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Dia: 9 de Outubro, 2005

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Parabéns!


Malalai Joya, a jovem delegada afegã da província Farah, perto da fronteira com o Irão, que fez furor há dois anos quando criticou duramente os líderes jihadi afegãos durante uma sessão do Loya Jirga (o Parlamento local) constitucional, foi eleita pela sua província natal nas eleições do passado dia 18 de Setembro. Os resultados oficiais das eleições só são esperados no final deste mês mas a eleição de Malalai está garantida.

Malalai, que inquiriu o Loya Jirga em Dezembro de 2003 porque razão tinham escolhido como líderes da comissão constitucional «aqueles criminosos que trouxeram tragédia ao povo afegão» e foi vaiada pelos delegados taliban que exigiram a sua expulsão, foi obrigada a fazer campanha eleitoral sob apertadas medidas de segurança já que foi alvo de ameaças de morte por parte dos fundamentalistas islâmicos.

A sua eleição, com uma votação expressiva tendo alcançado o segundo melhor resultado da sua província, é uma nota de esperança nestes tempos tão conturbados por fundamentalismos religiosos sortidos.

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Cientologia

Anne Hidalgo, a primeira adjunta do presidente da Câmara de Paris, liderou uma manifestação de protesto dirigida à delegação parisiense da Igreja da Cientologia, afirmando que o seu gesto pretende alertar os pais sobre o perigo que estas organizações representam para crianças e adolescentes.

Hidalgo, que previamente tinha bloqueado a iniciativa de nomear Tom Cruise um cidadão honorário de Paris, devido exactamente à sua professa devoção ao culto, considera que «Nós temos um dever de dizer a verdade. Estes movimentos são perigosos e devemos explicar porque são perigosos. Nós sabemos na idade em que o carácter é formado, especialmente durante a adolescência, se pode cair nas mãos destes movimentos. O problema é que não se sai sem cicatrizes».

Bem, não são precisas muitas explicações para perceber que a Cientologia é simplesmente uma forma imbecil e descarada de explorar os desgraçados que lhes caem nas mãos. Aliás, existem folhetos disponíveis na Internet desmascarando este esquema mirabolante de fazer dinheiro. Suponho que até mesmo o mais crédulo cidadão que acredite nas histórias iniciais da dianética se previamente informado sobre Xenu começe a suspeitar da sanidade mental de um interlocutor que o queira proselitar «dianeticamente»!

E quem é então Xenu, a pedra basilar da Cientologia? Como é explicado no folheto, era uma vez (75 milhões de anos atrás, para ser mais preciso) um comandante extraterrestre chamado Xenu. Xenu dirigia todos os planetas nesta parte da galáxia incluindo a Terra, à data dando pelo nome de «teegeeack». Mas Xenu tinha um problema. Todos os 78 planetas que ele controlava eram superpovoados. Cada planeta tinha em média 178 biliões de pessoas. Para resolver o problema da superpopulação, com ajuda de psiquiatras (daí o destempero ao vivo de Tom Cruise e o seu ódio à psiquiatria) e sob o pretexto de uma inspecção fiscal, administrou a biliões de cidadãos injecções paralisantes de uma mistura de álcool e glicol.

Os desgraçados considerados supérfluos foram enviados para a Terra em aviões em tudo análogos a DC8s com motores de foguetes em vez de hélices. Uma vez na Terra foram despejados dentro de vulcões e liquidados com bombas-H.

Mas esta história não termina aqui. Já que todos têm uma alma (chamada «thetan» nesta historia), para evitar que as almas voltassem, Xenu arranjou armadilhas electrónicas especiais que capturavam as almas em feixes electrónicos.

Depois de capturar todas as almas Xenu empacotou-as em caixas e levou-as para enormes cinemas para sessões contínuas de filmes especiais 3D, que entre outras coisas, mostravam falsas figuras, intituladas Deus, Diabo e Cristo. Na historia cientologista o processo chama-se «implante». Quando o processamento terminou, as almas saíram do cinema e invadiram aos milhares os poucos vivos que sobreviveram à limpeza demográfica de Xenu.

Quanto a Xenu, finalmente foi derrotado por Oficiais Leais e desterrado para o interior de uma montanha num dos planetas, onde ainda hoje permanece vivo confinado por campos de força alimentados por uma bateria eterna.

Assim, quem quiser ser uma «alma livre» terá necessariamente que remover todos esses «thetans» insidiosos que o infestam e pagar muito dinheiro aos únicos capazes de o fazer: a Cientologia, claro. E a única razão pela qual as pessoas acreditam em Deus ou Jesus Cristo reside nas sessões cinematográficas a que os «thetans» que os habitam foram sujeitos há 75 milhões de anos.

Suponho que ninguém com conhecimento prévio desta história absolutamente imbecil se deixará enredar nas teias da Cientologia!

Um artigo fantástico sobre a cientologia publicado na edição da Time de 6 de Maio de 1991.

