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Dia: 14 de Novembro, 2005

14 de Novembro, 2005 fburnay

Galileu e a Igreja (I)

Quando Galileu abjura das suas heresias não é a primeira vez que se apresenta à Inquisição. Na verdade, até à morte do papa Paulo V, Galileu tinha uma relativa segurança em relação à Igreja.

Parte dos problemas de Galileu começam com Giordano Bruno. Se bem que este teve muitas oportunidades de abjurar o seu hermetismo (foi isso que o levou a aceitar o heliocentrismo – porque se ajustava à sua visão religiosa, de inspiração greco-egípcia, do mundo) não deixa de ser possível que se não fosse ele seria outro o culpado pela inclusão, em 1616, do herético De Revolutionibus Orbium Coelestium de Copérnico no Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica (do qual só foi retirado em 1835). Bruno é de facto, um mártir do livre-pensamento mas não um mártir da Ciência. Apesar desse hipoteticamente evitável dano feito à Ciência, é tendo presente o exemplo da execução de Giordano Bruno que Galileu toma cuidado com o modelo de Copérnico.


A ideia «louca e absurda e formalmente herética» de Nicolau Copérnico, «na melhor das hipóteses, errónea de verdade».

Galileu começa os seus estudos em casa mas mais tarde é enviado para um mosteiro, em Vallombrosa. Mas depois de contrair uma infecção ocular o pai levou-o para Florença para o tratar e, apesar de Galileu ter ficado registado como padre não consagrado, nunca mais lá voltou.

Desde a sua entrada na universidade de Pisa para estudar Medicina, que Galileu questiona o “conhecimento” aristotélico que lá é ensinado. Dadas as ligações que a sua família tem à corte, nomeadamente a da Toscânia que passava o Inverno em Pisa, o aluno entra em contacto com o matemático da corte toscana, cujas aulas frequenta. É então que Galileu abandona a Medicina para abraçar a Matemática, disciplina que lecciona na universidade a partir de 1589. Nestas aulas de matemática, o que se ensinava era uma forma primitiva de Física, na altura designada por Filosofia Natural (até mesmo ao tempo de Newton – basta ver o título da sua grande obra). E como não poderia deixar de ser, Galileu é obrigado a ensinar a visão aristotélica… No entanto, como o seu lugar na universidade é mal pago (60 coroas contra as 2000 pagas a um professor de Medicina), Galileu alberga e dá aulas privadas a alguns dos seus estudantes mais ricos, para conseguir sobreviver. Nessas aulas ele ensinava as suas ideias sobre o funcionamento do mundo. Mas Galileu estava ciente do perigo que era tomar esse partido e, juntamente com a falta de interesse que tinha em leccionar em Pisa e os seus problemas económicos, isso levou-o a procurou um lugar em Pádua – na altura uma cidade controlada por Veneza, um estado suficientemente forte para fazer frente a Roma.

Galileu consegue, graças à sua grande habilidade diplomática e aos conhecimentos anteriormente obtidos na corte toscana, a permissão do grão-duque da Toscânia para ocupar a cátedra de matemáticas da Universidade de Pádua. É aí que conhece dois membros do clero que irão influenciar o seu futuro – frei Paolo Sarpi, que viria a tornar-se seu grande amigo, e o cardeal Roberto Bellarmine, um dos homens mais poderosos do Vaticano e o principal responsável pela perseguição de Giordano Bruno por heresia.

14 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Momento Zen da segunda-feira

A única prova da existência do Paraíso reside no fanatismo com que se imolam os suicidas islâmicos e, em sentido figurado, o beato João César das Neves (JCN).

JCN é um suicida que arremete, inspirado por Pio IX , contra a modernidade. O Papa anti-semita, que já fez um milagre, odiava tudo o que fosse novo, particularmente a democracia, o livre pensamento, a liberdade e a perda do poder temporal dos Papas.

JCN é émulo do sinistro Papa. É dos poucos que acredita em milagres e nas aparições de Fátima, que engole os dois dogmas de Pio IX: o da Concepção Imaculada e o da virgindade de Maria. JCN não é um simples crente, é um hissope carregado de água benta.

Esta semana aspergiu-nos com excelentes pérolas.

Referindo-se a leis que aguardam aprovação, o bem-aventurado declara-as como «as maiores infâmias»:

– «experiências científicas com embriões» (art. 7.º);
– «maternidade de substituição» (art. 6.º e 27.º);
– «bancos de esperma (art.15.º) [JCN não sabe que existem há muito];
– «doação de ovócitos» (art. 24);
– «criação e congelação de embriões excedentários» (art. 21).

