no projecto sequenciaram selectivamente partes do genoma de 10 raças caninas diferentes e de espécies relacionadas na árvore da evolução como o coiote e o lobo cinzento.

De facto, os nossos fiéis amigos são ideais para falsificar alguns detalhes do evolucionismo já que a espécie Canis familiaris, graças aos humanos que os «adoptaram» ainda na forma de Canis lupus e moldaram a sua evolução nos últimos 15 000 anos, permite traçar ao longo deste tempo as raízes genéticas das características que cada raça desenvolveu.

A descodificação do genoma do cão é fascinante de per se mas, não obstante os cães estarem mais distantes de nós na árvore evolutiva que outros mamíferos cujo genoma já foi sequenciado, como o chimpanzé, servirá principalmente para testar algumas hipóteses concernentes à forma como os mamíferos evoluiram.

Extremamente promissora é a análise de algumas sequências do ADN que continua a intrigar os cientistas, denominado «junk (lixo) DNA», no sentido que não é codificante, que são conservadas nos ratos, humanos e cães. O facto destas sequências serem muito semelhantes nas três espécies indica que podem funcionar como interruptores moleculares que ligam e desligam a actividade dos genes. A investigação do papel do «junk DNA» e a descoberta do que silencia e activa os genes são duas áreas da genética moderna ainda na sua infância.

Como disse Kerstin Lindblad-Toh, a líder deste projecto, «Estes sinais que decidem quando um gene é ligado e desligado são extremamente importantes. Agora nós estamos a olhar para a ponta do iceberg, mas quando tivermos dez ou vinte (genomas de) mamíferos poderemos cristalizá-lo ainda mais».

Ainda não são conhecidas reacções a mais esta evidência da macro-evolução por parte dos neo-criacionistas (ou IDiotas), certamente ainda a digerir o relatório da Fordham Foundation sobre o ensino de ciência nos Estados Unidos, mais concretamente sobre os padrões a serem seguidos nas escolas de cada estado. Como seria de esperar, o Kansas teve a nota mais baixa…

8 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Laicismo quando convém…

O artigo da Palmira «Apelo à laicidade na Rússia» levou-me a reflectir sobre as religiões que exigem o laicismo quando são minoritárias e o monopólio quando maioritárias. Acontece com o judaísmo e, principalmente, com o islão e o cristianismo.

O totalitarismo faz parte do código genético das religiões monoteístas que vêem no martírio a prova maior da devoção e no assassínio de infiéis uma manifestação de piedade.

Os livros sagrados estão recheados de promessas aliciantes para os cadáveres precoces ao serviço da insânia da religião respectiva.

A demência do islão, que seria injusto e perigoso confundir com todos os devotos, atinge proporções tais que se tornou um perigo para si próprio e uma ameaça para a civilização.

É verdade que algumas seitas cristãs são hoje tolerantes, não por mérito próprio ou natureza, mas pela sólida formação democrática dos seus crentes. A Reforma prestou um inestimável serviço à civilização e constituiu um enorme progresso na defesa das liberdades individuais. Felizmente, sobretudo na Europa, muitos crentes assimilaram os valores sagrados da liberdade e são capazes de trocar a Bíblia pela Declaração Universal dos Direitos do Homem.

No entanto, o evangelismo neoconservador dos EUA, o catolicismo reaccionário de Bento XVI e o florescente cristianismo ortodoxo parecem mimetizar-se com o delírio prosélito do islão radical.

Só a laicidade lhes pode fazer frente.