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Guerras da evolução II

As guerras da evolução continuam acesas nos Estados Unidos. Nesta altura os olhos dos fundamentalistas cristãos estão focados na pequena cidade de Harrisburg, Pensilvânia, onde decorre desde 26 de Setembro mais um julgamento IDiota. Neste caso, contrariamente ao que se passou no Kansas, não é a evolução que está em julgamento mas sim a decisão unilateral do Conselho Escolar de Doverde introduzir o Desenho Inteligente nos curricula de ciência. Decisão que conta com a oposição dos professores locais de ciências que, como seria de esperar, consideram que a IDiotia não é ciência. Os queixosos, que incluem as associações laicas American Civil Liberties Union e Americans United for the Separation of Church and State, asseveram que a IDiotia é apenas um cavalo de Tróia que pretende de facto promover a religião e criacionismo cristãos nas escolas públicas de Dover, em clara violação da Constituição americana.

Até agora os testemunhos são demolidores para os fanáticos cristãos! Não só foi testemunhado que o Conselho escolar discutiu Deus, religião e criacionismo antes da alteração em Outubro de 2004 do curriculum de biologia que prevê o ensino da IDiotia como, tal como já tinha sido referido no Diário Ateísta, foi confirmado que o livro recomendado no novo curriculum, supostamente IDiota, «Of Pandas and People», é de facto originalmente um livro criacionista puro e duro em que o termo criacionismo foi substituido por IDiotia, em que Deus foi substituído pelo tal misterioso «designer» e foram cortadas as passagens bíblicas originais.

Deveras interessante foi o testemunho de John Haught, um professor de teologia na Universidade de Georgetown, chamado a depôr para esclarecer as diferenças filosóficas entre ciência e religião, já que a tarefa (impossível) do advogado de defesa do Conselho Escolar, Richard Thompson, é argumentar que a IDiotia é ciência e não religião. O testemunho foi completamente contraproducente para o efeito até porque algumas perguntas de Thompson foram autênticos tiros no pé. Nomeadamente o argumento de que Deus poderia ter feito o genoma dos homens e macacos parecer semelhante e, como tal, o conceito de que estamos relacionados por um ancestral comum é «mera conjectura»! Ou seja, a pergunta de Thompson estabeleceu claramente a diferença entre uma teoria genuinamente científica (fundamentada em factos) e uma explicação religiosa (essa sim mera conjectura sem qualquer suporte experimental).

Se a vida evoluiu segundo uma padrão hierárquico em que novas espécies derivam de espécies já existentes preservando variabilidade genética, então deveremos encontrar os mesmos padrões a nível genético em espécies próximas nesta hierarquia. Se o homem e o chimpazé partilham um ancestral comum devem apresentar genomas semelhantes, como apresentam de facto. Se recuarmos na cadeia ancestral (usando as árvores filogenéticas propostas por dados anatómicos, genéticos e fósseis) devemos encontrar genomas cada vez mais diferentes à medida que recuamos na árvore da evolução, uma vez que os genomas tiveram mais tempo para divergir e acumular diferenças. E é exactamente o que encontramos. A teoria da evolução é consistente com todos os dados disponíveis e é portanto falsificável. O ancestral comum para o homem e o macaco caíria por terra se a análise genética das espécies não o corroborasse. A IDiotia teria exactamente a mesma resposta se, por acaso, os genomas do homem e do chimpazé fossem radicalmente diferentes: os desígnios insondáveis de Deus«designer»! Desígnios que são «corroborados» por quaisquer dados e os seus opostos já que são insondáveis (aka não falsificáveis)… isto é, assentes em lucubrações/conjecturas teológicas e não em ciência, aliás são a antítese da ciência!

Para os nossos leitores que se questionarão sobre o tempo aparentemente inusitado que devotamos à IDiotia criacionista, considerada por muitos uma idiossincrasia norte-americana, recordamos que não só na velha Europa já foram tentadas manobras de introdução das IDiotias nos curricula de ciências como em Portugal, supostamente um estado laico, o criacionismo é parte integrante da anti-constitucional disciplina de Moral e Religião. Ou seja, os nossos jovens desde tenra idade são expostos e encorajados nas escolas públicas a pensamento anti-científico, acéfalo e acrítico. Apresentado como tal mesmo por alguns membros da hierarquia da Igreja Católica…É uma questão de interesse nacional que seja abolida esta disciplina das escolas públicas ou, pelo menos, que seja garantido que os nossos jovens não são contaminados com criacionismos apresentados como «verdades absolutas», que dificultam e muitas impedem o desenvolvimento da tão necessária capacidade de raciocínio lógico, crítico e científico!

A ser discutido o criacionismo cristão em salas de aulas públicas que o seja em conjunto com outros mitos da Criação nas disciplinas apropriadas: História ou Filosofia. Assim os nossos jovens aperceber-se-ão claramente da diferença entre realidade factual e ficção mitológica!