Desolado, escreve ainda, certamente de mãos postas, que «Portugal vai repetir os horríveis crimes e dramas pessoais e familiares que o abuso destas técnicas causa em tantos países».

Depois de se interrogar, certamente genuflectido e persignando-se continuamente, como é possível um Governo sensato cometer tais crimes, diz que a resposta é simples: «toda a gente sabe que ser contra a libertinagem sexual e a favor do casamento é conservador, retrógrado, obsoleto».

E termina de forma lapidar: «As gerações futuras (…) terão dificuldade em entender as posições actuais sobre a família», por causa da decadência social, «Tal como hoje não compreendemos que as barbaridades nazis e marxistas tenham parecidas modernas e progressivas aos nossos avós».

As atrocidades de Hitler ou Stalin, a que se refere o catecúmeno, tal como as cruzadas, a escravatura e a inquisição, terão algum dia parecido modernas e progressivas a alguém? Só mesmo as últimas e apenas à ICAR.

Bem-aventurados os pobres de espírito.

14 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Igreja católica – cúmplice do nazismo

Não sei o que leva os crentes inveterados que nos visitam a angustiarem-se com o apoio da ICAR ao nazismo ao arrepio do exemplo dos seus bispos e papas.

É curioso que nunca se tenham dado conta de que a Igreja católica, tão rápida a disparar excomunhões contra a ciência, nunca tenha excomungado o bem-amado Führer ou, para disfarçar, tivesse incluído «A minha luta» no Index Librorum Prohibitorum.

Para a ICAR o assassínio era o castigo justo dos judeus pelo mal que estes tinham feito ao seu Deus – Jesus Cristo. Não é por acaso que Pio IX os chamava «cães» e autorizava o rapto de crianças judias para baptizar. Era sinistro e chegou a beato pela mão de JP2.

Mas se a crueldade dos papas é óbvia, a estupidez é deveras surpreendente. Só o ódio vesgo de crápulas anti-semitas a pode justificar.

Vou traduzir alguns trechos do «Traité d?athéologie» de Michel Onfray, 2005 ? Ed. Grasset (pg. 221/22):

«Do nascimento do nacional-socialismo à cobertura dos criminosos de guerra do III Reich, depois da queda do regime, ao silêncio da Igreja desde sempre, e mesmo hoje – ver a impossibilidade de consultar os arquivos sobre este assunto no vaticano -, o património de S. Pedro, o herdeiro de Cristo, foi também o de Adolfo Hitler e dos seus nazis, fascistas franceses, colaboracionistas, vichystas, milicianos e outros criminosos de guerra.

Eis os factos: A ICAR aprova o rearmamento da Alemanha, indo contra o tratado de Versalhes (…); a ICAR assina uma concordata com Adolfo Hitler após a chegada do chanceler ao poder em 1933: a ICAR silencia o boicote aos comerciantes judeus, cala-se na proclamação das leis raciais de Nuremberga em 1935, guarda silêncio após a Noite de cristal em 1938; a ICAR fornece o seu ficheiro de arquivos genealógicos aos nazis que sabem a partir daí quem é cristão, portanto não judeu; a ICAR reivindica, no entanto, o «segredo pastoral» para não comunicar o nome dos judeus convertidos ao cristianismo ou casados com cônjuge cristão; a ICAR sustenta, defende, apoia o regime pró-nazi de Ante Palevic na Croácia; a ICAR dá a sua absolvição ao regime colaboracionista de Vichy a partir de 1940; a ICAR, ao corrente da empenhada política de exterminação desde 1942, não condena, nem em privado, nem em público, jamais ordena a algum padre ou bispo que condene o regime criminoso perante os fiéis.

As forças aliadas libertam a Europa e descobrem Auschwitz. Que faz o Vaticano? Continua a apoiar o regime derrotado: a ICAR, na pessoa do cardeal Bertram, ordena uma missa de Requiem à memória de Adolfo Hitler; a ICAR fica em silêncio e não manifesta reprovação pela descoberta de pilhas de ossos, câmaras de gás e campos de exterminação; A ICAR, pelo contrário, organiza para os nazis sem Führer o que nunca tinha feito por qualquer judeu ou vítima do nacional-socialismo: organiza a fuga dos criminosos de guerra para fora da Europa; a ICAR utiliza o Vaticano, dispensa papéis com vistos, activa uma rede de mosteiros europeus como esconderijos para assegurar a segurança dos dignitários do Reich desmoronado; a ICAR nomeia para a sua hierarquia pessoas que ocuparam funções importantes no regime hitleriano; a ICAR jamais lamentará – enquanto oficialmente não reconhecerá nada disso».

Isto são factos que merecem penitência e algum pudor na defesa da ICAR.