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Dia: 30 de Novembro, 2005

30 de Novembro, 2005 Palmira Silva

Faz hoje 70 anos que morreu o poeta

(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)

(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara,?… Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos…
Poderia julgar que o sol
Alumia e que a trovoada
É um barulho repentino
Que principia com luz.
Ah, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde de existir
Das árvores e das plantas!)
(…)
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, aqui estou!
(…)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
(…)
Só a natureza é divina, e ela não é divina…

Se às vezes falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nomes às cousas.

Fernando Pessoa in O Guardador de Rebanhos

30 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

A existência de Deus

Cabe a quem afirma e explora a existência de Deus o ónus da prova mas não há a mais leve suspeita de que exista nem, da parte dele, o menor esforço para fazer prova de vida.

Todas as religiões reivindicam o único Deus verdadeiro, donde se conclui que, na melhor das hipóteses, todas, menos uma, são falsas e, certamente, são todas.

A falta de provas não desanima os propagandistas nem lhes tolhe o proselitismo. Uma multidão de clérigos esforça-se por submeter a humanidade à vontade do mito e procura bater a concorrência.

Os livros sagrados propalam que Deus, farto de ócio e do Paraíso, veio à Terra anunciar os seus desejos e ameaçar quem o contrariasse. Trouxe um ror de proibições e ameaças que os padres se encarregam de divulgar e fazer cumprir.

São pouco credíveis os livros, pouco idóneos os escribas e pouco recomendáveis os zeladores. A Tora, a Bíblia e o Corão são piedosas falsificações, revistas e corrigidas ao longo dos tempos, destinadas a espalhar o terror, a crueldade e a submissão.

As religiões monoteístas perpetuam o tribalismo e a barbárie de acordo com as páginas que lhes servem de referência. A vontade divina confunde-se com os interesses do clero, aliado indefectível das classes dominantes e dos detentores do poder.

Os crimes religiosos, as guerras travadas e a violência perpetrada e perpetuada ao longo dos séculos pelos jagunços de Deus tornam as religiões uma tragédia. Os negócios, os privilégios e o charlatanismo asseguram a longevidade das Igrejas.

O ateísmo é uma vacina eficaz contra a acção deletéria da fé e não pretende, ao contrário dos parasitas de Deus, fazer proselitismo. Os ateus limitam-se a desmascarar a mentira e o charlatanismo, à semelhança das associações de defesa do consumidor.

Ao serviço deste desígnio, faz hoje dois anos, nasceu o Diário Ateísta.