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Dia: 4 de Novembro, 2005

4 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

In illo tempore

Quando eu era criança, as almas penadas soíam visitar parentes e reclamar missas que podiam aliviar as penas e dar-lhes tranquilidade eterna. Os santos eram os habituais, sem novas adições que os milagres, as necessidades do mercado e o espírito supersticioso de JP2 haviam de criar.

Era o tempo em que Pio XII, após o conúbio com o nazi/fascismo, se afadigava a preparar a fuga de criminosos nazis para os poupar ao julgamento de Nuremberga.

Na paróquia onde eu vivia, rezava-se pelos «nossos governantes», cujo passado era pouco recomendável, pelo Santo Padre, que era pior, e execravam-se os judeus, que acabavam de ser vítimas de um genocídio, por terem matado Jesus.

A adesão da ICAR ao nazismo não foi um acidente de percurso ou o erro de um Papa particularmente reaccionário, foi o corolário da fé, um paradigma da religião que apoiou todas as ditaduras com excepção do comunismo.

É curioso recordar que o nazismo nunca foi excomungado, enquanto o comunismo, após a queda do muro de Berlim, viu reiterada a excomunhão. Hitler teve direito a missa solene e à compungida mágoa da igreja católica manifestada em todas as paróquias da Alemanha, por ordem expressa da ICAR, apesar do suicídio ser, para a Igreja, motivo de exclusão dos sacramentos.

4 de Novembro, 2005 Palmira Silva

Joseph Smith – I: o início da lenda

Começa hoje em Palmyra, New York, a conferência que celebra o bicentenário do nascimento de Joseph Smith, o fundador da versão do cristianismo que dá pelo nome de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Conhecidos em Portugal graças aos «Elders», os jovens mormons que, como parte integrante da sua fé, passam uns anos fora do seu Utah natal em quasi mandatórias tarefas de evangelização, tentando converter «gentios» para a verdadeira fé, os LDSs (ou SUDs, santos dos últimos dias, como devem ser conhecidos os fiéis dos disparates debitados por Smith) contabilizam cerca de 12 milhões em todo o mundo.

Neste data em que os LDSs celebram 200 anos sobre o nascimento do fundador da respectiva seita o Diário Ateísta não poderia deixar de dedicar umas linhas a tão devoto cristão e tão disparatada seita.

Nascido aos 23 de Dezembro de 1805 em Sharon, Vermont, numa família pouco dada a religiões organizadas mas prenhe de indíviduos atreitos a visões celestiais e comunicações pessoais do panteão celeste, Joseph Smith teve um início de vida algo atribulado, mercê da incapacidade familiar em assegurar proveitos para alimentar a prole.

De facto quando o profeta tinha cerca de 15 anos a família foi expulsa de Sharon, de acordo com algumas fontes por serem considerados vagabundos indesejáveis. A família estabelece-se então em Palmyra, na zona ocidental do estado de New York. Aparentemente a mudança não alterou significativamente as condições da família e os rendimentos familiares continuaram parcos até à súbita eclosão de capacidades paranormais no jovem rebento.

De acordo com algumas fontes a presciência de Smith com pedras «mágicas» surgiu durante a adolescência de Joseph em Palmyra quando um mágico itinerante, que pretendia localizar água e tesouros escondidos pelos indíos, ofereceu os seus préstimos nesta especialidade pela módica quantia de 3 dólares diários. As capacidades sobrenaturais do charlatão eram supostamente conferidas por pedras «mágicas» e fascinaram o jovem Smith. Quando os serviços oferecidos pelo «adivinho» se revelaram infrutíferos e este foi convidado a abandonar (rapidamente) a localidade já o jovem «profeta» dominava q.b. o hocus pocus indispensável à arte de bem enganar os incautos. Outras fontes indicam que essa arte foi uma herança paternal…

Independentemente da origem da aprendizagem é certo que um certo Josiah Stowell, impressionado com relatos da clarividência e artes mágicas do jovem, o convidou a deslocar-se para o outro lado do estado, para a propriedade de Isaac Hale em Susquehanna Valley, com o objectivo de Smith «adivinhar» o paradeiro de um tesouro supostamente aí escondido pelos espanhóis.

Como assalariados de Stowel e Hale, pai e filho deslocaram-se para a quinta do segundo onde, como «adivinhado» por outro perscrutador de cristais «mágicos», e de acordo com o contrato firmado com os dois crédulos empregadores, os Smith deveriam encontrar uma «mina valiosa de ouro ou prata e também … moeda cunhada e barras ou lingotes de ouro ou prata» (Salt Lake Tribune, 23 Apr. 1880). O presciente adivinho procedia ao seu «trabalho» enterrando a cara num chapéu contendo as indispensáveis pedras «mágicas» e adivinhando localizações para o precioso tesouro; a parte menial de escavação cabia a uma equipa de esperançosos e crédulos caçadores de tesouros. Infelizmente Smith não conseguiu localizar o tesouro devido, segundo ele, a um «encantamento» lançado sobre o tesouro, tão poderoso que nem a magia de Smith o conseguia quebrar, e Smith, que se tinha apaixonado pela filha de Hale, Emma, caiu em desgraça aos olhos do decepcionado futuro sogro.

Na Primavera de 1826, alguns caçadores de tesouros desiludidos acusaram Smith de «conduta desordeira» e de ser um «impostor». Este foi julgado e considerado culpado de ambas as acusações num tribunal de Bainbridge, New York com a ajuda de Hale que se incluía nas testemunhas de acusação. Não existem registos da pena imposta ao jovem charlatão mas sabe-se que em Janeiro de 1927 Joseph Jr conseguiu subtrair Emma das mãos do recalcitrante Hale e fugir com ela.